BUSCANDO A CRISTO
A vós correndo vou, braços sagrados,
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa p´ra chamar-me.
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa p´ra chamar-me.
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
Vocabulário
Sacrossanto: sagrado e santo
Cravado: pregado
Eclipsado: encoberto
Verter: derramar
Ungir-me: abençoar-me
Patente: acessível, claro, aberto
Cravos: pregos usados na crucificação
Comentários sobre o poema
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A estrutura formal desse soneto (uma composição de forma fixa, com 14 versos, dispostos em 4 estrofes, constituídas, segundo o modelo petrarquiano, de 2 quartetos e 2 tercetos. Os versos são decassílabos heróicos de esquema rítmico 10(6-10). As rimas são do tipo ABBA, ABBA, CDC e DCD.
Gregório de Matos atribui um sentido simbólico ao corpo crucificado de Cristo, vendo nele o abrigo ou a proteção que sua alma deseja. Se, de um lado, o corpo pregado na cruz transmite impressão de grande sofrimento, por outro, é esse mesmo sentimento que dará ao poeta o perdão e a salvação, pois Cristo sofreu para salvar o ser humano, o seu sangue tem sentido resgatador. Ao descrever o corpo de Cristo, o poeta revela-nos a dimensão espiritual do sofrimento físico.
Observamos, nesse soneto, a manifestação de uma característica típica do estilo barroco: o uso de situações ambivalentes, que possibilitam dupla interpretação. Assim, os braços de Cristo são apresentados como abertos e cravados; seus olhos estão despertos e fechados, seus pés pregados e imóveis reforçam a ideia de grande sofrimento ao mesmo tempo em que sugerem que Cristo não sairá de perto do pecador (não o abandonará). O sangue vertido na cruz também adquire um determinado valor, pois é através desse líquido sagrado que o pecador será salvo. A cabeça baixa, caracterizando o fim das forças de Cristo e a sua morte física, é vista como uma atitude de amor: um gesto afirmativo para a salvação, libertando-o de todos os pecados.
No último terceto, o desejo de união espiritual com Cristo é representado pela consagração de união física(´´Para ficar unido, atado e firme.``), um exemplo claro de fusionismo, ou seja, da manifestação do desejo humano de unir-se a Deus.
A base do soneto é construída a partir de um sistema de metonímias que vão relacionando as partes de Cristo ("braços", "olhos", "pés", "sangue", "cabeça"), substituindo todo o Cristo crucificado. O culto ao contraste, percebido através dos versos 7 e 8 (´´perdoar-me`` e ´´condenar-me``),constitui uma das principais características do estilo barroco: a antítese (marcada pela oposição de ideias).
Os versos 5, 9, 10, 11, 12 e 13 constroem-se com a omissão da locução verbal "correndo vou” (apresentado na 1ª estrofe- v.1), procedimento estilístico denominado zeugma (= elipse de uma palavra ou expressão próxima no contexto; termo que já apareceu antes). Outro recurso empregado são as anáforas (repetição de palavra(s) no início de dois ou mais versos): “a vós” (v. 5, 9, 10, 11, 12, 13) e "e por não" (v. 4 e 8).
Percebemos, também, a presença do hipérbato (consiste na inversão da ordem direta dos termos da oração): "A vós correndo vou, braços sagrados / Nessa Cruz sacrossanta descobertos”. A linguagem do poema é ornamentada através da hipérbole(exagero de uma ideia com finalidade expressiva) marcando a subjetividade do poeta face a visão de mundo.
O que mais sobressai, em toda obra sacra de Gregório, é seu senso de pecado, a constatação da fragilidade humana, o temor diante da morte e a condenação eterna. Em termos autobiográficos, essa faceta de pecador arrependido aparece nas poesias de Gregório já na fase final de sua vida, quando se encontrava mais próximo da morte, porque, em sua mocidade, fizera várias composições desafiando o poder divino.
esse é muito firmeza!!!!!!!
ResponderExcluirvaleu!!!!!!!!!!!!!!
vlw aee galera me ajudou muitoo !
ResponderExcluirMuito boa a análise ;)
ResponderExcluirótimaa! valeu.
ResponderExcluirNossa, estou muito satisfeita com essa análise.
ResponderExcluirEu estou na 1ª série do ensino médio e precisava fazer análise deste texto, muito obrigada!
Muito Obrigada a análise me ajudou muito !!
ResponderExcluirNossa, você me ajudou muito cara, ia ter muito trabalho pra achar isso nas minhas apostilas... vlw!
ResponderExcluirMuito obrigada ! Boa análise!
ResponderExcluiracho que poderia dizer mais sobre a disseminação e recolha, e mostrar o paralelismo no poema.
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