O estilo barroco chegou ao Brasil fortemente marcado pelas contradições que os países católicos europeus estavam vivendo em consequência da Contrarreforma e dos processos de colonização. Alguns dos princípios cristãos se opunham diretamente aos rumos da colonização, condenando, por exemplo, a busca pelo lucro, e acirravam sentimentos conflitantes que caracterizam o Barroco. O marco inicial do Barroco brasileiro é o poema épico Prosopopeia, de Bento Teixeira (versos decassílabos, dispostos em oitava rima, com 94 estrofes), escrito com o objetivo de louvar Jorge de Albuquerque Coelho, donatário da capitania de Pernambuco.
No Barroco brasileiro, as ambiguidades que marcam as tensões da época se fizeram sentir de modo ainda mais notável, em razão, principalmente, do contexto do projeto colonizador português: os homens vinham sós, sem suas esposas, qui se uniam, muitas vezes, a escravas ou a mulheres indígenas, com quem mantinham relações desaprovadas pela igreja. Além disso, a própria ideia de exploração e escravização se afastava dos ideais cristãos. O tempo que tinham para gozar a vida era curto, assim, deviam aproveitar seus dias enquanto estavam afastados da corte portuguesa e de um controle mais rígido por parte da Igreja.
Essas tensões foram captadas pelo mais importante poeta barroco brasileiro: Gregório de Matos Guerra, que nasceu na Bahia em 1623. Gregório era homem de boa formação humanista, doutor pela Universidade de Coimbra. Escreveu poesia lírica, satírica, filosófica e religiosa, e chegou a ser considerado o maior satírico de língua portuguesa. Seus poemas satíricos lhe valeram o apelido de "boca do inferno" e levaram-no a colecionar uma série de desafetos pessoais e políticos, motivo de sua deportação para Angola em 1694, de onde regressou um ano antes de morrer, em 1696, no Recife.
É preciso ressaltar que o público do Barroco brasileiro era diferente do público europeu que começava a se formar no século XVII. Aqui, havia poucos homens que sabiam ler e escrever, por isso muitos dos poemas de Gregório de Matos circularam oralmente pela Bahia. Já os sermões de Padre Vieira, outro expoente desse período, não eram escritos para serem lidos, mas para serem ouvidos por uma audiência. Isso facilitava a circulação, já que frequentar as igrejas era praticamente uma obrigação nessa época.
Gregório de Matos satírico
Através da sátira, o poeta critica as autoridades da época, as mulheres de costumes indecorosos, os ricos senhores de engenho, os padres e os comerciantes pouco honestos.
Para não esquecer
Sua crítica se faz de modo cômico, jocoso, usando uma linguagem popular que não coincide com a linguagem polida dos documentos e textos oficiais do século XVII, como é possível constatar no soneto a seguir:
Ao casamento de certo advogado com uma moça mal reputada
Casou-se nesta terra esta, e aquele,
Aquele um gozo filho de cadela,
Esta uma donzelíssima donzela,
Que muito antes do parto o sabia ele.
Casaram por unir pele com pele,
E tanto se uniram, que ele com ela,
Com seu mau parecer ganha para ela,
Com seu bom parecer ganha para ele.
Deram-lhe em dote muitos mil cruzados,
Excelentes alfaias, bons adornos,
De que estão os seus quartos bem ornados:
Por sinal, que na porta, e seus contornos,
Um dia amanheceram bem contados,
Três bacias de trampa, e doze cornos.
Gregório de Matos lírico
Nesse tipo de poema o poeta fala de suas fortes paixões e dos sofrimentos por amor.
Os sonetos líricos de Gregório de Matos são bem elaborados. Por ser um bom conhecedor da arte de fazer poesias, expressa seus sentimentos amorosos com grande habilidade e mestria:
Discreta e formosíssima Maria
Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
Gregório de Matos religioso
O poeta, arrependido, pede perdão de seus pecados; sofre remorso por suas ações apaixonadas e insensatas. Há sempre um conflito entre pecado e perdão. Veja, no poema abaixo, a contraposição dos substantivos "maldade" / "luz", por exemplo:
A N. Senhor Jesus Christo com actos de arrependido e suspiros de amor.
Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,
É verdade, meu Deus, que hei delinqüido,
Delinqüido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.
Maldade, que encaminha à vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido;
Vencido quero ver-me, e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.
Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me os braços,
Abraços, que me rendem vossa luz.
Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pretendo em tais abraços,
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.
Padre Antônio Vieira
O Padre Antônio Vieira nasceu em Portugal em 1608 e veio para o Brasil com apenas 7 anos. Estudou humanidades no Colégio dos Jesuítas e, aos 15 anos, ingressou na Companhia de Jesus. Em 1679, publicou seu primeiro volume de sermões e, em 1680, com a restauração da soberania portuguesa, partiu para Portugal para levar o apoio da Colônia brasileira na luta contra a Espanha.Ele alternou em sua vida momentos de maior ou menor proximidade com a Corte, assim como momentos em que residiu na Bahia, no Maranhão ou em Portugal, com passagens por Roma. Vieira faleceu em 1697 e está enterrado na Bahia.
Vieira escreveu mais de 700 cartas e inúmeros sermões, seus textos mais conhecidos. De um modo geral, seus sermões apresentam três partes: uma introdução, em que o tema bíblico a ser abordado era exposto ao seu público; uma argumentação, em que o tema era desenvolvido, utilizando exemplos, contra-argumentação, imagens poderosas que pudessem realmente convencer as pessoas de seu ponto de vista; e uma conclusão, em que Vieira buscava fazer com que seus fiéis seguissem as ideias trabalhadas por ele. Como se vê , é uma estrutura argumentativa, que busca convencer seu público de sua tese, seu ponto de vista sobre determinado assunto. Como o sermão era falado, era necessário usar estratégias para que o público acompanhasse o raciocínio desenvolvido pelo orador. Uma das estratégias usadas por Vieira em seus sermões era a técnica da disseminação e da recolha. Na disseminação, ideias eram levantadas, questionadas, muitas vezes por meio de perguntas que ele dirigia ao público e deixava sem respostas. Na recolha, essas questões eram retomadas e respondidas de modo assertivo e bem fundamentado, segundo a Bíblia, aumentando o poder de convencimento do sermão.
Há todo um contexto da época a ser levado em conta que torna mais claras as escolhas do do padre na elaboração de seus sermões. Neles podem ser observados referências a pessoas a quem pôde ou quis defender, as lutas políticas que travou e o seu investimento pessoal na crença de que Portugal seria a nação escolhida para se sobressair sobre as demais nações e governá-las. Assim, Vieira defendeu o indígena da escravidão pura e simples pelos colonos, pois os queria aldeados e convertidos, sob o controle dos jesuítas. Numa carta escrita ao rei D. Afonso VI em 1657, Vieira assim se manifestou contra o extermínio e a dominação dos indígenas brasileiros:
As injustiças e tiranias, que se têm executado nos naturais destas terras, excedem muito às que fizeram em África. Em espaço de quarenta anos se mataram e se destruíram por esta costa e sertão mais de dois milhões de índios, e mais de quinhentas povoações como grandes cidades, e disto nunca se viu castigo. Proximamente, ao ano de 1655, se cativaram no rio Amazonas dois mil índios, entre os quais muitos eram amigos e aliados dos portugueses, e vassalos de Vossa Majestade, tudo contra a disposição da lei que veio naquele ano a este Estado, e tudo mandado obrar pelos mesmos que tinham maior obrigação de fazer observar a mesma lei; e também não houve castigo: e não só se requer diante de V.M. a impunidade destes delitos, senão, licença para os continuar.
(Pe. Antônio Vieira. Carta a el-rei D. Afonso VI, 1657.)
Vieira também foi sensível aos maus tratos sofridos pelos negros escravos, mas entendia a escravidão como necessária para o bom sucesso do empreendimento ultramarino português. Na impossibilidade política de conseguir a libertação dos escravos africanos, em consequência das forças políticas atuantes na época, enxergava a possibilidade de conversão dos negros como uma oportunidade de salvação de suas almas e de recompensa celeste dos trabalhos penosos sofridos em vida. Opôs-se às perseguições aos judeus, ao confisco de seus bens, às prisões e torturas praticadas pelo Santo Ofício, mas seus interesses humanitários se casavam com interesses práticos: a dependência dos capitais dos judeus para o empreendimento colonial português, por exemplo.
O papel da Igreja e dos sermões no século XVII
No século XVII, a Igreja não tinha apenas uma função religiosa e espiritual. Desempenhava também papel fundamental na vida social e cultural, especialmente no Brasil Colônia. As missas eram espaços de encontro e socialização e muitos namoros se iniciavam nas igrejas, numa época em que havia poucos espaços permitidos para a circulação feminina. Por sua vez, os sermões cumpriam um papel político importante. Por meio deles, o público (tanto o mais culto, como o analfabeto)se informava sobre os fatos do mundo. Assim, o sermão não era apenas uma fala religiosa, mas também um texto de caráter retórico e características literárias, em que os padres expunham as ideias debatidas na época e argumentavam a respeito delas.
Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Vieira (1608-1697).
Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?”. Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.
Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que um filósofo estoico se atrevesse a escrever uma tal sentença em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e quase envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos em tempo de príncipes católicos, ou para a emenda, ou para a cautela, não preguem a mesma doutrina. Saibam estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o que calam que com o que disserem; porque a confiança com que isto se diz é sinal que lhes não toca, e que se não podem ofender; e a cautela com que se cala é argumento de que se ofenderão, porque lhes pode tocar. [...]
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua miséria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera [...]. Não são só ladrões, diz o santo [São Basílio Magno], os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.
(Essencial, 2011.)
No segundo parágrafo, Antônio Vieira torna explícito seu descontentamento com:
A) o filósofo Sêneca.
B) os príncipes católicos.
C) o imperador Nero.
D) a doutrina estoica.
E) os oradores evangélicos.
Padre Antônio Vieira
O Padre Antônio Vieira nasceu em Portugal em 1608 e veio para o Brasil com apenas 7 anos. Estudou humanidades no Colégio dos Jesuítas e, aos 15 anos, ingressou na Companhia de Jesus. Em 1679, publicou seu primeiro volume de sermões e, em 1680, com a restauração da soberania portuguesa, partiu para Portugal para levar o apoio da Colônia brasileira na luta contra a Espanha.Ele alternou em sua vida momentos de maior ou menor proximidade com a Corte, assim como momentos em que residiu na Bahia, no Maranhão ou em Portugal, com passagens por Roma. Vieira faleceu em 1697 e está enterrado na Bahia.
Vieira escreveu mais de 700 cartas e inúmeros sermões, seus textos mais conhecidos. De um modo geral, seus sermões apresentam três partes: uma introdução, em que o tema bíblico a ser abordado era exposto ao seu público; uma argumentação, em que o tema era desenvolvido, utilizando exemplos, contra-argumentação, imagens poderosas que pudessem realmente convencer as pessoas de seu ponto de vista; e uma conclusão, em que Vieira buscava fazer com que seus fiéis seguissem as ideias trabalhadas por ele. Como se vê , é uma estrutura argumentativa, que busca convencer seu público de sua tese, seu ponto de vista sobre determinado assunto. Como o sermão era falado, era necessário usar estratégias para que o público acompanhasse o raciocínio desenvolvido pelo orador. Uma das estratégias usadas por Vieira em seus sermões era a técnica da disseminação e da recolha. Na disseminação, ideias eram levantadas, questionadas, muitas vezes por meio de perguntas que ele dirigia ao público e deixava sem respostas. Na recolha, essas questões eram retomadas e respondidas de modo assertivo e bem fundamentado, segundo a Bíblia, aumentando o poder de convencimento do sermão.
Há todo um contexto da época a ser levado em conta que torna mais claras as escolhas do do padre na elaboração de seus sermões. Neles podem ser observados referências a pessoas a quem pôde ou quis defender, as lutas políticas que travou e o seu investimento pessoal na crença de que Portugal seria a nação escolhida para se sobressair sobre as demais nações e governá-las. Assim, Vieira defendeu o indígena da escravidão pura e simples pelos colonos, pois os queria aldeados e convertidos, sob o controle dos jesuítas. Numa carta escrita ao rei D. Afonso VI em 1657, Vieira assim se manifestou contra o extermínio e a dominação dos indígenas brasileiros:
As injustiças e tiranias, que se têm executado nos naturais destas terras, excedem muito às que fizeram em África. Em espaço de quarenta anos se mataram e se destruíram por esta costa e sertão mais de dois milhões de índios, e mais de quinhentas povoações como grandes cidades, e disto nunca se viu castigo. Proximamente, ao ano de 1655, se cativaram no rio Amazonas dois mil índios, entre os quais muitos eram amigos e aliados dos portugueses, e vassalos de Vossa Majestade, tudo contra a disposição da lei que veio naquele ano a este Estado, e tudo mandado obrar pelos mesmos que tinham maior obrigação de fazer observar a mesma lei; e também não houve castigo: e não só se requer diante de V.M. a impunidade destes delitos, senão, licença para os continuar.
(Pe. Antônio Vieira. Carta a el-rei D. Afonso VI, 1657.)
Vieira também foi sensível aos maus tratos sofridos pelos negros escravos, mas entendia a escravidão como necessária para o bom sucesso do empreendimento ultramarino português. Na impossibilidade política de conseguir a libertação dos escravos africanos, em consequência das forças políticas atuantes na época, enxergava a possibilidade de conversão dos negros como uma oportunidade de salvação de suas almas e de recompensa celeste dos trabalhos penosos sofridos em vida. Opôs-se às perseguições aos judeus, ao confisco de seus bens, às prisões e torturas praticadas pelo Santo Ofício, mas seus interesses humanitários se casavam com interesses práticos: a dependência dos capitais dos judeus para o empreendimento colonial português, por exemplo.
O papel da Igreja e dos sermões no século XVII
No século XVII, a Igreja não tinha apenas uma função religiosa e espiritual. Desempenhava também papel fundamental na vida social e cultural, especialmente no Brasil Colônia. As missas eram espaços de encontro e socialização e muitos namoros se iniciavam nas igrejas, numa época em que havia poucos espaços permitidos para a circulação feminina. Por sua vez, os sermões cumpriam um papel político importante. Por meio deles, o público (tanto o mais culto, como o analfabeto)se informava sobre os fatos do mundo. Assim, o sermão não era apenas uma fala religiosa, mas também um texto de caráter retórico e características literárias, em que os padres expunham as ideias debatidas na época e argumentavam a respeito delas.
Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Vieira (1608-1697).
Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?”. Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.
Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que um filósofo estoico se atrevesse a escrever uma tal sentença em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e quase envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos em tempo de príncipes católicos, ou para a emenda, ou para a cautela, não preguem a mesma doutrina. Saibam estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o que calam que com o que disserem; porque a confiança com que isto se diz é sinal que lhes não toca, e que se não podem ofender; e a cautela com que se cala é argumento de que se ofenderão, porque lhes pode tocar. [...]
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua miséria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera [...]. Não são só ladrões, diz o santo [São Basílio Magno], os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.
(Essencial, 2011.)
No segundo parágrafo, Antônio Vieira torna explícito seu descontentamento com:
A) o filósofo Sêneca.
B) os príncipes católicos.
C) o imperador Nero.
D) a doutrina estoica.
E) os oradores evangélicos.
Olá Nelson,
ResponderExcluirReencontrei-o hoje, que bom!
A estátua do padre António Vieira em Lisboa foi vandalizada.
Eu queria muito transcrever a parte deste seu artigo qua a ele diz respeito . Pode ser? É claro que lhe darei todos os créditos.
Se não me disser nada , irei buscar informação a outras fontes, mas gostava mais se a coisa partisse daqui ...
Espero que esteja bem.