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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Este Inferno de Amar - Almeida Garrett




Este inferno de amar — como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida — e que a vida destrói —
Como é que se veio a atear,
Quando — ai quando se há de apagar?

Eu não sei, não me lembra; o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… — foi um sonho —
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Que fez ela? Eu que fiz? — Não no sei
Mas nessa hora a viver comecei…


Vocabulário
Alenta: anima, encoraja.
Consome: devora, destrói, extingue, aniquila.
Atear: acender, incendiar, tornar-se mais intenso.
Formoso: magnífico, brilhante, esplêndido.
Ardentes: cheios de paixão, apaixonados, vivos.

Considera-se a publicação do poema ´´Camões``, de Almeida Garrett, em 1825, o marco inicial do Romantismo em Portugal. Todavia, a nova estética literária só viria a firmar-se uma década depois, acompanhando a evolução política e a vitória do liberalismo burguês. 

Os anos compreendidos entre 1838 e 1865 assinalaram o período de maior vigor da produção literária romântica em Portugal. É comum, aliás, se reconhecerem dois grandes momentos no Romantismo português:
a)  uma primeira geração, caracterizada por autores que começaram ainda presos a certos princípios clássicos, mas que foram responsáveis pela consolidação do novo estilo; neste primeiro momento destacam-se Almeida Garrett e Alexandre Herculano;
b) uma segunda geração, representante do chamado Ultrarromantismo, quando as características românticas são levadas ao exagero, como na obra de Camilo Castelo Branco.

Nascido no Porto, no ano de 1799 (morreu em Lisboa, no ano de 1854), João Batista Leitão de Almeida Garrett cresceu em uma sociedade abalada por uma crise político-econômica desencadeada em Portugal pela guerra entre Inglaterra e França. Pela sua origem, Garrett é filho da burguesia portuguesa que prosperou graças ao mercado brasileiro e aderiu às reformas pombalinas. Pela obra que escreveu, é um homem claramente situado entre dois mundos: um de influência clássica, em que se criou e lhe deu referências artísticas; outro de inspiração romântica, a que aderiu por afinidade intelectual e espiritual.

A maturidade poética de Garrett como um autor romântico chega somente em seu último livro de poemas, Folhas caídas. Este é um livro (coletânea onde se encontra o melhor de sua lírica) em que o poeta consegue libertar-se finalmente da influência clássica. São poemas inspirados na paixão que ele, já no fim da vida, sentiu por Rosa de Montufar (Viscondessa da Luz), mulher casada, e que lhe tornou a vida um ´´Inferno de amar``.

Comentários sobre o poema

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Atividades propostas

1. Aponte três características românticas do texto; exemplifique com palavras ou expressões nele presentes.

2. Mencione uma antítese presente no texto.

3. O texto trabalha com o presente e passado.
a) Que estrofe (s) você relacionaria ao presente?
b) Que estrofe (s) você relacionaria ao passado?
c) Apenas um verso faz referência ao futuro; transcreva-o.

4. Como é caracterizada a vida no passado?

5. E no momento presente?


6.A que grande conclusão nos leva o texto?

O poema compõe-se de estrofes de seis versos ou sextilhas. O esquema de rimas é o seguinte: ABCBDD, ou seja, o segundo verso rima com o quarto, e o quinto verso rima com o sexto. O primeiro e o terceiro não rimam. Isto significa que Garrett rompeu, aqui, com a regularidade da rima clássica. Em compensação, o poeta adotou um esquema rítmico bastante regular: todos os versos são novessílabos (ou eneassílabos) com acentos tônicos na terceira, sexta e nona sílabas, formando pausas (como se constituísse um pequeno diálogo do eu lírico consigo mesmo). Os românticos usaram muito esse tipo de verso martelado e sonoro. Quando bem utilizado — como faz Garrett —, corresponde ao estado de angústia, uma certa respiração ofegante que o poeta quer transmitir.

Uma das características da poesia romântica é o subjetivismo. Algumas marcas lingüísticas denotam essa característica no poema transcrito. A pontuação, marcada por reticências, a presença de várias expressões interjetivas (´´Oh! ``, ´´Ai de mim``), além, é claro, da utilização da primeira pessoa nos verbos e pronomes.


O texto trabalha com o presente e com o passado. O passado está caracterizado na segunda e terceira estrofe (notar verbos no pretérito): ´´Era um sonho``, ´´doce era aquele sonhar``, ´´Eu passei``. O presente está caracterizado na primeira estrofe: ´´Este inferno de amar — como eu amo!``.O único verso que faz referência ao futuro é o último da primeira estrofe: ´´Quando — ai quando se há de ela apaga?``.


Na primeira estrofe, o eu lírico define o sentimento amoroso como contraditório: ´´Esta chama que alenta e consome, / Que é vida — e que a vida destrói — ``(antíteses). O amor é uma força, a um só tempo, construtiva e destrutiva (amor é vida, mas quando se frustra ou se transforma em paixão, pode levar à destruição, à infelicidade). O presente é o tempo da tormenta, da falta de harmonia, de inquietação, de questionamento.


Na segunda estrofe, o desespero do eu lírico é demonstrado pelo fato de afirmar que a vida, antes de o amor tocá-lo, era um sonho sereno e doce do qual foi despertado. No verso ´´Era um sonho talvez... — foi um sonho —`` vale a pena ressaltar que a dúvida cede o lugar para a certeza, através da mudança do aspecto verbal, que deriva da passagem do pretérito imperfeito do indicativo, reforçado pela presença do advérbio de dúvida (´´talvez``), para o pretérito perfeito. O poema transmite de uma forma espontânea e convincente um estado emocional. A linguagem coloquial, o ritmo dos versos, a musicalidade do texto contribuem para a criação de um efeito de sinceridade do sentimento apresentado pelo eu lírico.


Apesar de considerar sua vida anterior uma espécie de sonho de tranquilidade, na terceira estrofe o eu lírico prefere a vida atual (um momento marcado por emoções fortes de uma intensa luta entre contrários), de apaixonado atormentado (desejo por uma mulher sensual: ´´olhos ardentes``). Afinal, é ele mesmo que afirma que só começou a viver de fato depois de ter conhecido o amor num dia em que o sol dava muita luz. Assim, ao final do poema, a grande conclusão é apresentada: Só se começa a viver quando se começa a sofrer de amor.


No poema ´´Este inferno de amar`` o amor é sinônimo de sofrimento, mas também é a razão maior da própria vida. Esta, sem o amor, equivale apenas a um sonho distante e insípido. O uso dos pontos de exclamação (cinco) e de interrogação (cinco) indica o predomínio da emoção e da sensibilidade sobre a razão, traço que caracteriza o Romantismo.

2 comentários:

  1. ESSE BLOG É MUITO INTERESSANTE, AJUDOU MUITO A TIRAR MINHAS DÚVIDAS SOBRE ALMEIDA GARRET

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