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segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Transforma-se o amador na cousa amada - Luís de Camões

 Transforma-se o amador na cousa amada,

por virtude do muito imaginar;

não tenho logo mais que desejar,

pois em mim tenho a parte desejada.


Se nela está minha alma transformada,

que mais deseja o corpo de alcançar?

Em si somente pode descansar,

pois consigo tal alma está liada.


Mas esta linda e pura semidéia,

que, como o acidente em seu sujeito,

assim co’a alma minha se conforma,


Está no pensamento como idéia;

[e] o vivo e puro amor de que sou feito,

como matéria simples busca a forma.


                       CAMÕES, Luís Vaz de. Obra completa.
                       Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988. p.301

Vocabulário

Liada: unida, ligada.
Semideia: semideusa.

O eu lírico abre o soneto com uma tese que será  a base do raciocínio desenvolvido no texto: se quem ama (amador) alcança uma identificação total com o ser  amado, não pode desejar mais nada, porque já traz consigo tudo o que quer. O processo de transformação é desencadeado pelo "muito imaginar". Trata-se, portanto, de um processo amoroso em que o eu lírico vai perdendo sua identidade e se "moldando" à forma perfeita da amada. 

Na segunda estrofe, a tese é retomada: a transformação da alma (espírito) deve aplacar o desejo do corpo (matéria). Como as dias almas que se amam estão ligadas, o desejo carnal deixa de ser importante.

A mulher amada é caracterizada, nos tercetos, como uma semideusa (linda e pura) cuja perfeição é própria da esfera das essências. Por isso ela se manifesta no pensamento do eu lírico como "ideia" (resgate do conceito platônico) e faz com que ele, inspirado por um amor também puro e transformador, molde-se a essa forma simples e perfeita. É o fim do processo de purificação amorosa que caracteriza o neoplatonismo.

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