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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Quinhentismo brasileiro

Logo após a descoberta do Brasil, em pleno Renascimento europeu, o país passou por um período de reconhecimento. Algumas expedições foram enviadas ao continente americano no sentido de travar os primeiros contatos com seus habitantes e de explorar a terra recém-descoberta. Mais tarde, trinta anos após o descobrimento, é que a metrópole, procurando garantir o seu domínio sobre a terra, passou a enviar expedições que tinham como propósito a colonização. Não se considera, pois, a produção literária do Quinhentismo no Brasil como brasileira; afinal, foram jesuítas europeus e viajantes portugueses os primeiros a produzir textos em solo americano.


A literatura é feita no Brasil, fala do Brasil, mas reflete a visão de mundo, as ambições, as intenções do homem europeu, particularmente do ibérico, que manifesta duas preocupações distintas e, apesar do aparente antagonismo, complementares: de um lado, a preocupação com a conquista material resultante da política das Grandes navegações; de outro, a preocupação com a conquista espiritual, a necessidade de ampliar a fé cristã, resultante do movimento religioso da Contra-Reforma.


Assim, no Brasil-Colônia do século XVI as manifestações literárias significativas ficam por conta das crônicas e das cartas e tratados de viagens, os quais informam aos governantes portugueses tudo sobre a nova terra – a literatura informativa – e da poesia e do teatro que, cultivados pelos jesuítas, tinham a finalidade de influenciar na catequese dos índios – a literatura jesuítica. Destacam-se no período a carta de Pero Vaz de Caminha e a produção de José de Anchieta.


A produção de Anchieta no Brasil quinhentista está impregnada de idéias religiosas e conceitos morais e pedagógicos. Tanto seus poemas quanto suas peças teatrais, revelando características de uma tradição medieval, mostram a sua total indiferença em relação às idéias antropocêntricas cultivadas pelo renascimento.


Não há cousa segura.
Tudo quanto se vê
se vai passando.
A vida não tem dura.
O bem se vai gastando.
Toda criatura
passa voando.

Em Deus, meu criador,
está todo meu bem
e esperança
meu gosto e meu amor
e bem-aventurança.
Quem serve a tal Senhor
não faz mudança.

..............................................

(Em Deus, meu criador, José de Anchieta)


Nesse fragmento, Anchieta utiliza uma linguagem simples, refletindo, basicamente, o conteúdo religioso a ser transmitido, deixando transparecer a visão medieval de que todas as coisas do mundo dependem de Deus. Os versos não têm métrica regular, mas são curtos ( seis, quatro, cinco sílabas métricas); há rima e as duas estrofes têm o mesmo número de versos.


A primeira estrofe do poema retrata a rapidez das mudanças, fruto da ação avassaladora do tempo, perante a instabilidade e a insegurança da vida humana.


Já na segunda estrofe, Anchieta demonstra que a estabilidade do crente é realizada através da vida em Deus(única coisa que pode trazer segurança e felicidade).


Em suma: só resta ao ser humano a esperança do encontro com Deus. É nele que o homem pode alcançar a plenitude da vida eterna. A vida é apenas insegurança e instabilidade, mas Deus é constância.


As manifestações literárias desse período vão estimular, sem dúvida, nossa produção futura.O interesse pelos índios, pela natureza e por nossas raízes históricas servirá de motivo para alguns de nossos melhores escritores.


Oswald de Andrade, por exemplo, em dialogo com esse período informativo da literatura, surpreende-nos com sua visão moderna da carta de Pero Vaz de Caminha.


Pero Vaz de Caminha


a descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra

os selvagens

Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam pôr a mão
E depois a tomaram como espantados

primeiro chá

Depois de dançarem
Diego Dias
Fez o salto real

as meninas da gare

Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha


(Oswald de Andrade)


Oswald de Andrade retoma, ironicamente, a Carta de Caminha. Ao deslocar fragmentos da Carta, reescrevendo-os em versos, Oswald chama a atenção para aspectos literários não-relevantes no contexto original de produção. Oswald ressalta as imagens poéticas utilizadas por Caminha para descrever o Brasil, imagens estas provavelmente não calculadas pelo cronista ao escrevê-las, uma vez que sua intenção era meramente informativa.Porém, fora de contexto, às imagens ganham um tom de ironia e crítica, pois o Brasil do início do século XX não era mais um paraíso intocável , marcado pela ingenuidade.


´´Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha.``


(Carta de Pero Vaz de Caminha)


Observe, por exemplo, a passagem das índias nuas em Caminha, transformadas no fragmento ´´As meninas da gare``, que faz uma referência às prostitutas que freqüentam as estações ferroviárias.



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