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quinta-feira, 9 de julho de 2020

Cinco Horas - Mário de Sá-Carneiro

Cinco Horas - Poema de Mário de Sá-Carneiro


Minha mesa no Café,
Quero-lhe tanto... A garrida
Toda de pedra brunida
Que linda e fresca é!

Um sifão verde no meio
E, ao seu lado, a fosforeira
Diante ao meu copo cheio
Duma bebida ligeira.

(Eu bani sempre os licores
Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais.)

Sobre ela posso escrever
Os meu versos prateados,
Com estranheza dos criados
Que me olham sem perceber...

Sobre ela descanso os braços
Numa atitude alheada,
Buscando pelo ar os traços
Da minha vida passada.

Ou acendendo cigarros,
— Pois há um ano que fumo —
Imaginário presumo
Os meus enredos bizarros.

(E se acaso em minha frente
Uma linda mulher brilha,
O fumo da cigarrilha
Vai beijá-la, claramente)

Um novo freguês que entra
É novo actor no tablado,
Que o meu olhar fatigado
Nele outro enredo concentra.

É o carmim daquela boca
Que ao fundo descubro, triste,
Na minha idéia persiste
E nunca mais se desloca.

Cinge tais futilidades
A minha recordação,
E destes vislumbres são
As minhas maiores saudades...

(Que história de Oiro tão bela
Na minha vida abortou:
Eu fui herói de novela
Que autor nenhum empregou...)

Nos cafés espero a vida
Que nunca vem ter comigo:
— Não me faz nenhum castigo,
Que o tempo passa em corrida.

Passar tempo é o meu fito,
Ideal que só me resta:
Pra mim não há melhor festa,
Nem mais nada acho bonito.

— Cafés da minha preguiça,
Sois hoje — que galardão! —
Todo o meu campo de acção
E toda minha cobiça.


Mário de Sá-Carneiro (Lisboa, 1890 — Paris, 1916)

Estudou em Paris, onde se matriculou na Faculdade de Direito. Foi muito amigo de Fernando Pessoa e com este fundou a revista Orpheu (1915). Espírito neurótico, profundamente sensível, suicidou-se  em um dos quartos do Hotel Nice, na França. Poderia ter produzido mais. O que deixou dá a dimensão de um dos grandes poetas da literatura de Portugal.

 Considerações gerais

Sua poesia contém as inovações formais do futurismo, porém mescladas harmoniosamente com o clima terno das velhas redondilhas lusitanas, à maneira dos poemas de "saudade", sentimento tão fundamental na cultura portuguesa. Mário de Sá-Carneiro não tem o impulso intelectual que caracteriza a inteligência de seu colega Fernando Pessoa, mas nem por isso deixa de ser um poeta de magnífica autoconsciência, especialmente autoconsciência carregada de certo humor triste, de quem se perdeu dentro de si mesmo. Na prosa, mais precisamente nos contos, Mário de Sá-Carneiro cria situações de absurdo com a identidade dos personagens, aproximando-se bastante da representação surrealista de investigação mágica do mundo.

Obras

Poesia: Dispersão (1912), Indícios de Ouro (1937, publicação póstuma);
Novelas: Princípio (1912), A Confissão de Lúcio (1914), Céu em Fogo (1915),
Teatro: A Amizade (1912);
Correspondência: Carta a Fernando Pessoa (1958-59, publicação póstuma).

Atividade proposta

1) 

Aponte o aspecto mais evidente do modernismo que constatamos ao longo do poema. Em outros termos, que aspecto temático é obviamente uma novidade modernista, dentro do poema?

2)  

Partamos da hipótese de que o poema lido tenha traços passadistas, além de modernistas. Quais seriam esses traços e a que outra escola literária estariam vinculados?







Figuras de linguagem utilizadas no Barroco

35 Figuras de Linguagem: o guia COMPLETO com as principais figuras

Quando se utiliza de maneira não-convencional a linguagem, explorando-se os aspectos conotativos das palavras e novas maneiras de construir frases, estão sendo criadas as figuras de linguagem, também chamadas figuras de estilo.

De seus dentes pálidos surgiu, enfim, um sorriso.
A característica "pálidos"atribuída a "dentes" pode sugerir dentes amarelados ou sorriso triste, tímido, ou ambas as ideias.

"O mar passa saborosamente
A língua na areia." (Duardo Dusek)
O "mar"é personificado, tem características de seres vivos.
Na personificação do "mar", "língua" é usada em lugar de onda.

"Meu pinho toca forte 
Que é pra todo mundo acordar." (Chico Buarque de Holanda)
A palavra "pinho" é usada no lugar de violão.

"Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco." (Gonçalves Dias)
Construção com os termos da frase na ordem inversa:
A flor do tamarindo abriu-se há pouco. 
Obs.: na ordem direta, teríamos: “Há pouco a flor do tamarindo abriu-se.”

Em suma: Figuras de linguagem são certos recursos não-convencionais que o emissor cria para dar maior expressividade a sua mensagem.
Obs.: Esses recursos de linguagem acabam por caracterizar o estilo do escritor ou so falante que os emprega com frequencia.


A linguagem figurada ocorre quando se quer dar expressividade à mensagem através de:

☻ recursos semânticos, isto é, trabalhando a palavra do ponto de vista DE SEU SIGNIFICADO.
A encomenda precisa ser entregue rapidamente. Vá voando levá-la (Vá o mais rápido que puder!)

☻  recursos fonéticos, destacando os sons das palavras.
Falar em progresso urbano é sentir o ruído da britadeira trepidando na minha cabeça e na rua.
(A repetição dos sons representados pela letra "r" sugere o ruído constante dos grandes centros urbanos.)

☻ recursos sintáticos, trabalhando a construção da frase.
"No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!" (Olavo Bilac)
(A repetição do conectivo "e" intensifica a ideia de dedicação ao trabalho.)

Em função dessas ocorrências, há figuras semânticas, figuras fonéticas e figuras sintáticas.

Definição e exemplos das figuras de linguagem usadas no Barroco

Todo o trabalho literário do Barroco estava centrado no uso elaborado dos recursos da língua. Para produzir imagens inesperadas e conciliar os opostos, os autores do período exploravam os jogos de palavras e várias figuras de linguagem, entre as quais estão:

Metáfora

É o emprego de um termo com significado de outro em vista de uma relação de semelhança entre ambos. É uma comparação subentendida (um termo adquire o sentido de outro por afinidade de característica).

“Seus dois sóis me contemplavam”, “As rugas da terra.”: trata-se de aproximações de ordem subjetiva em que o sentido original está transmutado, guardando suas características principais em ordem simbólica. No caso do primeiro, “sóis” é uma metáfora para olhos, e a característica que os aproxima é o formato circular e o brilho intenso.

Oh! Que saudades que tenho/Da aurora da minha vida. (Casimiro de Abreu)
O autor compara “aurora” ao início da vida dele.

Estas altas árvores/ são umas harpas verdes com cordas de chuva/ que tange o vento. (Cecília Meireles)
Ocorre uma comparação mental entre as árvores e o instrumento musical. As duas produzem sons.

Outros exemplos: 
"O Brasil é novo, é um país pivete." (Abel Silva)

"Tinha a alma dos sonhos povoada." (Olavo Bilac)

"Não sei que nuvem trago no meu peito
Que tudo quanto vejo me entristece..." (Alexandre de Gusmão)


Comparação

É a aproximação de dois termos entre os quais existe alguma relação de semelhança, como na metáfora. A comparação, porém, é feita por meio de um conectivo e busca realçar determinada qualidade do primeiro termo.

"A minha filha é como um anjo". Este exemplo expressa a comparação feita por uma mãe, elogiando algumas características que tornam a sua filha parecida com um anjo.

"Os olhos dela eram como o sol". Nesse sentido, usa-se a palavra "olhos" em analogia ao "sol" para dizer que a pessoa em questão tem olhos belos.

"E há poeta que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como carpinteiro nas tábuas!..." (Alberto Caeiro)

A chuva caia como lágrimas de um céu entristecido.

Observação:
A comparação assemelha-se à metáfora, que não é mais que uma comparação não assumida, para acentuar a identidade poética entre as duas entidades comparadas.

Lendo a expressão "Os teus olhos são como lagos gélidos" existe uma comparação explícita denotada pelo conectivo "como" (ou outro elemento comparativo: feito, tal qual, que nem, igual a,…). Contudo, se dissermos, "Os teus olhos são lagos gélidos", passamos a ter uma metáfora que passa a estabelecer uma relação de identidade poética em vez da mais prosaica comparação que mantém os dois objetos em universos distintos.

Metáfora: Aquele atleta é um touro.
Comparação: Aquele atleta é forte como um touro.



Hipérbole

Hipérbole é uma figura de linguagem caracterizada pelo exagero. A palavra tem origem do termo grego “hiperbolé”, que é resultado da junção de duas palavras “hiper” (além/ por cima/ sobre/ por cima/ além) + “bole” (lançar/ atirar), que traduzindo ficaria algo como “atirar para cima” ou “lançar além”, que também representa o sentido de “excesso” ou “exagero”.A hipérbole geralmente é utilizada para ressaltar algo, para dar ênfase ou para conferir ao texto uma maior expressividade. 

Romperam-se enfim as cataratas do céu
(Padre Antônio Vieira) 

“Rios te correrão dos olhos, se chorares (…)” (Olavo Bilac)

“Queria querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses” (Caetano Veloso)

“Pela lente do amor
Vejo tudo crescer
Vejo a vida mil vezes melhor”. (Gilberto Gil)


Prosopopeia (personificação)

Prosopopeia (ou personificação) significa atribuir a seres inanimados (sem vida) características de seres animados ou atribuir características humanas a seres irracionais.


Prosopopeia é uma figura de linguagem usada para tornar mais dramática a comunicação. 

Encontramos exemplos de prosopopeia nos três versos abaixo:

“O mar passa saborosamente a língua na areia

Que bem debochada, cínica que é

Permite deleitada esses abusos do mar”

O trecho, retirado da canção Folia no Matagal, de Eduardo Dusek, encontramos alguns exemplos de prosopopeia. O mar, ser inanimado, passa a língua na areia de maneira saborosa. O mar não tem língua, não pode passá-la de maneira saborosa em lugar algum. A areia, por sua vez, também inanimada, não pode ser debochada, cínica ou estar deleitada. Todas essas são características humanas.

La fora, no jardim que o luar acaricia, um repuxo apunhala a alma da solidão.” (Olegário Mariano) 

Hoje a cobiça assentou-se no lugar da equidade.” (Alexandre Herculano)

"Ah! Cidade maliciosa
De olhos de ressaca
Que das índias guardou vontade de
Andar nua." (Ferreira Gullar)



Antítese

Figura que consiste no emprego de termos com sentidos opostos, que contrastam entre si. A antítese parece, com justiça, encarnar melhor que qualquer outra figura de linguagem o espírito divido do homem barroco, que se vê sempre em dúvida diante de duas direções opostas: o aproveitar a vida e o medo da morte e da danação; a privação da vida e a inexistência de Deus; o predomínio da razão em detrimento da fé, etc.

"Tristeza não tem fim.
Felicidade sim..." (Vinícius de Moraes)

“Sou teu céu e teu inferno, a tua calma.
Sou teu tudo, sou teu nada
… Eu sou o teu mundo, sou teu poder”. (Paula Fernandes)


“O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)

“Que vai, pisando a terra e olhando o céu.” (Vinicius de Moraes)

“A vida é mesmo assim/Dia e noite, não e sim.” (Lulu Santos e Nelson Motta)


"Nasce o sol, e não dura mais que um dia
Depois da luz se segue a noite escura
Em tristes sonhos morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria."

(À instabilidade das cousas do mundo – Gregório de Matos)

Observação: Nesse exemplo, o poeta barroco utiliza pares de termos com sentidos opostos: “dia” e “noite”, “luz” e “escura”, “tristezas” e “alegria”.


 Paradoxo

É uma figura de linguagem caracterizada pela associação de conceitos contraditórios na representação de uma só ideia. Embora esses conceitos contraditórios possam parecer ilógicos, acabam formando uma unidade semântica aceitável, passível de ser real.

Enquanto figura de linguagem, é um recurso utilizado na linguagem oral e escrita que aumenta a expressividade da mensagem, representando o ilógico, o absurdo, o impossível e a falta de nexo. É um recurso muito útil para expressar ironia e sarcasmo.

“Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer”.
(Camões)

Nestes versos, percebe-se que o poeta constrói o sentido do Amor-ideia, amor universal, filosofando a respeito do amor, não falando de seus sentimentos pessoais. Para isso, ele se apropria de elementos que, apesar de se excluírem mutuamente, se fundem num mesmo referente, constituindo afirmações aparentemente sem lógica.

Outros exemplos:

“Sendo a sua liberdade/Era a sua escravidão.” (Vinicius de Moraes)
“Estou cego e vejo./Arranco os olhos e vejo.” (Carlos Drummond de Andrade)

"Já estou cheio de me sentir vazio." (Renato Russo)

“Se você quiser me prender,/vai ter que saber me soltar.” (Caetano Veloso)

"Sendo a sua liberdade/Era a sua escravidão. (Vinicius de Moraes)

"Bastou ouvir o teu silêncio para chorar de saudades." (Reinaldo Dias)


"Eu fujo ou não sei não, mas é tão duro este infinito espaço ultra fechado." (Carlos Drummond de Andrade)


Antítese e paradoxo: qual é a diferença?

Embora sejam figuras de pensamento baseadas na oposição, o paradoxo e a antítese se distinguem .

O paradoxo emprega ideias opostas, da mesma maneira que a antítese, entretanto, essa contradição ocorre entre o mesmo referente do discurso.

Para entender melhor essa diferença veja os exemplos abaixo:

Dormir e acordar está difícil. (antítese)
Estou dormindo acordado. (paradoxo)

Note que ambos os exemplos utilizam os opostos “dormir” e “acordar”. Entretanto, o paradoxo propõe uma ideia, supostamente absurda, mas que faz sentido, pois enquanto dormimos não podemos estar acordados.


Nesse caso, a união dos termos contrários gerou um significado metafórico coerente à expressão “dormir acordado”. O enunciado significa que a pessoa está acordada, entretanto, com muito sono.

Outros exemplos:

"De repente do riso fez-se o pranto." (Vinícius de Moraes)

"Onde queres bandido sou herói." (Caetano Veloso)


"É proibido proibir." (Caetano Veloso)











quinta-feira, 2 de julho de 2020

Sermão da Sexagésima (fragmento) - Pe. Antônio Vieira




“Fazer pouco fruto a palavra de Deus no mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. 

Para uma alma se converter por meio de um sermão, há-de haver três concursos: há-de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há-de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há-de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?” 

"Primeiramente, por parte de Deus, não falta nem pode faltar. Esta proposição é de fé, definida no Concílio Tridentino, e no nosso Evangelho a temos. Do trigo que deitou á terra o semeador, uma parte se logrou e três se perderam. E porque se perderam estas três? A primeira perdeu-se, porque a afogaram os espinhos; a segunda, porque a secaram as pedras; a terceira, porque a pisaram os homens e a comeram as aves. Isto é o que diz Cristo; mas notai o que não diz. Não diz que parte alguma daquele trigo se perdesse por causa do sol ou da chuva. A causa por que ordinariamente se perdem as sementeiras, é pela desigualdade e pela intemperança dos tempos, ou porque falta ou sobeja á chuva, ou porque falta ou sobeja o sol. Pois porque não introduz Cristo na parábola do Evangelho algum trigo que se perdesse por causa do sol ou da chuva? Porque o sol e a chuva são as influências da parte do Céu, e deixar de frutificar a semente da palavra de Deus, nunca é por falta do Céu, sempre é por culpa nossa. Deixará de frutificar a sementeira, ou pelo embaraço dos espinhos, ou pela dureza das pedras, ou pelos descaminhos dos caminhos; mas por falta das influências do Céu, isso nunca é nem pode ser. Sempre Deus está pronto da sua parte, com o sol para aquentar e com a chuva para regar; com o sol para alumiar e com a chuva para amolecer, se os nossos corações quiserem: Qui solem suum oriri facit super bonos et malos, et pluit super justos et injustos (“Que fez nascer seu sol sobre os bons e os maus e chover sobre os justos e os injustos”). Se Deus dá o seu sol e a sua chuva aos bons e aos maus; aos maus que se quiserem fazer bons, como a negará? Este ponto é tão claro que não há para que nos determos em mais prova. Quid debui facere vineae meae, et non feci? (“Que devia eu ter feito à minha vida e não fiz?”) - disse o mesmo Deus por Isaías.” 


Sendo, pois, certo que a palavra divina não deixa de frutificar por parte de Deus, segue-se que ou é por falta do pregador ou por falta dos ouvintes. Por qual será? Os pregadores deitam a culpa aos ouvintes, mas não é assim. Se fora por parte dos ouvintes, não fizera a palavra de Deus muito grande fruto, mas não fazer nenhum fruto e nenhum efeito, não é por parte dos ouvintes. Provo.

Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça neles fruto, faz efeito. No Evangelho o temos. O trigo que caiu nos espinhos, nasceu, mas afogaram-no: Simul exortae spinae suffocaverunt illud. O trigo que caiu nas pedras, nasceu também, mas secou-se: Et natum aruit. O trigo que caiu na terra boa, nasceu e frutificou com grande multiplicação: Et natum fecit fructum centuplum. De maneira que o trigo que caiu na boa terra, nasceu e frutificou; o trigo que caiu na má terra, não frutificou, mas nasceu; porque a palavra de Deus é tão funda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz que nos maus ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos, não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras, não frutificou, mas nasceu até nas pedras. Os piores ouvintes que há na Igreja de Deus, são as pedras e os espinhos. E porquê? -- Os espinhos por agudos, as pedras por duras. Ouvintes de entendimentos agudos e ouvintes de vontades endurecidas são os piores que há. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm só a ouvir subtilezas, a esperar galantarias, a avaliar pensamentos, e às vezes também a picar a quem os não pica. Aliud cecidit inter spinas: O trigo não picou os espinhos, antes os espinhos o picaram a ele; e o mesmo sucede cá. Cuidais que o sermão vos picou e vós, e não é assim; vós sois os que picais o sermão. Por isto são maus ouvintes os de entendimentos agudos. 

Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode ferir pelos mesmos fios, e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quanto as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. Oh! Deus nos livre de vontades endurecidas, que ainda são piores que as pedras! A vara de Moisés abrandou as pedras, e não pôde abrandar uma vontade endurecida: Percutiens virga bis silicem, et egressae sunt aquae largissimae. Induratum est cor Pharaonis. E com os ouvintes de entendimentos agudos e os ouvintes de vontades endurecidas serem os mais rebeldes, é tanta a força da divina palavra, que, apesar da agudeza, nasce nos espinhos, e apesar da dureza nasce nas pedras.

Pudéramos arguir ao lavrador do Evangelho de não cortar os espinhos e de não arrancar as pedras antes de semear, mas de indústria deixou no campo as pedras e os espinhos, para que se visse a força do que semeava. E tanta a força da divina palavra, que, sem cortar nem despontar espinhos, nasce entre espinhos. É tanta a força da divina palavra, que, sem arrancar nem abrandar pedras, nasce nas pedras. Corações embaraçados como espinhos corações secos e duros como pedras, ouvi a palavra de Deus e tende confiança! Tomai exemplo nessas mesmas pedras e nesses espinhos! Esses espinhos e essas pedras agora resistem ao semeador do Céu; mas virá tempo em que essas mesmas pedras o aclamem e esses mesmos espinhos o coroem.

Quando o semeador do Céu deixou o campo, saindo deste Mundo, as pedras se quebraram para lhe fazerem aclamações, e os espinhos se teceram para lhe fazerem coroa. E se a palavra de Deus até dos espinhos e das pedras triunfa; se a palavra de Deus até nas pedras, até nos espinhos nasce; não triunfar dos alvedrios hoje a palavra de Deus, nem nascer nos corações, não é por culpa, nem por indisposição dos ouvintes.


Supostas estas duas demonstrações; suposto que o fruto e efeitos da palavra de Deus, não fica, nem por parte de Deus, nem por parte dos ouvintes, segue-se por consequência clara, que fica por parte do pregador. E assim é. Sabeis, cristãos, porque não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, porque não faz fruto a palavra de Deus? -- Por culpa nossa.

(Vieira, Pe. Antônio. Sermões. Rio de Janeiro. Agir, 1957.p102-4)


Atividades

1) Nesse trecho do sermão, temos apenas a discussão do aspecto relativo a Deus. Que argumentos Vieira apresenta para provar que não é por culpa de Deus que a pregação não frutifica?

2) É comum nos textos barocos a utilização de figuras de estilo como um recurso para enfatizar a realidade, através dos sentidos. Quais as figuras de linguagem empregadas pelo autor nesse trecho do Sermão da Sexagésima?

3) Em que trecho o pregador se apóia nas Sagradas Escrituras para ratificar suas palavras?





quarta-feira, 24 de junho de 2020

Semântica

O QUE É SEMÂNTICA E POR QUE ELA É FUNDAMENTAL PARA RANKEAR NO ...


O signo linguístico — a palavra —  possui dois aspectos inseparáveis:

Material
•   os sons (da fala)
•   as letras (na escrita)

 Imaterial
•  o significado (a ideia compartilhada tanto pelo emissor como pelo receptor da palavra).

O estudo do significado da palavra cabe à Semântica.

O Significado das palavras

Conhecer o significado das palavras é um dos fatores essenciais para o domínio da língua, pois só assim o falante ou o escritor será capaz de selecionar a palavra adequada para elaborar a sua mensagem. Por isso é importante o conhecimento dos fatos linguísticos como:

Sinonímia

É o fato de duas ou mais palavras possuírem significados iguais ou semelhantes —   sinônimos.

Os insetos invadiram a plantação de arroz.
Os insetos alastraram-se pela plantação de arroz.

Antonímia

É o fato de duas ou mais palavras possuírem significados opostos —  antônimos.

O aluno foi bem na prova.
O aluno foi mal na prova.

Homonímia

É o fato de duas ou mais palavras possuírem significados diferentes, mas serem iguais no som e/ou na escrita —  homônimos.

Os supermercados sabem apreçar (dar preço) as mercadorias.
Minha vizinha vivia a apressar (tornar mais rápido) a empregada.

Dependendo da identidade apresentada, os homônimos podem ser:

a) Homógrafos
Possuem a mesma grafia, mas sons diferentes.
O começo (som fechado - substantivo) da história agradou aos telespectadores.
Eu começo (som aberto - verbo) a entender essa matéria.

b) Homófonos
Possuem o mesmo som, mas grafias diferentes.
Ele não sabia pregar uma tacha (prego pequeno) na parede.
A população revoltou-se com o aumento da taxa (quantia cobrada por prestação de serviço) bancária.

c) Homônimos perfeitos
Possuem a mesma grafia e o mesmo som.
Eu cedo (verbo) o livro para a biblioteca da escola.
Levantou cedo (advérbio de tempo) para estudar para a prova.

Paronímia

É o fato de duas ou mais palavras possuírem significados diferentes, mas serem muito parecidas no som e na escrita —   parônimos.

O líder estudantil emigrou ( mudou-se de seu país de origem) para a França.
No começo do século, ops italianos imigraram (entraram num país estranho para nele viver) para o Brasil.

Polissemia

É o fato de uma mesma palavra poder apresentar significados diferentes que se explicam dentro de um contexto.

A criança estava com a mão machucada. (parte do corpo)
Passou duas mãos de tinta na parede. (camadas)
A escultura demonstrava mão de mestre. (habilidade)
A rua não dava mão para o parque. (direção em que o veículo deve transitar)
Nenhum cidadão deve abrir mão de seus direitos.(deixar de lado, desistir)
Passaram a mão em minha bolsa. (apoderar-se de coisas alheias)
A palavra final está mão do diretor. (dependência, responsabilidade)

Observação

Em geral, os homônimos perfeitos resultam de palavras iguais  no som e na escrita, mas de origens diferentes: são (verbo ser) e são (adjetivo -sadio, saudável).
A polissemia, ao contrário, é resultante dos diferentes significados que uma mesma palavra foi adquirindo com o tempo.


  



quinta-feira, 11 de junho de 2020

Trovadorismo

RESUMO COMPLETO do TROVADORISMO - O que é? Características

No panorama da Europa feudal, da alta Idade Média, começa a surgir, na Provença (sul da França), a partir do século XI, um novo tipo de arte, cujo espírito em muito se afasta da cultura dominante religiosa e guerreira da época. É a poesia dos  trovadores, na qual as artes da palavra e da música se conjugam de forma sutil, produzindo cantos de amor e de humor e crítica cuja influência logo se espalhará pela Europa.

O amor celebrado nesses poemas é o que se chama em provençal fin amors — o "amor cortês", como o chamamos. Nele, a mulher é alçada à posição de senhora (no sentido feudal) e o amor é encarnado como uma relação física e espiritual em que o amante se apresenta como vassalo (servidor) da "dona" (casada com outro, pois se trata em geral de relações adulterinas). Chamamo-lo amor cortês por seu aspecto de refinado jogo de corte, jogo em que se compraziam os aristocratas da região em que se falava a langue d`oc (isto é, o provençal, por oposição à langue d`oil, o francês, língua do norte. Oc significava "sim" em provençal; oil, que hoje se diz oui, tinha o mesmo sentido em francês). Da região do Languedócio ( a Provença, aproximadamente) esse jogo de amor, com sua poesia, sua música e suas leis (as leys d`amor), passou a várias outras partes da Europa, inclusive Portugal.

Além da canção amorosa (cansó), os poetas provençais também cultivaram brilhantemente a canção satírica (sirventés). O trovador era o poeta (as vezes nobre, mas na verdade de qualquer categoria social) que compunha a poesia e a música da canção e também a executava e cantava, acompanhado ou não de outros músicos. Jograis eram uma espécie de trovadores de mais baixa categoria; executavam as composições dos trovadores e eram, frequentemente, eles mesmos autores da canção.

O florescimento da cultura trovadoresca, na Provença, foi magnífico, mas muito breve: no início do século XIII, a Cruzada contra os Albigenses arrasou o país e dispersou os trovadores. O provençal, contudo, já era uma língua de cultura muito corrente em várias cortes da Europa e a poesia trovadoresca já estava espalhada pela França, Alemanha, Itália, Portugal e outros países.

O legado fundamental dos trovadores é, para nós,  a expressão refinada, sensual e espiritual, de uma nova concepção do amor e da mulher, que deixou sua marca nos ideais amorosos do mundo moderno e uma poesia e uma música de alta qualidade: música de grande beleza melódica e poesia de profundo refinamento emocional  e musical. Trata-se de um dos mais ricos exemplos , em toda a história da literatura ocidental, de poesia do tipo melopeia , em que se criam correlações emocionais através dos sons e dos ritmos das palavras:

Canção provençal - Jaufré Rudel (1ª estrofe)

Lanquan li jorn son lonc e may
M'es belhs dous chans d'auzelhs de lonh,
E quan mi suy partitz de lay,
Remembra'm d'un' amor de lonh.
Vau de talan embroncx e clis
Si que chans ni flors d'albespis
No-m valon plus que l'yverns gelatz.

Quando os dias são longos em maio
Me é belo o doce canto dos pássaros de longe
E quando vou embora de lá
Lembro-me de uma amor de longe:
Vou com o ânimo abatido, curvado
E nem canto ou flor de espinheiro
Me agrada mais que o inverno gelado.

(tradução literal)


Canção provençal: Bernart de Ventadorn (versos iniciais)

Si no`us vei, domna don plus mi cal, 
negus vezer mon bel pensar no vai.

Se eu não vejo a mulher que mais desejo
Nada que eu veja vale o que eu não vejo.

(tradução de Augusto de Campos)

Os mais antigos textos da literatura portuguesa são canções de trovadores, escritas numa forma arcaica da língua chamada galego-português (ou galaico-português). Na Provença, embora a poesia trovadoresca provenha de uma tradição um pouco mais velha, os textos mais antigos que conhecemos datam da primeira metade do século XII. Em Portugal, a produção trovadoresca se estende de fins do século XII ao século XIV.

Os portugueses cultivaram a poesia lírica na forma da cantiga de amor (adaptação algo limitada da cansó provençal) e a poesia satírica nas formas das cantigas de escárnio e maldizer. Ainda no gênero lírico, produziram uma elaboração culta das canções populares tradicionais chamadas cantigas de amigo.

As músicas associadas aos poemas, escritas ao lado das letras nos cancioneiros que nos restaram, oferecem problemas para a sua leitura, e por isso as interpretações modernas variam consideravelmente.  Mas é inegável que a música dos provençais atinge altíssima qualidade. Quantos aos trovadores portugueses, quase nada sobrou de sua música; apenas seis das sete cantigas de amigo (de Martin Codax) e uma coleção de poesias religiosas (Cantigas de Santa Maria) conservam a melodia com que foram compostas, pois em quase todos os manuscritos restantes falta a parte da notação musical. 

Dos cancioneiros portugueses que foram conservados, os mais importantes são o Cancioneiro da Ajuda (assim chamado porque se encontra na Biblioteca da Ajuda; contém apenas cantigas de amor, de vários autores, e é o único cujo manuscrito data da época do trovadorismo) e os Cancioneiros da Vaticana e da Biblioteca Nacional (este último antes conhecido por Colocci-Brancutti, ambos contêm cantigas de amor, amigo, escárnio e maldizer). Alguns dos trovadores mais notáveis são Pero da Ponte, Joan Garcia de Guilhade, Martin Codax, D. Afonso X, rei de Castela e de Leão, D. Dinis, rei de Portugal.

Observação:
O Trovadorismo português teve seu apogeu nos séculos  XII e XIII, entrando em declínio no século XIV. Seu último grande incentivador foi o rei D. Dinis (1261 - 1325), que prestigiou a produção poética em sua corte, tendo sido ele próprio um dos mais fecundos e talentosos trovadores medievais. 

A cantiga considerada a mais antiga  (de 1189 ou 1198) é conhecida como "Cantiga da Garvaia" ou "da Ribeirinha" e é atribuída a Pai Soares de Taveirós.

No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, des aquelha
me foi a mí mui mal di'ai!,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vós houve nen hei
valía dũa correa.

*****

No mundo não conheço quem se compare
A mim enquanto eu viver como vivo,
Pois eu moro por vós – ai!
Pálida senhora de face rosada,
Quereis que eu vos retrate
Quando eu vos vi sem manto!
Infeliz o dia em que acordei,
Que então eu vos vi linda!

E, minha senhora, desde aquele dia, ai!
As coisas ficaram mal para mim,
E vós, filha de Dom Paio
Moniz, tendes a impressão de
Que eu possuo roupa luxuosa para vós,
Pois, eu, minha senhora, de presente
Nunca tive de vós nem terei
O mimo de uma correia.



 Observações: 

a) A mulher de que fala esse texto, chamada de Ribeirinha  (Maria Pais Ribeiro), teria sido a preferida de D. Sancho I.

b) O verso "Mia senhor  branca e vermelha" admite mais de uma interpretação. Pode referir-se à pele alva e às faces rosadas da mulher (bem caracterizada na tradução)ou, de acordo com J. Horrent, seria traduzido por "Minha senhora, quereis  que vos represente sob o arminho e a púrpura".




A cantiga de amor

A cantiga de amor galego-portuguesa é mais monótona, em geral bem menos brilhante que o seu modelo provençal. A situação que ela representa , na maioria dos casos, é a do amante frustrado: o homem (o "eu lírico") fala de seu amor  por sua bela senhora (fremosa senhor) e se apresenta  a ela como um vassalo a seu senhor, como um servidor (as relações sociais do mundo feudal servem de base metafórica para as relações amorosas); o amante espera da amada que ela lhe faça ben (eufemismo, isto é, expressão suavizada , pois o que o amante espera é que a mulher se entregue a ele) e, como a senhor em geral recusa o seu favor ao pobre apaixonado, este sofre a coita, o mal da frustração amorosa — é um coitado. Descrições estereotipadas  da beleza da senhor  e lamentos do amante coitado são o que há de mais comum nas cantigas de amor. Alguns trovadores portugueses, contudo, produziram cantigas de amor de grande intensidade emotiva, de grande beleza, às vezes consideravelmente distantes dos modelos provençais.

O poema seguinte apresenta várias características mais frequentes da cantiga de amor galego-portuguesa (o amor cortês, a lamentação da coita) e é , ao mesmo tempo, um texto singular por sua intensidade emocional, devida especialmente às reiterações desesperadas das duas últimas estrofes.

Senhor fremosa, pois me non queredes
creer a coita'n que me ten Amor,
por meu mal é que tan ben parecedes
e por meu mal vos filhei por senhor,
e por meu mal tan muito ben oí
dizer de vós, e por meu mal vos vi:
pois meu mal é quanto ben vós havedes.

E pois vos vós da coita non nembrades
nen do afán que mi o Amor faz sofrer,
por meu mal vivo máis ca vós cuidades,
e por meu mal me fezo Deus nacer
e por meu mal mon morrí u cuidei
como vos viss', e por meu mal fiquei
vivo, pois vós por meu mal ren non dades.

Desta coita en que me vós tẽedes,
en que hoj'eu vivo tan sen sabor,
que farei eu, pois mi a vós non creedes?
Que farei eu, cativo pecador?
Que farei eu, vivendo sempre assí?
Que farei eu, que mal día nací?
Que farei eu, pois me vós non valedes?

E pois que Deus non quer que me valhades
nen me queirades mia coita creer,
que farei eu? Por Deus, que mi o digades!
Que farei eu, se logo non morrer?
Que farei eu se máis a viver hei?
Que farei eu, que conselh'i non hei?

Que farei eu, que vós desemparades?

(Martim Soares, séc. XIII)

Exercícios resolvidos


1. De que tipo de cantiga se trata? Por quê? Cite duas expressões do texto que confirmem sua resposta.


Resolução: Trata-se de uma cantiga de amor, porque nela o eu lírico masculino se dirige à mulher ("senhor fremosa"), falando-lhe de seu amor e de sua "coita".



2. A expressão “meu mal”, repetida ao longo da estrofe, sugere
a) confusão por parte do eu lírico, que entende como um mal aquilo que, na verdade, é um bem.
b) tom de lamento e desolação, já que o eu lírico sofre por não ser correspondido no amor.
c) possessividade, o que se comprova pelo emprego exaustivo do pronome possessivo meu.
d) arrependimento, já que o eu lírico escolheu por senhor uma mulher fora dos padrões aristocráticos.
e) pessimismo, visto que o eu lírico enfatiza apenas aspectos negativos da mulher amada. 


Resolução: O amor não correspondido consiste numa característica da cantiga de amor e justifica a coita ou sofrimento amoroso. Resposta: B

Exercícios propostos

Estes meus olhos nunca perderán,
senhor, gran coita, mentr'eu vivo for.
E direi-vos, fremosa mia senhor,
destes meus olhos a coita que han:
     choran e cegan quand'alguén non veen,
     e ora cegan per alguén que veen.

Guisado tẽen de nunca perder
meus olhos coita e meu coraçón.
E estas coitas, senhor, minhas son;
mais-los meus olhos, per alguén veer,
     choran e cegan quand' alguén non veen,
     e ora cegan per alguén que veen.

E nunca ja poderei haver ben,
pois que Amor ja non quer, nen quer Deus.
Mais os cativos destes olhos meus
morrerán sempre por veer alguén:
  choran e cegan quand' alguén non veen,
   e ora cegan per alguén que veen.

Mentr`: enquanto.
Guisado: preparado.
Coita: sofrimento.
Cativo: infeliz, escravo.


1. Como o eu lírico se caracteriza  nesse poema?

2. Uma das principais características  das cantigas de amor é a              relação entre o eu lírico e sua amada. 
    a) De que maneira o eu lírico se refere à mulher?
    b) O que isso revela a respeito da relação entre eles?

3. Identifique os versos que se repetem no poema todo. Que nome se dá a eles?

4. O poema todo se constrói a partir de uma contradição de ideias (um paradoxo).
   a) Qual é o paradoxo presente no poema?
   b) Explique esse paradoxo.

5. A terceira estrofe estabelece que o sofrimento é insolúvel porque o amor e Deus assim o querem. O que significa dizer que o amor quer o sofrimento? O que significa dizer que Deus quer o sofrimento?

6. Quanto ao desenvolvimento do poema, responda:

   a) As estrofes apresentam conteúdo diferente ou semelhante umas das outras?
   b) O que isso sugere a respeito da poesia trovadoresca?


































sexta-feira, 5 de junho de 2020

Comparando charges e tirinhas




Tirinhas: Armandinho - Tudo Junto e Misturado Litoral


Você já sabe o que  são charges e, com certeza, já  leu alguma tirinha, não é verdade? Será que existem diferenças entre esses dois gêneros? Na aula de hoje, vamos falar sobre isso. Você vai gostar!


A tirinha surgiu da ideia de se fazer histórias curtas, de forma que a leitura do texto fosse rápida, eficiente e bem-humorada. A tirinha pode ser considerada uma adaptação da HQ (Histórias em Quadrinhos) impressa, mas a popularidade alcançada pelo gênero foi tão grande que os gibis mais tradicionais incorporaram as tirinhas para os seus personagens. Quem não se lembra da última página das revistas da Turma da Mônica, sempre com uma tirinha para nos divertir?


Tirinha do Dia: Turma da Mônica economizando água


A charge, por sua vez, relata um fato de uma época definida, dentro de um determinado contexto cultural, econômico e social específico e que depende do conhecimento desses fatores para ser entendida. Fora desse contexto, ela provavelmente perderá sua força comunicativa, sendo, portanto, perecível. Justamente por esta característica, a charge tem um papel importantíssimo como registro histórico. Uma semelhança a destacar entre esses dois gêneros é que, normalmente, empregam a linguagem informal.

Um recurso muito usado por ambos é a polissemia. Você sabe o que é polissemia? Em conceito geral, pode-se dizer que a polissemia se apresenta quando uma mesma palavra adquire diversos significados ( grego polysemos: poli = muitos, sema = significados). A amplitude semântica do vocábulo é influenciada por fatores como contexto, situacionalidade, enunciado etc.



Veja os exemplos abaixo. Eles irão te ajudar a entender melhor.

Paula tem uma mão para cozinhar que dá inveja! (Habilidade, eficiência)

Vamos! Coloque logo a mão na massa! (Participação, interação mediante uma tarefa realizada)

As crianças estão com as mãos sujas. (Parte do corpo)

Passaram a mão na minha bolsa e nem percebi. (Roubo)

Repare que o significado da palavra mão foi modificando de acordo com o contexto.

Viu como é fácil? E você? Quer colocar a mão na massa também?
Então, vamos para a atividade!

1. Leia a tirinha e responda às questões abaixo:

Leia a tirinha e responda às questões abaixo: Fonte: - Brainly.com.br

a) Para conseguir o efeito humorístico da tira, o autor brincou com a polissemia de qual palavra?



b) Quais são os sentidos que podem ser atribuídos a essa palavra?

quinta-feira, 4 de junho de 2020

O Gênero Textual Charge

Questão 721962 COPEVE UFMS - Revisor (IF MS)/Texto/2013

Observe:

Esta charge faz uma critica à politica do Brasil. Há uma brincadeira com os sentidos das palavras, na lousa está escrito “O eleitor confia na honestidade dos políticos” e quando a professora pergunta ao garoto qual o sujeito da oração, ela se refere a matéria dada na disciplina de Língua Portuguesa, no entanto o garoto responde que o sujeito só pode ser um “mané”, pois ele está se referindo à dificuldade que as pessoas têm em acreditar nos políticos atualmente. 

Mas, afinal, o que é uma charge?

Charge é uma ilustração humorística que envolve a caricatura de um ou mais personagens e é feita com o objetivo de satirizar algum acontecimento da atualidade. As charges são bastante utilizadas para fazer críticas, muitas vezes de natureza política. São normalmente publicadas em jornais ou revistas e conseguem atingir um vasto público. A internet também é uma opção para quem quer acessar esse gênero textual. 

Para interpretar o significado de uma charge, é necessário estar a par dos acontecimentos políticos ou ligado aos costumes (ou ainda "atuais"). Por isso o leitor deve conhecer o assunto a que a charge se refere para poder compreendê-la. Nela, as características físicas das pessoas são quase sempre exageradas (caricatura) para despertar o leitor. As charges promovem uma visão mais crítica dos problemas vigentes na sociedade na qual os alunos estão inseridos. Sem dúvidas, é um recurso atrativo que o professor e o aluno devem explorar, A charge, além de trabalhar a leitura do texto, promove a leitura de mundo, desperta o interesse do aluno e sua capacidade de interpretação, explorando a linguagem verbal e não verbal.




Só para facilitar:

Charge → linguagem verbal (coloquial) + não verbal,

Utiliza recursos como figuras de linguagem, humor e intertextualidade, 

 Promove reflexão crítica,

 Personagens: humanos, animais e objetos.

Agora, que tal praticar um pouco? Então, vamos às atividades!



1. Você deve ter acompanhado a onda de protestos e manifestações que tomaram conta do Brasil este ano. Observando a imagem e as palavras que compõem a charge abaixo, como você poderia explicá-la?

1. Você deve ter acompanhado a onda de protestos e manifestações ...


2. Como você já sabe, um dos objetivos da charge é estabelecer uma crítica.


1) Qual a crítica estabelecida pela charge acima?2) A inscrição no ...

Qual a crítica estabelecida pela charge acima?