Kennst du das Land, wo die Citronen blühn,
Im dunkeln Laub die Gold-Orangen glühn,
Kennst du es wohl?
Dahin, Dahin!
Möcht ich... ziehn!
Goethe (trecho da balada ´´ Mignon``)
´´Conheces o país onde florescem as laranjeiras? Ardem na escura fronde os frutos de ouro... Conhecê-lo? Para lá, para lá quisera eu ir!``
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Vocabulário
Cismar: pensar, refletir.
Primores: belezas, encantos.
Gorjeiam: cantam.
Várzeas: campinas baixas.
Desfrute: gozo.
Este é um poema fundamental para que se perceba o espírito saudosista e telúrico da primeira geração romântica: a saudade da Pátria e a exaltação da natureza brasileira. De toda a produção poética deste período, e talvez mesmo de toda produção poética brasileira, será difícil encontrar versos tão conhecidos quanto os da ´´Canção do Exílio``.
Segundo Manuel Bandeira, a Canção do Exílio foi o primeiro grande momento de inspiração do poeta Gonçalves Dias. ´´ Ainda que não tivesse escrito mais nada, ficaria, por ela, o seu nome gravado para sempre no coração e na memória da sua gente. `` De fato, é um dos poemas mais conhecidos popularmente no Brasil.
Neste poema de Gonçalves Dias há uma exaltação da natureza, o que pode remeter ao bucolismo árcade (amplamente comentado aqui, no blog). Porém, enquanto no Arcadismo a natureza se configura com um quadro idealizado e passivo no qual se desenrolam as ações dos pastores fictícios, no Romantismo ela interage com o ´´eu lírico``; é um espaço de redenção, em que o poeta se purifica dos males contraídos da civilização.
Comentários sobre o poema
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Os críticos literários atribuem a extraordinária beleza da canção à simplicidade dos recursos expressivos utilizados. Escrito em versos de sete sílabas (redondilha maior ou heptassílabo), dão ao poema um ritmo bem marcado e de gosto popular, pois encontramos: paralelismo (repetição de versos de mesma estrutura sintática), anáfora (repetição de palavra no início de cada versos) e refrão. Possui alternância de versos rimados (pares) com versos brancos (ímpares). Esse tipo de composição é bem comum nas cantigas de roda, uma vez que é muito fácil de ser cantado.
O título do poema não se refere a uma expulsão ou desterro, mas sim a um sentimento: o poeta está fora do Brasil e escreve uma canção para falar da saudade que sente da Pátria. O eu lírico assume o papel de exilado (ilustra uma característica básica do Romantismo: nacionalismo). Logo no início, define-se o objeto do discurso, estabelecendo-se a parcela da realidade exterior de que trata o poema: ´´Minha terra``, expressão que abre o primeiro verso, como assunto do poema.
Vai uma dica muito boa para você, amiguinho, aqui do blog: é fundamental, para compreensão do poema, localizar geograficamente os advérbios lá, cá, aqui, ao longo do poema – que por sinal possui total ausência de adjetivos qualificativos.
Na primeira estrofe, a distância e a saudade provocam a distorção da imagem da terra natal, cuja natureza é minuciosamente comparada com a da terra do exílio (uma longínqua utopia). Elementos como´´palmeiras``(flora) e ´´Sabiá`` (fauna) tornam-se autênticos símbolos de brasilidade. É interessante perceber que ´´palmeira`` é uma árvore que, por si só, já traz implícita as raízes da nacionalidade, ou seja, o poeta fez a mesma escolha que os indígenas haviam feito: antes de ser batizada pelos portugueses, nossa terra era chamada de Pindorama, palavra que, em tupi-guarani, significa ´´terra das palmeiras``.
O ´´Sabiá``, personificado pela letra inicial maiúscula, aparece quatro vezes no poema e, ao rimar com os monossílabos cá e lá (advérbios insistentemente repetidos, que representam a terra do exílio e, respectivamente, a terra natal), cria uma sonoridade muito brasileira, nunca antes vista em nossa poesia colonial ou na poesia portuguesa. A ideia das ´´palmeiras onde canta o Sabiá`` repete-se ao longo do poema, exercendo, de forma sutil, o papel de refrão.
Na segunda estrofe, o eu lírico faz elogios sem medidas aos atributos nacionais. Note-se, nesse poema, a posição de superioridade em que a natureza brasileira é colocada em relação a outros ambientes (hipérbole sugerida pelo ´´mais``). Essa idealização era própria da estética romântica, bem como a exaltação da natureza. Para se ter uma ideia da importância desse poema, toda esta estrofe foi ´´emprestada`` por Osório Duque Estrada para colocá-la na letra do Hino Nacional Brasileiro.
Na terceira e quarta estrofes, a Canção é marcada pela reiteração obsessiva dos termos exclusivos ao ´´lá``. A estes, associa-se a solidão, que é assimilada aqui como um meio através do qual o eu lírico se apóia para reafirmar, a todo instante, a superioridade de sua terra natal em contraponto ao exílio (inclusive psicologicamente, pois encontra ´´mais prazer``). Assim, devemos compreender que o saudosismo do poema supera o plano puramente emocional, assumindo uma postura metafísica. Vale apena observar que o poeta reúne elementos básicos de expressão em prosa – narração e descrição – e os transforma em pura poesia idílica.
É só na moldura do solo pátrio que a natureza (brasileira) adquire um maior valor, um valor que em nenhum outro lugar ela pode ter. Na quinta estrofe, o eu lírico promove o encontro com Deus (que está em todo lugar) nos elementos naturais (panteísmo). Paralelamente à significação da Pátria, este poema pode também ser lido como alusão a um possível Paraíso em que toda angústia e todo embaraço se dissolvem.
É curioso saber que o poeta morre, num naufrágio, na entrada do porto de São Luís do Maranhão, naquele retorno que julgava ser o último, pois estava muito doente, com tuberculose, praticamente em estado terminal.
Observe, então, que este poema é menos individual e mais coletivo: o poeta sai de si e fala de sua realidade exterior, a Pátria. Dela extrai elementos que devem refletir e reforçar o sentimento patriótico dos leitores. Desempenha, assim, um papel semelhante ao dos autores de romances indianistas e históricos. Isto revela que os traços mais gerais de um estilo literário – no caso, o patriotismo romântico – repetem-se ao longo de gêneros e autores.
São inúmeros os autores que, inspirados na ´´Canção do Exílio``(parafraseado ou parodiado), trataram da questão do amor à Pátria desde então: Casimiro de Abreu, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Murilo Mendes, só para citar os mais conhecidos. Vale a pena, porém, conhecer os versos de Tom Jobim e Chico Buarque de Holanda compuseram para tratar da nossa amada Pátria no conturbado período da ditadura militar iniciado em 1864 – um modo lírico e delicado de falar do desconsolo de viver distante da terra natal.
Parabéns pelo blog. Difícil achar algo assim na "blogosfera".
ResponderExcluirAbç!
cara o conteúdo é excelente
ResponderExcluirPena que eu tive que copiar manualmente tudo.
foi horrível algo poderia ser feito em alguns segundos demorou horas.
Um forte abraço.
glad to see you new piece.
ResponderExcluirbeautiful imagery.
magical nature and sky imagery,
ResponderExcluirmusical and sing song word flow.
Olá, Nelson!
ResponderExcluirToda vez que me ponho a comentar suas publicações, sinto-me frágil.
Fragilidade diante da força de suas palavras.
"Canção do Exílio", maravilhoso poema, eternamente em nosso coração!
Gonçalves Dias, desde as primeiras leituras fez-me sentir Pindorama, aquém da visita das naus lusitanas em nossas águas. Faz-me, agora, deitar-me à sombra das palmeiras e ouvir os sabiás toda vez que viajo para fora do Brasil. Não suportaria, jamais, o exílio, "o desconsolo de viver distante da terra natal...", essa terra onde as aves gorjeiam como apenas gorjeiam no paraíso, acredito!
Abraços, admiro demais seu blog!
Regina Gaiotto
Parabéns pelo blog maravilhoso me ajudou muito
ResponderExcluirGilmara Bezerra
Gostei muito de conhecer tantas particularidades de Gonçalves Dias. Sua análise sobre o poema é impecável. Vou usar nas minhas aulas. Obrigada.
ResponderExcluirDébora Amaro Moreno