Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
A produção poética de Antero de Quental (1842-1891) apresenta três momentos distintos, intimamente ligados à trajetória de sua vida:
• as primeiras poesias, anteriores à Questão Coimbrã, que refletem uma postura ainda romântica;
• os poemas de Odes modernas, que representam um marco em sua obra, inauguram a fase da poesia revolucionária e dos agitados dias de Coimbrã (no prefácio às Odes, Antero afirma que "A poesia que quiser corresponder ao sentimento mais fundo de seu tempo, hoje, tem forçosamente de ser uma poesia revolucionária.");
• o livro sonetos, o mais completo e revelador de Antero de Quental, que o crítico Antônio Sérgio dividiu em oito ciclos: o primeiro, "da expressão lírica do amor-paixão", reflete o lirismo da juventude do poeta; o segundo , "do apostolado social", retrata a época revolucionária de Coimbrã; o terceiro, "do pensamento pessimista"; o quarto, "do desejo de evasão"; o quinto, "da morte"; o sexto, "do pensamento de Deus"; o sétimo, "da metafísica"; o oitavo, "da voz interior e do amor puro sempiterno". Nos quatro últimos ciclos os temas metafísicos.
Seus sonetos são tecnicamente perfeitos e, na maior parte das vezes, apresentam uma linha de raciocínio marcada pela lógica (motivo pelo qual mereceu o epíteto de poeta-filósofo ou, para alguns, filósofo-poeta).
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