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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Mãos Dadas - Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Vocabulário
Caduco: velho, antigo, obsoleto.
Serafim: anjo de primeira classe.
Taciturno: sério, calado, tristonho.

No início da década de 30 aparece um grupo de poetas que por várias razões – e por caminhos diversos – prosseguiram o trabalho dos primeiros modernistas, especialmente o de Mário e Oswald de Andrade e Manuel Bandeira. Mas durante certo tempo ambas as gerações – a de 22 e a de 30 – marcharam contemporânea e paralelamente. Não se trata, portanto, de uma sucessão brusca. O que não se pode negar é que a maioria dos poetas de 30 absorveria parte da experiência dos de 22: a liberdade temática, o gosto da expressão atualizada ou inventiva, o verso livre, o antiacademicismo.

Algumas dessas coisas vinham como que no ar: estavam disseminadas no clima agitador de dez anos. Outras vieram por filiação direta, respeitosa e admiradora: é o caso, por exemplo, do humor quase piadístico e conciso que Drummond de Andrade receberia de Mário e Oswald de Andrade. Já Vinícius de Morais, Cecília Meireles, Jorge de Lima e Murilo Mendes trariam certo espiritualismo católico que vinha do primeiro livro de Mário, Há uma gota de sangue em cada poema (1917). Manuel Bandeira foi a grande voz da poesia brasileira dos dois períodos. Foi de certa forma um elo e um parâmetro de qualidade, embora seu estilo não fosse imitado significativamente pela segunda geração modernista. O que é, então, que a geração poética de 30 traria de novidade? A resposta a esta pergunta é essencial, porque distingue na raiz a diferença. A geração de 22 teve de romper com o academicismo e fazer algo diferente ou inédito. Preocupou-se em criar uma nova instrumentação de linguagem e estilo (verso livre, experimentação de novas harmonias, introdução do prosaico etc.).

Os poetas da geração de 30 incorporaram essa expressão poética e enriqueceram-na com uma nova postura temática: a preocupação com o destino do homem. Questiona-se o poder, a fé, as relações humanas e o estar no mundo. Há a busca da emoção e do sentimento e a recuperação do lirismo que se perdeu no caótico mundo capitalista. É um momento em que tudo que diz respeito ao homem é questionado:

´´(...) O decênio de 30 é marcado, no mundo inteiro, por um recrudescimento da luta ideológica: Fascismo, Nazismo, Comunismo, Socialismo e Liberalismo medem suas forças em disputa ativa: os imperialismos se expandem, o capitalismo monopolista se consolida e, em contraparte, as Frentes Populares se organizam para enfrentá-lo. No Brasil, é a fase de crescimento do Partido Comunista, de organização da Aliança Nacional Libertadora, da Ação Integralista, de Getúlio e seu populismo, trabalhista. A consciência da luta de classes, embora de forma confusa, penetra em todos os lugares, na literatura inclusive, e com uma profundidade que vai causar transformações importantes``.
( Nelson Werneck Sodré, História da Literatura Brasileira).

Considera-se como marco inicial dessa segunda fase poética o livro Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade (1930), que viria a se tornar o nosso mais importante poeta de todos os tempos. A obra de Carlos Drummond de Andrade representa o melhor dos múltiplos caminhos da moderna poesia brasileira: do poema-piada como Cota zero ao poema social e político de Mãos dadas, da lírica existencial de Confidência do itabirano ao épico-filosófico de Amar, de textos discursivos como em Os ombros suportam o mundo aos textos elípticos e condensados. Nela percebemos a constante procura de novos meios expressivos, movida pelo sentimento do mundo, seja no próprio título de uma das coletâneas (Sentimento do Mundo), seja numa complexa temática que poderíamos considerar oscilante entre dois pólos: a inquietação pessoal e social.

Fruto da inquietação com o seu eu poético é a constância com que seu próprio nome aparece em seus poemas. Note-se que Carlos Drummond de Andrade não fala de si no tom espontâneo com que o faz Manuel Bandeira, por exemplo; seu tom é recatado, seco, constrangido. No plano social, o mundo é uma constante em sua obra, fazendo parte do nome de diversos poemas e da temática de inúmeros outros. Também constantes são os poemas em que o poeta questiona a própria poesia, bem como a função dela no mundo – o que seria uma fusão de inquietação pessoal e social. Independentemente da temática, a poesia de Carlos Drummond de Andrade revela sempre uma grande elaboração formal. A maioria das composições é em versos livres ou irregulares; algumas das ultimas revestem-se de características formais semelhantes às da poesia concreta. Trata-se de uma produção cuja busca nunca cessa. Além da criação de uma poesia de alta qualidade, Drummond conseguiu conquistar significativo público para a poética modernista: ao morrer, em 1987, aos 85 anos, apesar de seu retraimento e seu jeito avesso à publicidade, era muito conhecido, dentro e fora do Brasil, uma espécie de personificação – não-institucional, não-acadêmica – do poeta e da poesia.

Carlos Drummond de Andrade, em uma das entrevistas que concedeu à rádio PRA-2 (do Ministério da Educação e Cultura) declarou:

´´ O que há de mais importante na literatura, sabe? É a aproximação, a comunhão que ela estabelece entre os seres humanos, mesmo à distância, mesmo entre mortos e vivos. O tempo não conta para isso. Somos contemporâneos de Shakespeare e de Virgílio. Somos amigos pessoais deles. Se alguém perto de mim falar mal de Verlaine, eu o defendo imediatamente; todas as misérias de sua vida são resgatadas pela música de seus versos. Como defenderia um amigo pessoal. Um dia, a pintora Maria Teresa Vieira me disse uma coisa linda: que tem inúmeros amantes noturnos, de Van Gogh a Fernando Pessoa. O maior prêmio de Estocolmo ou dos Estados Unidos não vale o telegrama de amor que alguém desconhecido, e que não conheceremos nunca, nos manda lá do Pará porque leu uma coisa nossa e ficou comovido e rendido. O telegrama não é para nós, é para a nossa vaidade. É uma voz do coração e do espírito, solta no ar, que atinge e repercute em nós. Dito assim, fica meio grandiloquente, mas não sei dizer melhor, você entenderá. Quem já sentiu isso compreende sem explicação. Funciona. É. E constitui uma das grandes alegrias da vida. Palavra, música, arte de todas as formas: essas coisas têm sua magia. Ai de quem não a sente``.

A poesia de Drummond tem realmente essa ´´magia``: comunica-nos, em linguagem vigorosa, perplexidades, angústias, emoções, inquietudes, desassossegos de nossa época. É uma poesia essencialmente perturbadora na sua linguagem e no seu conteúdo: incomoda-nos, faz-nos indagar sobre nossa existência e sobre o mundo em que vivemos.

Comentários sobre o poema

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Esse poema ( Mãos Dadas) faz parte do livro Sentimento do mundo, publicado em 1940. Perceba que esse título ´´Sentimento do mundo`` é ambíguo, pois pode indicar o sentimento que o mundo desperta no indivíduo e também todo o imenso conjunto de sentimentos que o mundo (na verdade, os homens que o habitam) carrega consigo e experimenta diariamente. Em outras palavras: o que sentimos enquanto indivíduos e aquilo que a vida social nos faz sentir. Segundo o crítico Paulo Rónai, ele ´´revela a perplexidade ante os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial``. Fala da necessidade da união, da solidariedade para a superação dos problemas (´´a enorme realidade``). Nesse sentido, pode-se dizer que a ação proposta pelo poeta é uma resposta à situação aflitiva provocada pela guerra. Não devemos esquecer também que, aqui no Brasil, em função da implantação do Estado Novo por Getúlio Vargas (1937) havia um clima de opressão e medo. Mais uma razão para entender o caráter engajado do poeta, que pretende ´´ cantar a vida presente, o tempo presente``.

O texto não apresenta versos com o mesmo número de sílabas (versos irregulares, também chamados versos livres, típico do Modernismo). Metrificando alguns versos, observamos como o esquema rítmico é variado nas 2 estrofes (uma com 7 e outra com 6 versos):
Verso 1: 12 (3-6-9-12);
Verso 3: 11 (5-8-11);
Verso 8: 14 (3-6-10-14);
Verso 13: 5 (2-5).
Não há rimas consoantes, apenas toantes (vogais) externas e internas, como por exemplo:
Versos 1,2 e 4: mUndo; cadUco; futUro; tacitUrnos;
Versos 3 e 6: companhEiros; afastEmos;
Versos 8, 9,10 e 11: verbos no futuro (início do verso) – EI;
Versos 9,10 e 11: suspIros; vIsta; suicIda; serafIns.

Os versos da 1.ª estrofe indicam o anseio do eu lírico de que sua poesia se aproxime dos homens ( estão taciturnos por uma ´´complexidade`` que impõe silêncio)e ajude a transformar a vida presente. Recusa-se a fugir da realidade para o passado (cantar um ´´mundo caduco``, isto é, um mundo ultrapassado, sem sentido e sem perspectiva) e sonhar com o futuro. Seus olhos atentos estão voltados para o momento presente e vêem, como regra primeira para uma possível transformação da realidade, o trabalho coletivo, em oposição ao individualismo: ´´ Não nos afastemos muito,vamos de mãos dadas`` ( verso que expressa claramente o desejo de solidarizar-se com os homens e não de isolar-se).É a proposta de captar a essência de sua época, selando, com isso um compromisso com seu tempo: conclamar a união entre as pessoas e o enfrentamento consciente dos problemas.


Os 4 primeiros versos da 2.ª estrofe são marcados pela negação. Analisando-os, podemos dizer que o eu lírico, em um determinado tom irônico, esclarece o que seria uma poesia alienada, recusando-se a fazê-la. Os versos 8 e 9 correspondem à recusa em relação ao lirismo amoroso, a poesia de circunstância, a melancolia (frequentes na poesia romântica) e a poesia simplesmente descritiva ( frequentes na poesia parnasiana). Esta alusão significa que tais temas estão superados e se distanciam do momento presente. Os versos 10 e 11 correspondem à recusa de pregar a morte como solução para os tempos difíceis (suicídio) e a fuga pelo imaginário (escapismo, desejo de evasão). Só o real existe e é estupidamente errado. Nem por isso valeria a pena fugir dele, entupir-se de alguma crença, sonhar demais, cair em qualquer mitologia. É a definição de um eu lírico de ação, integrado com o presente e que faz da poesia uma ferramenta de luta para a construção de um mundo melhor. A repetição do adjetivo ´´presente`` nos dois últimos versos enfatiza a ideia, desenvolvida desde o início do poema, de cantar o momento em que se vive, o presente, o ´´aqui e agora``.

A poesia de Drummond produzida nesta fase prende-se à análise da realidade social e política do seu tempo. Essa análise remete sempre ao questionamento do mundo fragmentado e caótico criado pelo próprio homem. Diante dessa situação, a poesia não pode alienar-se. Transforma-se sobretudo em proposta de um fazer poético engajado numa realidade para a qual só existe uma solução: a solidariedade.

29 comentários:

  1. Muito interessante a poesia de Drummond e a explicação!
    Já estou seguindo o blog!

    Abraços!

    http://vivereler.blogspot.com/

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  2. Hola...una belleza de blog. Te felicito

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  3. Thank you for introducing me to these intriguing poets. My Brazilian literature only extends to Jorge Amado but I'm eager to learn more.

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  4. Ola..Eu amo o Brasil..!!! Saudações da Grécia..:)

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  5. Escelente articulo. Te deseo un bonito Fin de semana saludos desde Miami

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  6. As this Sunday encloses... a new journey is about to begin...may you embark
    on this new path with happiness brightening your days & night...laughter & smile
    filling your air...rest & peace @ night cradling you to sleep...care & love as companion...
    have a great Sunday evening my friend take care ;)

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  7. Excellent article, Nelson...
    Have a great week ahead :)

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  8. Gracias Nelson, desde Tenerife Canarias, ya tienes un seguidor mas de este lado del Atlàntico.
    http://tecnologamilitar.blogspot.com/

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  9. hola nelson me ha gustao tu blog es interesante lo que explicas saludos desde españa besitoss

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  10. He traducido el texto. Muy interesante y completo analisis acerca de la poesia, sus autores y su conexión con la conducta humana.

    Un saludo :)
    -------------------------------------
    Eu traduzi o texto. Análise muito interessante e abrangente sobre a poesia, seus autores e sua ligação com o comportamento humano.

    Saudações:)

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  11. Eu traduzi o texto. Análise muito interessante e abrangente sobre a poesia, seus autores e sua ligação com o comportamento humano.

    Saudações:)

    He traducido el texto. Muy interesante y completo analisis acerca de la poesia, sus autores y su conexión con la conducta humana.

    Un saludo :)

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  12. Adorei sua página!!! Parabéns!!!
    Abraços. GRA

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  13. Nelson, que ótimo ter postado esse poema nesses dias de desesperança. Não estamos em guerra, mas vivemos em batalhas que se sucedem a cada dia. Como iria amar ter consoco Drummond para escrever, pelo menos mais um poema; um que falasse sobre tudo o que vem acontecendo.
    "Não nos afastemos, vamos de mãos dadas"... Creio que ele ainda diria aos desesperançados que não se deixaria entorpecer nem mandaria cartas suicidas.
    Ao tempo presente, ao homem presente, à vida presente, restam ainda os grandes autores, a literatura e a poesia.
    Este Blog é lindo demais!!!!
    Regina Gaiotto
    reginagaiotto.blogspot.com.br

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  14. De mãos dadas neste mundo caduco, não nos afastemos, não, vamos de mãos dadas...
    O momento presente nos desencanta, mas "não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas..." Fugir ou deixar tudo como está?
    "O tempo presente, os homens presentes, a vida presente..." eles sim precisam de esperança e solidariedade.
    Há a desesperança, mas Drummond não evoca a estagnação, faz do tempo sua matéria e não se propõe a cantar apenas uma mulher ou uma história; por isto a paisagem se alarga, vista da janela. Alargam-se outras possibilidades, outras visões de mundo. Vivendo o momento presente sem se deixar levar por quimeras, conclama seu eu lírico de ação, com disse você.

    Cada vez gosto mais do blog e de suas escolhas poéticas. Aprendo muito com suas interpretações.
    Regina Gaiotto
    reginagaiotto.blogspot.com.br

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  15. the blue of the velvet sky...
    the warm white of the foaming clouds...
    the soft greens of the playing trees...
    the serene orange of the rising dawn & dusk...
    sprinkle with the cradling ocean waves & breeze...
    My crafted wish to color the new week ahead...
    wish you a fabulous Sunday afternoon Nel take care my friend ;)

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  16. This is a beautiful blog. My daughter is a published poet and would love this. I will advise her of my find. :-)

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  17. Vivir no tempo e co tempo é a mesma realidade da vida.
    O teu blog transmite sabedoría.

    Foi un pracer coñecelo.

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  18. Came here again, Nel.
    Have a great weekend :)

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  19. Ciao, molto interessante il tuo blog, mi sono unita ai tuoi "convide seus amigos".
    Buona giornata.

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  20. Obrigada Nelson por nos ajudar a apreender Drummond. Abraço.

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  21. amei sua página parabéns!! um abraço fika com DEUS

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  22. Amei seu blog! Parabéns por cuidar da nossa literatura com tanto afinco.
    Abraços...

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  23. I love the reality of your writing and the information you share with your readers. It's absolutely wonderful. The respect you have for the writers of the past/present is so great. Thank you!

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