Quando se utiliza de maneira não-convencional a linguagem, explorando-se os aspectos conotativos das palavras e novas maneiras de construir frases, estão sendo criadas as figuras de linguagem, também chamadas figuras de estilo.
De seus dentes pálidos surgiu, enfim, um sorriso.
A característica "pálidos"atribuída a "dentes" pode sugerir dentes amarelados ou sorriso triste, tímido, ou ambas as ideias.
"O mar passa saborosamente
A língua na areia." (Duardo Dusek)
O "mar"é personificado, tem características de seres vivos.
Na personificação do "mar", "língua" é usada em lugar de onda.
"Meu pinho toca forte
Que é pra todo mundo acordar." (Chico Buarque de Holanda)
A palavra "pinho" é usada no lugar de violão.
"Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco." (Gonçalves Dias)
Construção com os termos da frase na ordem inversa:
A flor do tamarindo abriu-se há pouco.
Obs.: na ordem direta, teríamos: “Há pouco a flor do tamarindo abriu-se.”
Em suma: Figuras de linguagem são certos recursos não-convencionais que o emissor cria para dar maior expressividade a sua mensagem.
Obs.: Esses recursos de linguagem acabam por caracterizar o estilo do escritor ou so falante que os emprega com frequencia.
A linguagem figurada ocorre quando se quer dar expressividade à mensagem através de:
☻ recursos semânticos, isto é, trabalhando a palavra do ponto de vista DE SEU SIGNIFICADO.
A encomenda precisa ser entregue rapidamente. Vá voando levá-la (Vá o mais rápido que puder!)
☻ recursos fonéticos, destacando os sons das palavras.
Falar em progresso urbano é sentir o ruído da britadeira trepidando na minha cabeça e na rua.
(A repetição dos sons representados pela letra "r" sugere o ruído constante dos grandes centros urbanos.)
☻ recursos sintáticos, trabalhando a construção da frase.
"No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!" (Olavo Bilac)
(A repetição do conectivo "e" intensifica a ideia de dedicação ao trabalho.)
Em função dessas ocorrências, há figuras semânticas, figuras fonéticas e figuras sintáticas.
Definição e exemplos das figuras de linguagem usadas no Barroco
Todo o trabalho literário do Barroco estava centrado no uso elaborado dos recursos da língua. Para produzir imagens inesperadas e conciliar os opostos, os autores do período exploravam os jogos de palavras e várias figuras de linguagem, entre as quais estão:
☻ Metáfora
É o emprego de um termo com significado de outro em vista de uma relação de semelhança entre ambos. É uma comparação subentendida (um termo adquire o sentido de outro por afinidade de característica).
“Seus dois sóis me contemplavam”, “As rugas da terra.”: trata-se de aproximações de ordem subjetiva em que o sentido original está transmutado, guardando suas características principais em ordem simbólica. No caso do primeiro, “sóis” é uma metáfora para olhos, e a característica que os aproxima é o formato circular e o brilho intenso.
Oh! Que saudades que tenho/Da aurora da minha vida. (Casimiro de Abreu)
O autor compara “aurora” ao início da vida dele.
Estas altas árvores/ são umas harpas verdes com cordas de chuva/ que tange o vento. (Cecília Meireles)
Ocorre uma comparação mental entre as árvores e o instrumento musical. As duas produzem sons.
Outros exemplos:
"O Brasil é novo, é um país pivete." (Abel Silva)
"Tinha a alma dos sonhos povoada." (Olavo Bilac)
"Não sei que nuvem trago no meu peito
Que tudo quanto vejo me entristece..." (Alexandre de Gusmão)
☻ Comparação
É a aproximação de dois termos entre os quais existe alguma relação de semelhança, como na metáfora. A comparação, porém, é feita por meio de um conectivo e busca realçar determinada qualidade do primeiro termo.
"A minha filha é como um anjo". Este exemplo expressa a comparação feita por uma mãe, elogiando algumas características que tornam a sua filha parecida com um anjo.
"Os olhos dela eram como o sol". Nesse sentido, usa-se a palavra "olhos" em analogia ao "sol" para dizer que a pessoa em questão tem olhos belos.
"E há poeta que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como carpinteiro nas tábuas!..." (Alberto Caeiro)
A chuva caia como lágrimas de um céu entristecido.
Observação:
A comparação assemelha-se à metáfora, que não é mais que uma comparação não assumida, para acentuar a identidade poética entre as duas entidades comparadas.
Lendo a expressão "Os teus olhos são como lagos gélidos" existe uma comparação explícita denotada pelo conectivo "como" (ou outro elemento comparativo: feito, tal qual, que nem, igual a,…). Contudo, se dissermos, "Os teus olhos são lagos gélidos", passamos a ter uma metáfora que passa a estabelecer uma relação de identidade poética em vez da mais prosaica comparação que mantém os dois objetos em universos distintos.
Metáfora: Aquele atleta é um touro.
Comparação: Aquele atleta é forte como um touro.
☻Hipérbole
Hipérbole é uma figura de linguagem caracterizada pelo exagero. A palavra tem origem do termo grego “hiperbolé”, que é resultado da junção de duas palavras “hiper” (além/ por cima/ sobre/ por cima/ além) + “bole” (lançar/ atirar), que traduzindo ficaria algo como “atirar para cima” ou “lançar além”, que também representa o sentido de “excesso” ou “exagero”.A hipérbole geralmente é utilizada para ressaltar algo, para dar ênfase ou para conferir ao texto uma maior expressividade.
“Romperam-se enfim as cataratas do céu”
(Padre Antônio Vieira)
“Rios te correrão dos olhos, se chorares (…)” (Olavo Bilac)
“Queria querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses” (Caetano Veloso)
“Pela lente do amor
Vejo tudo crescer
Vejo a vida mil vezes melhor”. (Gilberto Gil)
☻ Prosopopeia (personificação)
Prosopopeia (ou personificação) significa atribuir a seres inanimados (sem vida) características de seres animados ou atribuir características humanas a seres irracionais.
Encontramos exemplos de prosopopeia nos três versos abaixo:
“O mar passa saborosamente a língua na areia
Que bem debochada, cínica que é
Permite deleitada esses abusos do mar”
O trecho, retirado da canção Folia no Matagal, de Eduardo Dusek, encontramos alguns exemplos de prosopopeia. O mar, ser inanimado, passa a língua na areia de maneira saborosa. O mar não tem língua, não pode passá-la de maneira saborosa em lugar algum. A areia, por sua vez, também inanimada, não pode ser debochada, cínica ou estar deleitada. Todas essas são características humanas.
“La fora, no jardim que o luar acaricia, um repuxo apunhala a alma da solidão.” (Olegário Mariano)
“Hoje a cobiça assentou-se no lugar da equidade.” (Alexandre Herculano)
"Ah! Cidade maliciosa
De olhos de ressaca
Que das índias guardou vontade de
☻ Antítese
Figura que consiste no emprego de termos com sentidos opostos, que contrastam entre si. A antítese parece, com justiça, encarnar melhor que qualquer outra figura de linguagem o espírito divido do homem barroco, que se vê sempre em dúvida diante de duas direções opostas: o aproveitar a vida e o medo da morte e da danação; a privação da vida e a inexistência de Deus; o predomínio da razão em detrimento da fé, etc.
"Tristeza não tem fim.
Felicidade sim..." (Vinícius de Moraes)
“Sou teu céu e teu inferno, a tua calma.
Sou teu tudo, sou teu nada
… Eu sou o teu mundo, sou teu poder”. (Paula Fernandes)
“O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
“Que vai, pisando a terra e olhando o céu.” (Vinicius de Moraes)
“A vida é mesmo assim/Dia e noite, não e sim.” (Lulu Santos e Nelson Motta)
"Nasce o sol, e não dura mais que um dia
Depois da luz se segue a noite escura
Em tristes sonhos morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria."
(À instabilidade das cousas do mundo – Gregório de Matos)
Observação: Nesse exemplo, o poeta barroco utiliza pares de termos com sentidos opostos: “dia” e “noite”, “luz” e “escura”, “tristezas” e “alegria”.
É o emprego de um termo com significado de outro em vista de uma relação de semelhança entre ambos. É uma comparação subentendida (um termo adquire o sentido de outro por afinidade de característica).
“Seus dois sóis me contemplavam”, “As rugas da terra.”: trata-se de aproximações de ordem subjetiva em que o sentido original está transmutado, guardando suas características principais em ordem simbólica. No caso do primeiro, “sóis” é uma metáfora para olhos, e a característica que os aproxima é o formato circular e o brilho intenso.
Oh! Que saudades que tenho/Da aurora da minha vida. (Casimiro de Abreu)
O autor compara “aurora” ao início da vida dele.
Estas altas árvores/ são umas harpas verdes com cordas de chuva/ que tange o vento. (Cecília Meireles)
Ocorre uma comparação mental entre as árvores e o instrumento musical. As duas produzem sons.
Outros exemplos:
"O Brasil é novo, é um país pivete." (Abel Silva)
"Tinha a alma dos sonhos povoada." (Olavo Bilac)
"Não sei que nuvem trago no meu peito
Que tudo quanto vejo me entristece..." (Alexandre de Gusmão)
☻ Comparação
É a aproximação de dois termos entre os quais existe alguma relação de semelhança, como na metáfora. A comparação, porém, é feita por meio de um conectivo e busca realçar determinada qualidade do primeiro termo.
"A minha filha é como um anjo". Este exemplo expressa a comparação feita por uma mãe, elogiando algumas características que tornam a sua filha parecida com um anjo.
"Os olhos dela eram como o sol". Nesse sentido, usa-se a palavra "olhos" em analogia ao "sol" para dizer que a pessoa em questão tem olhos belos.
"E há poeta que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como carpinteiro nas tábuas!..." (Alberto Caeiro)
A chuva caia como lágrimas de um céu entristecido.
Observação:
A comparação assemelha-se à metáfora, que não é mais que uma comparação não assumida, para acentuar a identidade poética entre as duas entidades comparadas.
Lendo a expressão "Os teus olhos são como lagos gélidos" existe uma comparação explícita denotada pelo conectivo "como" (ou outro elemento comparativo: feito, tal qual, que nem, igual a,…). Contudo, se dissermos, "Os teus olhos são lagos gélidos", passamos a ter uma metáfora que passa a estabelecer uma relação de identidade poética em vez da mais prosaica comparação que mantém os dois objetos em universos distintos.
Metáfora: Aquele atleta é um touro.
Comparação: Aquele atleta é forte como um touro.
☻Hipérbole
Hipérbole é uma figura de linguagem caracterizada pelo exagero. A palavra tem origem do termo grego “hiperbolé”, que é resultado da junção de duas palavras “hiper” (além/ por cima/ sobre/ por cima/ além) + “bole” (lançar/ atirar), que traduzindo ficaria algo como “atirar para cima” ou “lançar além”, que também representa o sentido de “excesso” ou “exagero”.A hipérbole geralmente é utilizada para ressaltar algo, para dar ênfase ou para conferir ao texto uma maior expressividade.
“Romperam-se enfim as cataratas do céu”
(Padre Antônio Vieira)
“Rios te correrão dos olhos, se chorares (…)” (Olavo Bilac)
“Queria querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses” (Caetano Veloso)
“Pela lente do amor
Vejo tudo crescer
Vejo a vida mil vezes melhor”. (Gilberto Gil)
☻ Prosopopeia (personificação)
Prosopopeia (ou personificação) significa atribuir a seres inanimados (sem vida) características de seres animados ou atribuir características humanas a seres irracionais.
Prosopopeia é uma figura de linguagem usada para tornar mais dramática a comunicação.
“O mar passa saborosamente a língua na areia
Que bem debochada, cínica que é
Permite deleitada esses abusos do mar”
O trecho, retirado da canção Folia no Matagal, de Eduardo Dusek, encontramos alguns exemplos de prosopopeia. O mar, ser inanimado, passa a língua na areia de maneira saborosa. O mar não tem língua, não pode passá-la de maneira saborosa em lugar algum. A areia, por sua vez, também inanimada, não pode ser debochada, cínica ou estar deleitada. Todas essas são características humanas.
“La fora, no jardim que o luar acaricia, um repuxo apunhala a alma da solidão.” (Olegário Mariano)
“Hoje a cobiça assentou-se no lugar da equidade.” (Alexandre Herculano)
"Ah! Cidade maliciosa
De olhos de ressaca
Que das índias guardou vontade de
Andar nua." (Ferreira Gullar)
☻ Antítese
Figura que consiste no emprego de termos com sentidos opostos, que contrastam entre si. A antítese parece, com justiça, encarnar melhor que qualquer outra figura de linguagem o espírito divido do homem barroco, que se vê sempre em dúvida diante de duas direções opostas: o aproveitar a vida e o medo da morte e da danação; a privação da vida e a inexistência de Deus; o predomínio da razão em detrimento da fé, etc.
"Tristeza não tem fim.
Felicidade sim..." (Vinícius de Moraes)
“Sou teu céu e teu inferno, a tua calma.
Sou teu tudo, sou teu nada
… Eu sou o teu mundo, sou teu poder”. (Paula Fernandes)
“O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
“Que vai, pisando a terra e olhando o céu.” (Vinicius de Moraes)
“A vida é mesmo assim/Dia e noite, não e sim.” (Lulu Santos e Nelson Motta)
"Nasce o sol, e não dura mais que um dia
Depois da luz se segue a noite escura
Em tristes sonhos morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria."
(À instabilidade das cousas do mundo – Gregório de Matos)
Observação: Nesse exemplo, o poeta barroco utiliza pares de termos com sentidos opostos: “dia” e “noite”, “luz” e “escura”, “tristezas” e “alegria”.
☻ Paradoxo
É uma figura de linguagem caracterizada pela associação de conceitos contraditórios na representação de uma só ideia. Embora esses conceitos contraditórios possam parecer ilógicos, acabam formando uma unidade semântica aceitável, passível de ser real.
Enquanto figura de linguagem, é um recurso utilizado na linguagem oral e escrita que aumenta a expressividade da mensagem, representando o ilógico, o absurdo, o impossível e a falta de nexo. É um recurso muito útil para expressar ironia e sarcasmo.
“Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer”.
(Camões)
Nestes versos, percebe-se que o poeta constrói o sentido do Amor-ideia, amor universal, filosofando a respeito do amor, não falando de seus sentimentos pessoais. Para isso, ele se apropria de elementos que, apesar de se excluírem mutuamente, se fundem num mesmo referente, constituindo afirmações aparentemente sem lógica.
Outros exemplos:
“Sendo a sua liberdade/Era a sua escravidão.” (Vinicius de Moraes)
“Estou cego e vejo./Arranco os olhos e vejo.” (Carlos Drummond de Andrade)
"Já estou cheio de me sentir vazio." (Renato Russo)
“Se você quiser me prender,/vai ter que saber me soltar.” (Caetano Veloso)
"Sendo a sua liberdade/Era a sua escravidão. (Vinicius de Moraes)
"Bastou ouvir o teu silêncio para chorar de saudades." (Reinaldo Dias)
"Eu fujo ou não sei não, mas é tão duro este infinito espaço ultra fechado." (Carlos Drummond de Andrade)
Antítese e paradoxo: qual é a diferença?
Embora sejam figuras de pensamento baseadas na oposição, o paradoxo e a antítese se distinguem .
O paradoxo emprega ideias opostas, da mesma maneira que a antítese, entretanto, essa contradição ocorre entre o mesmo referente do discurso.
Para entender melhor essa diferença veja os exemplos abaixo:
Dormir e acordar está difícil. (antítese)
Estou dormindo acordado. (paradoxo)
Note que ambos os exemplos utilizam os opostos “dormir” e “acordar”. Entretanto, o paradoxo propõe uma ideia, supostamente absurda, mas que faz sentido, pois enquanto dormimos não podemos estar acordados.
Nesse caso, a união dos termos contrários gerou um significado metafórico coerente à expressão “dormir acordado”. O enunciado significa que a pessoa está acordada, entretanto, com muito sono.
Outros exemplos:
"De repente do riso fez-se o pranto." (Vinícius de Moraes)
"Onde queres bandido sou herói." (Caetano Veloso)
"É proibido proibir." (Caetano Veloso)
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