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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Consoada - Manuel Bandeira

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

Vocabulário
Consoada: refeição noturna
Coroável: carinhosa, amável
Iniludível: a quem não pode iludir
Sotilégios: mistérios

Acompanhar a trajetória de Manuel Bandeira é ter oportunidade de contato com etapas realmente significativas da evolução poética do século XX. Sempre pensando que morreria cedo, por causa de sua pouca saúde, acabou vivendo muito e legando uma das mais densas heranças humanísticas da nossa literatura. Seu primeiro livro, A cinza das horas, de 1917, evidencia traços parnasianos e simbolistas, e revela a marca registrada de toda a sua poesia futura: sentimentalismo mesclado de amargura.

“A vida é amarga. O amor, um pobre gozo...
Hás de amar e sofrer incompreendido,
Triste lírio franzino, inquieto, ansioso,
Frágil e dolorido...”

Carnaval (obra que marca o início da libertação das formas fixas), de 1919, inaugura sua entrada no movimento modernista (do qual foi chamado "O São João Batista do Modernismo" por Mário de Andrade). Mas ele nunca participou ativamente do grupo paulista, apesar de ter enviado um poema para a Semana de Arte Moderna: Os Sapos (um dos mais vaiados pelo público que compareceu ao Teatro Municipal de São Paulo, declamado por Ronald de Carvalho).

"Pouco me deve o movimento; o que eu devo a ele é enorme. Não só por intermédio dele vim a tomar conhecimento da arte de vanguarda na Europa ( da literatura e também das artes plásticas e da música), como me vi sempre estimulado pela aura de simpatia que me vinha do grupo paulista. " (Manuel Bandeira, Itinerário de Pasárgada.)


Em Ritmo dissoluto (1924), os poemas de Bandeira associam grande maturidade técnica e um lirismo impregnado de descobertas do cotidiano, poeticamente transfiguradas.

Muitos críticos consideram que seu ponto alto como modernista se dá no livro Libertinagem(1930), quando desenvolve plenamente a renovação: a fuga do “belo” tradicional em poesia, a incorporação da linguagem coloquial e popular(a temática do dia-a-dia, com poemas tirados de notícias de jornal, de frases corriqueiras, orientados, como os demais, por tom irônico e, às vezes, trágico) a evocação da infância e a morte, sempre presente, velha confidente. Esses elementos prosseguirão em Estrela da manhã (1936) e estarão presentes nas obras seguintes.

Retomando certos motivos já explorados por poetas românticos (a saudade, a infância, a solidão) e procurando estreitar os laços entre poesia e cultura popular, Manuel Bandeira mantém, de fato, alguns pontos de contato com o Romantismo, mas é um poeta essencialmente modernista. Jamais cai, por exemplo, num sentimentalismo piegas ao lembrar-se da infância: uma fonte inesgotável de emoção poética. A infância que evoca é uma experiência vivida e concreta, não idealizada, que, contrastada com o presente, acentua-lhe a condição trágica.

A solidão, que levava os poetas ultrarromânticos a buscarem na morte a saída para os problemas da existência, em Manuel Bandeira toma outra direção – a da paixão do poeta pela vida:

“O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que adoro em ti, é a vida.”

É inegável que a convivência com a possibilidade de morrer colocada desde cedo diante do poeta (Bandeira tinha apenas 17 anos quando descobriu a doença e, naquela época, a tuberculose era uma doença com poucas chances de cura) imprimiram a sua poesia uma capacidade única de captar as emoções do cotidiano. Desenganado várias vezes pelos médicos, foi impedido de continuar os estudos na área de engenharia, em função das muitas viagens que teve que fazer para tratamento(casas de saúde situadas em estações climáticas do Brasil e da Europa).

“Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!”



Mesmo morrendo após os 80 anos, a moléstia fez com que Manuel Bandeira convivesse continuamente com a morte (muitas vezes com angústia e uma espécie de resignação, mas algumas vezes com ironia e irreverência ) e se voltasse mais para dentro de si mesmo, deixando que isso transbordasse em muitos de seus versos. Ele sempre acreditou que morreria cedo e que não teria tempo para construir uma vida familiar e profissional. Refugiava-se, então, nas lembranças do passado, diante da imaginada impossibilidade do futuro.

Comentários sobre o poema

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Consoada é uma pequena ceia noturna; pode também significar “ceia de Natal” e, em português mais antigo, “presente de Natal”. É para essa ceia que o eu lírico espera a morte, através de um eufemismo (“a indesejada das gentes”), que pode chegar dura ou “coroável” ( a palavra vem de “caro” e que dizer “amigável, favorável”, até mesmo “querida”). Essa atitude diante da Morte(Alô, iniludível!) não é de medo ou pessimismo. É como se ele a recebesse para um jantar, a fim de compartilhar com ela uma refeição amistosa, sem nada de trágico ou doloroso.

Tal disposição, aparentemente contraditória, de coragem e descaso, é traduzida por outros recursos estilísticos (pois o texto é predominantemente metafórico), como por exemplo:

No uso da antítese (“não sei se dura ou coroável”, “o meu dia foi bom, a noite pode descer”) e o uso do subjuntivo e da palavra talvez, indicando o clima constante de dúvida (“talvez eu tenha medo” — repare que todos os termos, aqui, foram empregados em seu sentido próprio,denotativo).

Mas, surpreendentemente, este clima de incerteza é logo desfeito: as metáforas dos últimos versos(a mesa e as particularidades da casa, por exemplo, são metáforas das “coisas da vida”) deixam perceber que o eu lírico está pronto para a morte, já que sua vida foi adequadamente cumprida.

A simplicidade da linguagem é impressionante; a intensidade lírica também (o encontro com a morte é tranquilo, transmitindo-nos forte sensação de completude, de satisfação com a própria existência). Conclui-se que a atitude do eu lírico diante da morte é de quem espera uma visita certa, íntima, amiga e por isso digna de fraterna recepção.


16 comentários:

  1. Hello my dear! :) it's wonderful to know that you write from Rio! It must be a beautiful place! Why don't you tell me something about it sometimes? ^_^
    Oh, your post is really interesting as usual! I didn't know this poem... and i REALLY love poems! ^^

    Wishing you a happy weekend! :) Kisses!

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  2. Beautifully simplistic in form but of great depth. Thank you for sharing!

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  3. Tudo bem, Nelson?

    Afff, estou feliz com sua chegada em meu espaço, com palavras tão carinhosas, e espantada com essa rezenha, está perfeita!!!

    Fiquei! *)

    Tuas reflexões são demais.
    Alegra-me a oportunidade de conhecer um espaço tão organizado e apaixonante como o seu.

    PS: Abandonei no 3° ano a Biomedicina, e iniciarei este ano o curso de Letras com ênfase em Inglês. Curti muito saber sua profissão, rs.

    Bom ano 12! Bom fim de semana!

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  4. Nelson da minha cidade Talavera de la Reina-ESPANHA-Espero que este ano de 2012, para lhe trazer os maus momentos, muitas esperanças, por cada dia deste novo ano, um IIusión. E em todos os momentos e sempre acompanhado por seus entes queridos, muita felicidade.

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  5. Hola, gracias por visitar mi blog. Aunque es un estilo diferente a tuyo el cual debo decir que es muy bueno
    El poema este rico de detalle que usted facilita, me ha gustado el (Vocabulario) interesante conocer la vida literaria de grandes escritores
    Abrazo

    Así querría yo mi último poema:
    que fuese tierno diciendo las cosas más sencillas y menos intencionales,
    que fuese ardiente como un sollozo sin lágrimas,
    que tuviese la belleza de las flores casi sin perfume,
    la pureza de la llama en que se consumen los diamantes más límpidos,
    la pasión de los suicidas que se matan sin explicación.

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  6. sempre achei a linguagem de Manuel Bandeira muito cultural! queria escrever assim tambem..rs meu modo de escrever é mais simplório e objetivo.

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  7. Greetings Nelson,
    I trust that all is well with you as we embark on the new year.

    I was struck by imagery associated with Manual Bandeira's poetry and the depth of feeling, paradoxical themes and the constant battle to stave off the effects of a life threatening illness. The starkness of the long road with trees that have shed their leaves or have died as that lone figure is captured in the distance. How lonely this poet must have been for many aren't receptive to associating with one who is facing despair on a daily basis. Afraid to be hopeful, yet, recognizing the beauty of the verse in the midst of his pain. It culminated in an acceptance of his fate and making peace with an event (we all must face eventually) that I feel he's been quite ambivalent about.
    I hope this translates well.

    Take care and peace....
    Carolyn Moon
    Nashville, Tn.

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  8. Hola Nelson! es interensantisimo venir a leer un rato a tu espacio.
    Interesante y placentero.

    Un abrazo querido amigo!

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  9. Hola Nelson, quiero darte un saludito y desearte que el 2012 este lleno de muchisimas cosas lindas para ti,
    Es un gusto disfrutar tus lecturas!, ahora se que puedo usar el traductor,
    Gracias por tu lindo mensaje
    Un fuerte abrazo

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  10. Maravilhoso o seu blog, parabéns pela densidade de falar sobre literatura

    Meu blog também é literario, uma literatura mais contemporanea, se quiser conhecer...:

    http://www.pequenosdeleites.com.br

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  11. Caro Nelson, estou absolutamente encantada!
    Vim aqui te conhecer e retribuir a visita, e encontro uma verdadeira aula de literatura e cultura! Estou extasiada! Quanto tempo não lia sobre Castro Alves? E meus amados Quintana e Manoel Bandeira?... As letras alimentam a alma, o coração e os nossos sentimentos! Têm o poder de nos transportar no tempo ou fora dele?
    Adorei! Vou te "perseguir"! rs
    Abraço, Telma

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  12. excelente su blog, es una fuente de sabiduria, me quedo en el, gracias por visitarme y tenga por seguro que aqui estare,saludos

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  13. A grandeza se encontra no que é aparentemente paradoxal, na morte se encontra o homem em sua ânsia o verdadeiro sentido da vida. É como o fechar da porta , que estar aberta e a mesma estar a ladrar como um cão esperando entrar descobrir o sentido da duvida .

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  14. Que belo, agradável, oportuno e necessário...encontro (ei).
    grata pela leitura

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  15. gosto muito muito desse poema
    não posso dizer que é meu preferido do Manuel, pois ainda não li todos
    mas certamente uma obra prima
    parabéns pelo blog

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