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quinta-feira, 11 de junho de 2020

Trovadorismo

RESUMO COMPLETO do TROVADORISMO - O que é? Características

No panorama da Europa feudal, da alta Idade Média, começa a surgir, na Provença (sul da França), a partir do século XI, um novo tipo de arte, cujo espírito em muito se afasta da cultura dominante religiosa e guerreira da época. É a poesia dos  trovadores, na qual as artes da palavra e da música se conjugam de forma sutil, produzindo cantos de amor e de humor e crítica cuja influência logo se espalhará pela Europa.

O amor celebrado nesses poemas é o que se chama em provençal fin amors — o "amor cortês", como o chamamos. Nele, a mulher é alçada à posição de senhora (no sentido feudal) e o amor é encarnado como uma relação física e espiritual em que o amante se apresenta como vassalo (servidor) da "dona" (casada com outro, pois se trata em geral de relações adulterinas). Chamamo-lo amor cortês por seu aspecto de refinado jogo de corte, jogo em que se compraziam os aristocratas da região em que se falava a langue d`oc (isto é, o provençal, por oposição à langue d`oil, o francês, língua do norte. Oc significava "sim" em provençal; oil, que hoje se diz oui, tinha o mesmo sentido em francês). Da região do Languedócio ( a Provença, aproximadamente) esse jogo de amor, com sua poesia, sua música e suas leis (as leys d`amor), passou a várias outras partes da Europa, inclusive Portugal.

Além da canção amorosa (cansó), os poetas provençais também cultivaram brilhantemente a canção satírica (sirventés). O trovador era o poeta (as vezes nobre, mas na verdade de qualquer categoria social) que compunha a poesia e a música da canção e também a executava e cantava, acompanhado ou não de outros músicos. Jograis eram uma espécie de trovadores de mais baixa categoria; executavam as composições dos trovadores e eram, frequentemente, eles mesmos autores da canção.

O florescimento da cultura trovadoresca, na Provença, foi magnífico, mas muito breve: no início do século XIII, a Cruzada contra os Albigenses arrasou o país e dispersou os trovadores. O provençal, contudo, já era uma língua de cultura muito corrente em várias cortes da Europa e a poesia trovadoresca já estava espalhada pela França, Alemanha, Itália, Portugal e outros países.

O legado fundamental dos trovadores é, para nós,  a expressão refinada, sensual e espiritual, de uma nova concepção do amor e da mulher, que deixou sua marca nos ideais amorosos do mundo moderno e uma poesia e uma música de alta qualidade: música de grande beleza melódica e poesia de profundo refinamento emocional  e musical. Trata-se de um dos mais ricos exemplos , em toda a história da literatura ocidental, de poesia do tipo melopeia , em que se criam correlações emocionais através dos sons e dos ritmos das palavras:

Canção provençal - Jaufré Rudel (1ª estrofe)

Lanquan li jorn son lonc e may
M'es belhs dous chans d'auzelhs de lonh,
E quan mi suy partitz de lay,
Remembra'm d'un' amor de lonh.
Vau de talan embroncx e clis
Si que chans ni flors d'albespis
No-m valon plus que l'yverns gelatz.

Quando os dias são longos em maio
Me é belo o doce canto dos pássaros de longe
E quando vou embora de lá
Lembro-me de uma amor de longe:
Vou com o ânimo abatido, curvado
E nem canto ou flor de espinheiro
Me agrada mais que o inverno gelado.

(tradução literal)


Canção provençal: Bernart de Ventadorn (versos iniciais)

Si no`us vei, domna don plus mi cal, 
negus vezer mon bel pensar no vai.

Se eu não vejo a mulher que mais desejo
Nada que eu veja vale o que eu não vejo.

(tradução de Augusto de Campos)

Os mais antigos textos da literatura portuguesa são canções de trovadores, escritas numa forma arcaica da língua chamada galego-português (ou galaico-português). Na Provença, embora a poesia trovadoresca provenha de uma tradição um pouco mais velha, os textos mais antigos que conhecemos datam da primeira metade do século XII. Em Portugal, a produção trovadoresca se estende de fins do século XII ao século XIV.

Os portugueses cultivaram a poesia lírica na forma da cantiga de amor (adaptação algo limitada da cansó provençal) e a poesia satírica nas formas das cantigas de escárnio e maldizer. Ainda no gênero lírico, produziram uma elaboração culta das canções populares tradicionais chamadas cantigas de amigo.

As músicas associadas aos poemas, escritas ao lado das letras nos cancioneiros que nos restaram, oferecem problemas para a sua leitura, e por isso as interpretações modernas variam consideravelmente.  Mas é inegável que a música dos provençais atinge altíssima qualidade. Quantos aos trovadores portugueses, quase nada sobrou de sua música; apenas seis das sete cantigas de amigo (de Martin Codax) e uma coleção de poesias religiosas (Cantigas de Santa Maria) conservam a melodia com que foram compostas, pois em quase todos os manuscritos restantes falta a parte da notação musical. 

Dos cancioneiros portugueses que foram conservados, os mais importantes são o Cancioneiro da Ajuda (assim chamado porque se encontra na Biblioteca da Ajuda; contém apenas cantigas de amor, de vários autores, e é o único cujo manuscrito data da época do trovadorismo) e os Cancioneiros da Vaticana e da Biblioteca Nacional (este último antes conhecido por Colocci-Brancutti, ambos contêm cantigas de amor, amigo, escárnio e maldizer). Alguns dos trovadores mais notáveis são Pero da Ponte, Joan Garcia de Guilhade, Martin Codax, D. Afonso X, rei de Castela e de Leão, D. Dinis, rei de Portugal.

Observação:
O Trovadorismo português teve seu apogeu nos séculos  XII e XIII, entrando em declínio no século XIV. Seu último grande incentivador foi o rei D. Dinis (1261 - 1325), que prestigiou a produção poética em sua corte, tendo sido ele próprio um dos mais fecundos e talentosos trovadores medievais. 

A cantiga considerada a mais antiga  (de 1189 ou 1198) é conhecida como "Cantiga da Garvaia" ou "da Ribeirinha" e é atribuída a Pai Soares de Taveirós.

No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, des aquelha
me foi a mí mui mal di'ai!,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vós houve nen hei
valía dũa correa.

*****

No mundo não conheço quem se compare
A mim enquanto eu viver como vivo,
Pois eu moro por vós – ai!
Pálida senhora de face rosada,
Quereis que eu vos retrate
Quando eu vos vi sem manto!
Infeliz o dia em que acordei,
Que então eu vos vi linda!

E, minha senhora, desde aquele dia, ai!
As coisas ficaram mal para mim,
E vós, filha de Dom Paio
Moniz, tendes a impressão de
Que eu possuo roupa luxuosa para vós,
Pois, eu, minha senhora, de presente
Nunca tive de vós nem terei
O mimo de uma correia.



 Observações: 

a) A mulher de que fala esse texto, chamada de Ribeirinha  (Maria Pais Ribeiro), teria sido a preferida de D. Sancho I.

b) O verso "Mia senhor  branca e vermelha" admite mais de uma interpretação. Pode referir-se à pele alva e às faces rosadas da mulher (bem caracterizada na tradução)ou, de acordo com J. Horrent, seria traduzido por "Minha senhora, quereis  que vos represente sob o arminho e a púrpura".




A cantiga de amor

A cantiga de amor galego-portuguesa é mais monótona, em geral bem menos brilhante que o seu modelo provençal. A situação que ela representa , na maioria dos casos, é a do amante frustrado: o homem (o "eu lírico") fala de seu amor  por sua bela senhora (fremosa senhor) e se apresenta  a ela como um vassalo a seu senhor, como um servidor (as relações sociais do mundo feudal servem de base metafórica para as relações amorosas); o amante espera da amada que ela lhe faça ben (eufemismo, isto é, expressão suavizada , pois o que o amante espera é que a mulher se entregue a ele) e, como a senhor em geral recusa o seu favor ao pobre apaixonado, este sofre a coita, o mal da frustração amorosa — é um coitado. Descrições estereotipadas  da beleza da senhor  e lamentos do amante coitado são o que há de mais comum nas cantigas de amor. Alguns trovadores portugueses, contudo, produziram cantigas de amor de grande intensidade emotiva, de grande beleza, às vezes consideravelmente distantes dos modelos provençais.

O poema seguinte apresenta várias características mais frequentes da cantiga de amor galego-portuguesa (o amor cortês, a lamentação da coita) e é , ao mesmo tempo, um texto singular por sua intensidade emocional, devida especialmente às reiterações desesperadas das duas últimas estrofes.

Senhor fremosa, pois me non queredes
creer a coita'n que me ten Amor,
por meu mal é que tan ben parecedes
e por meu mal vos filhei por senhor,
e por meu mal tan muito ben oí
dizer de vós, e por meu mal vos vi:
pois meu mal é quanto ben vós havedes.

E pois vos vós da coita non nembrades
nen do afán que mi o Amor faz sofrer,
por meu mal vivo máis ca vós cuidades,
e por meu mal me fezo Deus nacer
e por meu mal mon morrí u cuidei
como vos viss', e por meu mal fiquei
vivo, pois vós por meu mal ren non dades.

Desta coita en que me vós tẽedes,
en que hoj'eu vivo tan sen sabor,
que farei eu, pois mi a vós non creedes?
Que farei eu, cativo pecador?
Que farei eu, vivendo sempre assí?
Que farei eu, que mal día nací?
Que farei eu, pois me vós non valedes?

E pois que Deus non quer que me valhades
nen me queirades mia coita creer,
que farei eu? Por Deus, que mi o digades!
Que farei eu, se logo non morrer?
Que farei eu se máis a viver hei?
Que farei eu, que conselh'i non hei?

Que farei eu, que vós desemparades?

(Martim Soares, séc. XIII)

Exercícios resolvidos


1. De que tipo de cantiga se trata? Por quê? Cite duas expressões do texto que confirmem sua resposta.


Resolução: Trata-se de uma cantiga de amor, porque nela o eu lírico masculino se dirige à mulher ("senhor fremosa"), falando-lhe de seu amor e de sua "coita".



2. A expressão “meu mal”, repetida ao longo da estrofe, sugere
a) confusão por parte do eu lírico, que entende como um mal aquilo que, na verdade, é um bem.
b) tom de lamento e desolação, já que o eu lírico sofre por não ser correspondido no amor.
c) possessividade, o que se comprova pelo emprego exaustivo do pronome possessivo meu.
d) arrependimento, já que o eu lírico escolheu por senhor uma mulher fora dos padrões aristocráticos.
e) pessimismo, visto que o eu lírico enfatiza apenas aspectos negativos da mulher amada. 


Resolução: O amor não correspondido consiste numa característica da cantiga de amor e justifica a coita ou sofrimento amoroso. Resposta: B

Exercícios propostos

Estes meus olhos nunca perderán,
senhor, gran coita, mentr'eu vivo for.
E direi-vos, fremosa mia senhor,
destes meus olhos a coita que han:
     choran e cegan quand'alguén non veen,
     e ora cegan per alguén que veen.

Guisado tẽen de nunca perder
meus olhos coita e meu coraçón.
E estas coitas, senhor, minhas son;
mais-los meus olhos, per alguén veer,
     choran e cegan quand' alguén non veen,
     e ora cegan per alguén que veen.

E nunca ja poderei haver ben,
pois que Amor ja non quer, nen quer Deus.
Mais os cativos destes olhos meus
morrerán sempre por veer alguén:
  choran e cegan quand' alguén non veen,
   e ora cegan per alguén que veen.

Mentr`: enquanto.
Guisado: preparado.
Coita: sofrimento.
Cativo: infeliz, escravo.


1. Como o eu lírico se caracteriza  nesse poema?

2. Uma das principais características  das cantigas de amor é a              relação entre o eu lírico e sua amada. 
    a) De que maneira o eu lírico se refere à mulher?
    b) O que isso revela a respeito da relação entre eles?

3. Identifique os versos que se repetem no poema todo. Que nome se dá a eles?

4. O poema todo se constrói a partir de uma contradição de ideias (um paradoxo).
   a) Qual é o paradoxo presente no poema?
   b) Explique esse paradoxo.

5. A terceira estrofe estabelece que o sofrimento é insolúvel porque o amor e Deus assim o querem. O que significa dizer que o amor quer o sofrimento? O que significa dizer que Deus quer o sofrimento?

6. Quanto ao desenvolvimento do poema, responda:

   a) As estrofes apresentam conteúdo diferente ou semelhante umas das outras?
   b) O que isso sugere a respeito da poesia trovadoresca?


































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