Merci d'etre parmis nous*Thank you for being among us* Gracias por estar entre nosotros*Obrigado por estar entre nós* Grazie per essere in mezzo a noi* Danke, dass Sie bei uns* Спасибо за то, что среди нас*Terima kasih kerana menjadi antara kita*私たちの間にいてくれてありがとう* شكرا لك لأنك بيننا

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Análise: poesia lírico-amorosa ( Gregório de Matos)



Quis o poeta embarcar-se para a cidade e antecipando a notícia à sua senhora, lhe viu umas derretidas mostras de sentimento em verdadeiras lágrimas de amor.

Ardor em coração firme nascido!
Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo convertido!

Tu, que um peito abrasas escondido,
Tu, que em um rosto corres desatado,
Quando fogo em cristais aprisionado,
Quando cristal em chamas derretido.

Se és fogo como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai! que andou Amor em ti prudente.

Pois para temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu, parecesse a chama fria.

Vocabulário:
Porfia: insistência, perseverança, obstinação.

O texto apresentado é um soneto lírico de Gregório de Matos. Os versos, quanto ao número de sílabas, são decassílabos heróicos (sendo o primeiro verso decassílabo sáfico) e o esquema rimático obedece a seguinte formação: ABBA ABBA (rimas intercaladas nos quartetos) CDC DCD (rimas alternadas nos tercetos).

Para receber o conteúdo completo (análise do poema), entre em contato através do e-mail:
literaturacomentadablog@gmail.com
Obs: Este Blog não possui patrocinadores. Contribua para mantê-lo atualizado.



Atividades propostas

1) Quais são os dois elementos da natureza que  se opõem e representam as contradições que o sentimento amoroso desperta no eu lírico?

a) O que cada um deles simboliza no poema?
b) Nas duas primeiras estrofes, quais são as imagens e metáforas utilizadas pelo eu lírico para fazer referência a esses elementos?

2) Releia.

“Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:”

a) Qual é a figura de linguagem que indica a tensão entre os opostos? Explique.
b) Há outros exemplos dessa figura no poema? Quais?
c) O Barroco apresenta não apenas o confronto dos opostos, mas também sua fusão ou aproximação. Como ela pode ser observada nos versos transcritos?

3) Quem é o interlocutor a que o eu lírico se refere na segunda e na terceira estrofe?

a) Como ele é caracterizado?
b)Qual é o questionamento feito pelo eu lírico nesses versos?

4) No soneto, vemos a habilidade de Gregório de Matos em trabalhar a linguagem para conciliar os opostos. Releia os versos a seguir, observando os trechos destacados em negrito e em itálico.

“Se és fogo, como passa brandamente,
Se és neve, como queimas com porfia?”
“Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.”

a) No início do poema, o eu lírico apresenta a oposição entre o calor e o frio, o fogo e a água, a paixão e a contenção (ou refreamento).  Explique de que maneira os dois primeiros versos transcritos acima encaminham a fusão que ocorrerá entre esses elementos opostos no fim do poema.

b)As expressões destacadas nos dois últimos versos são paradoxos, construídos a partir da oposição dos mesmos elementos: frio x calor; fogo x neve. Elas encerram o mesmo sentido? Por quê?

c) Considerando que a neve simboliza a prudência/o controle e o fogo, a paixão, qual o significado no contexto do poema, das expressões “neve ardente” e “chama fria”?

5) O eu lírico afirma que o Amor “temperou” sua tirania. De que maneira isso foi feito? Por quê?






Neste poema está mais evidente a presença da contradição do sentimento amoroso para os poetas barrocos. O eu lírico aqui contrapõe principalmente dois elementos extremamente contraditórios por sua própria natureza, o fogo e o gelo, para falar do que sente pelo ser amado.

O poema se inicia mostrando a causa e o efeito de um conflito. Na primeira estrofe, o poeta caracteriza seus sentimentos. O sofrimento é nitidamente evidenciado ao colocar como sinônimo de amor ardor (fogo, paixão impetuosidade) e pranto( derramamento, fragilidade, tristeza). A causa – ´´ardor`` – nasce em firme coração, lugar seguro, impenetrável pela observação. No segundo verso, o efeito se exterioriza: ´´ Pranto por belos olhos derramados``. O exagero sentimental nesses dois primeiros versos se faz com a utilização da hipérbole.

Os dois versos que se seguem têm as palavras iniciais ´´incêndio``, que retoma ´´ardor``, e rio, que retoma pranto, e apresentam um jogo de oposições que revelam as contradições de um dado sentimento – uma relação interna de contrários denominada paradoxo: ´´Incêndio em mares de água disfarçado!``(que constitui também uma metáfora de lágrimas) e ´´Rio de neve em fogo convertido!``

Simetricamente aos dois primeiros versos do poema decorrem os dois primeiros versos do segundo quarteto. A causa é sempre oculta e vem expressa no adjetivo ´´escondido`` (v.5) e o efeito vara o círculo da contenção interna para um caráter externo.O efeito concreto de uma causa oculta seria ´´em um rosto corres desatado.``

Os últimos versos do segundo quarteto condensam as ideias anteriormente expressas, repetindo o jogo de oposições: fogo, em cristais aprisionado; cristal, em chama derretido. No seu conjunto estes dois quartetos podem ser vistos como uma espécie de descrição de um sentimento contraditório. O poeta sente e descreve o que sente.

Os dois primeiros versos do primeiro terceto se abrem, significativamente, com uma condição Se és fogo (v.9) e Se és neve (v.10) e se fecham por um questionamento: ´´como passas brandamente?`` e ´´como queimas com porfia?``. Podemos dizer que o poeta passa a investigaras as contradições provocadas pelo sentimento amoroso. Ao questionar a contradição extrema que há entre estes dois versos, o eu lírico aproxima os elementos que se fundirão em uma única expressão.

O poeta conclui o soneto apresentando a razão da natureza contraditória do sentimento que o domina. A prudência, que para suavizar, ou melhor, disfarçar a tirania do Amor: ´´quis que aqui fosse a neve ardente, Permitiu, parecesse a chama fria``( um sentimento contido contra a paixão que ameaçava dominá-lo).

Embora sejam construídas a partir da oposição dos mesmos elementos, temos uma inversão na posição de cada um deles: ´´neve ardente``, em que o primeiro elemento refere-se ao frio e o segundo ao calor, em ´´chama fria``, temos primeiro a referência ao calor e depois ao frio. Ambos são paradoxos que encaminham a fusão completa entre os opostos.
A bipolaridade é uma técnica barroca: tomam-se dois elementos, complementares ou contrários, que vão sendo comentados até trazerem uma conclusão: o amor é comparado ao mesmo tempo ao fogo e à água. O fogo – retomado como ´´ardor, incêndio, abrasar, chamas, queimar, temperar, ardente`` – é contraposto, em cada verso, à água – retomada como ´´pranto, derramar, mares, rio, neve, lágrimas, fria``.
Gregório de Matos percebe o mundo principalmente através dos sentidos: o ardor é uma sensação térmica, assim como o fogo; a água e a neve também dão ideia de temperatura, embora oponham-se pelo tato (uma é líquida, a outra é sólida); o pranto e o mar, elementos que pelo tato percebemos serem líquidos e que pelo paladar percebemos serem salgados, opõem-se a rio e neve, que são insípidos. O processo de percepção sensorial e afetiva do universo é bastante comum na literatura barroca e recebe o nome de cultismo.

5 comentários:

  1. Olá.
    Seu blog tem o perfil Teia e certamente merece ser publicado,parabéns pela qualidade .
    Já está na Teia ,passa lá pra ver .
    Té mais

    ResponderExcluir
  2. Adorei o blog (:
    Parabéns pela análise tão perfeita do soneto.

    ResponderExcluir
  3. Este texto foi de grande ajuda! Tinha que estudar este soneto para um seminário. Sou aluna do curso de Letras- Ling. E lit. portuguesa,
    Grata.

    ResponderExcluir
  4. Muito obrigada!! Isso irá me ajudar muito no vestibular do ano que vem!! (:

    ResponderExcluir