Opondo-se à prosa, o verso é a forma literária que obedece a normas de métrica, ritmo e rima. A simples apresentação dos textos em verso, ou poemas, permite sua imediata identificação. Cada linha de um poema é um verso e cada bloco de versos forma uma estrofe. De uma maneira mais específica, podemos definir verso como uma sílaba ou sucessão de sílabas sujeitas a medida e a ritmo pré-estabelecidos. Por medida, entende-se um determinado número de sílabas métricas ou poéticas, e por ritmo, o resultado de uma distribuição cadenciada e harmonia de acentos intensivos (também chamados acentos tônicos) no verso, de tal forma que a sensação rítmica se percebe pelo retorno da sílaba tônica, após intervalos regulares.
Em alguns poemas, percebemos versos regulares quanto à metrificação ( estudo da medida dos versos), isto é, todos os versos apresentam um mesmo número de sílabas poéticas. Essa medição de um verso é feita a partir de sílabas, ou seja, de emissões sonoras. Para que se possa proceder à metrificação de um poema é necessário fazer a escansão de seus versos, ou seja, a contagem das sílabas métricas que compõem os versos de um determinado poema.
A contagem de sílabas métricas não é semelhante à contagem de sílabas normais. Isso porque uma vogal átona do fim de uma palavra que se encontre com outra vogal pode a ela unir-se, constituindo o que chamamos de elisão. Difere-se, também, pelo fato de serem desconsideradas todas as sílabas que, na última palavra do verso, aparecem após a sílaba tônica.
Enfunando os papos (verso original)
En – fu – nan – do – os – pa – pos (divisão silábica normal)
1---- 2---- 3--- 4--- 5---- 6---- 7
En – fu – nan – dos – pa – pos ( sílaba desconsiderada)
1---- 2----3---- 4-- --5 (sílabas métricas)
No verso apresentado, ocorre elisão entre as vogais (em do + os). A sílaba que ocorre após a tônica, na última palavra do verso(papos), foi desconsiderada para fins de contagem. O mesmo tipo de eliminação da última sílaba acontecerá em todos os outros versos da estrofe:
Enfunando os papos,
Saem da penumbra, (cinco sílabas métricas /redondilha menor)
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
(Manuel Bandeira)
Obs.:
Redondilha menor e maior são versos com, respectivamente, cinco e sete sílabas.As redondilhas produzem um ritmo circular, bastante usado nas trovas populares. Alguns poetas utilizaram e utilizam essa métrica, obtendo interessantes efeitos sonoros. Gonçalves Dias, por exemplo, poeta romântico brasileiro, explorou as redondilhas para obter os mais variados efeitos. Abaixo, fragmento de ´´I-Juca Pirama``, escrito em redondilhas menores:
´´Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.``
Agora, observamos o ritmo cadenciado da ´´Canção do exílio``, escrito em redondilhas maiores :
´´Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.``
Na contagem de sílabas poéticas, as palavras estão ligadas umas às outras mais intimamente, é o que confere ao texto o ritmo e a melodia próprios dos versos.
Os versos que não obedecem a uma regularidade métrica são chamados versos livres.
Para atender à métrica:
´´Que/ pó/ de /dar/ sau / da/de/ à /sa / u/ da/ de``
-----------------(ditongo)-------- (hiato)
Neste verso de Camões, a mesma palavra – saudade – aparece duas vezes.Na primeira com o encontro au em ditongo, na segunda em hiato. A licença poética permite a expansão ( transformação de ditongos em hiatos), tecnicamente chamada diérese e a contração(transformação de hiatos em ditongos), tecnicamente chamada sinérese, dos versos. A sinalefa e a crase ou elisão constituem duas formas de contração de versos tendo em vista a sua homogeneidade métrica
Dependendo do número de silabas métricas em determinado verso, podemos atribuir-lhes nomes, conforme os exemplos abaixo:
Redondilha maior ou heptasssílabo: sete sílabas
´´An /tes/ de a/ mar /eu /di /zi /a``
--1--2-- 3--- 4--- 5-- 6-- 7
Dodecassílabo ou alexandrino: 12 sílabas
´´Re/ boa/ vas / ao/ tro/ pel/ dos/ ín/ dios/ e / das/ fe/ ras``
--1 -- 2--- 3-- 4- - 5-- 6-- 7-- 8-- 9-- 10 - 11- 12
Um verso de dez sílabas chama-se decassílabo ( muito comum em sonetos e presente em Os Lusíadas de Luís de Camões; instituiu-se a chamada medida nova). Existem três tipos , cuja classificação se dá em função do seu ritmo:
Decassílabo sáfico – Tem pausas nas 4.ª, 8.ª e 10.ª sílabas:
´´ Ca/ da um/ de/ nós/ faz / su/ a/ pró/ pria / len/ da``
---1 --- 2 --- 3-- 4--- 5-- 6- 7-- 8-- 9--- 10
Decassílabo imperfeito – Tem pausas na 4.ª e 10.ª sílabas:
´´Cou/be u/ma/ lâm/ pa/ da a/ ma/ ra/ vi/ lho/sa``
--1 -- 2 ---3-- 4 -- 5 -- 6--- 7 -- 8- 9--10
Decassílabo épico ou heróico – Suas pausas são na 6.ª e 10.ª sílabas:
´´As/ ar/mas/ e os/ ba/ rões/ as /si /n a /la /dos``
--1-- 2-- 3-- 4--- 5-- 6--- 7-- 8--9 -10
Os demais metros também recebem o nome referente ao número de sílabas que os constituem:
Monossílabo : 1 sílaba
Dissílabo : 2 sílabas
Trissílabo : 3 sílabas
Tetrassílabo: 4 sílabas
Pentassílabo ou Redondilha Menor: 5 sílabas
Hexassílabo: 6 sílabas
Octossílabo: 8 sílabas
Eneassílabo: 9 sílabas
Hendecassílabo: 11 sílabas
Barbaro: 12 ou mais sílabas poéticas
Versos isométricos
A poesia clássica elaborava preferencialmente poemas com versos isométricos, isto é, com a mesma medida. Por exemplo, a epopéia camoniana foi construída toda ela com versos decassílabos.
Versos heterométricos
A poesia moderna por ser revolucionária, vanguardística, substituiu o verso metrificado pelo verso livre, isto é, livre de qualquer forma de fôrma pré-estabelecida, não tendo nem regularidade métrica nem rima. Alguns poemas de autores modernos podem valer-se de versos metrificados e com rimas, mas sem preocupação com uma determinada regularidade. São os versos heterométricos, metrificados mas com grande variação.
Boa explicação.
ResponderExcluirObrigada!
explico bem valew por me ajuda no meu trabalho fera
ResponderExcluirGostei muito do teu blogue. Precisava exatamente disso para o meu exame. Nas fontes a informação é mais erudita, para pessoas que se ocupam com esses assuntos e meu nível como estudante ainda não é tão alto.
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