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sexta-feira, 19 de março de 2021

Coesão textual

 




“Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça.” (Isaías. Cap.41 versículo10)


Coesão textual

Conceituando: 

Palavras → Orações → Períodos → Parágrafos →Textos

☻ Se a união entre as partes do texto não for perfeita, o sentido lógico será prejudicado.

Logo:

Coesão é como articulamos as palavras, as frases, os parágrafos e o texto como um todo. Essa articulação se dá por meio de conectivos (conjunções, pronomes, artigos, advérbios) e do léxico (palavras do idioma).

Ele se dedicou muito, mas não passou (oposição).

   Observe que a conjunção "mas" deu sentido a esse período (duas orações).

Vendi um sofá que eu comprei há muito tempo (retomada).

   Observe que o pronome  "que" retoma a palavra sofá.

Ele não é um cara; é o cara ( definir ou indefinir muda o sentido).

   Observe que o artigo um/o dá um novo sentido ao período).

Tipos de coesão

Coesão referencial: 

   É quando um termo ou expressão substitui, refere-se a um outro pertencente ao universo textual. Esse tipo de coesão ocorre quando os elementos coesivos ou conectivos retomam ou anunciam palavras, frases e sequências que exprimem fatos ou conceitos.

Vitória chorou. Ela gosta de ser contrariada.

   Nesse caso, "Vitória" é o termo referente na oração.  A cada vez que for preciso retomar esta palavra, pode-se usar termos parecidos ou sinônimos como o pronome "ela" ou a "garota" ou ouras opções desde que haja sentido.

Vitaminas fazem bem à saúde. Mas não devemos tomá-las ao acaso.

O colégio é um dos melhores da cidade. Seus dirigentes se preocupam muito com a educação integral.

Não podíamos deixar de ir ao Louvre, está a obra-prima de Leonardo da Vinci: a “Mona Lisa”

   A coesão referencial é responsável por um método que confere e integra a relação entre as palavras e frases. Porém, nas Figuras de Sintaxe ou figuras de construção esses elementos predominam. Pode ocorrer coesão referencial em elipses, anáforas, catáforas, contiguidades e reiterações.

 Mecanismo de coesão referencial

   A coesão referencial pode ocorrer de diversas maneiras e os mecanismos mais utilizados são: a anáfora, a catáfora, a elipse e a reiteração.

ANÁFORA – ocorre quando um termo já dito (referente) é recuperado por meio de um item coesivo depois. 

                "Em tudo o que a natureza opera, ela nada o faz bruscamente”

                "Aquele que recebe um benefício não deve jamais esquecê-lo; aquele que o concede não deve jamais lembrá-lo"

 

CATÁFORA – é quando o termo pressuposto (referente) aparece após o termo coesivo. 

                “Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada, e a oportunidade perdida.” (Provérbio Chinês)

                “Ela está no horizonte (...) Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos, e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe jamais a alcançarei. Então para que serve a utopia? Para isso mesmo; para nos fazer caminhar...” (Anônimo)

 ELIPSE – se dá quando algum elemento do texto é retirado, evitando a repetição.

                É preciso viver, [é preciso] não apenas existir.” (Plutarco)

 REITERAÇÃO – é decorrente da repetição do mesmo item lexical e de outros procedimentos já mencionados acima como o emprego de sinônimos, hiperônimos etc.

                "Questionar não é duvidar, questionar é querer saber mais!"

                "Coragem é resistir ao medo. Coragem não é a ausência do medo."

 Mecanismo de coesão sequencial

 Coesão sequencial

   Ocorre por meio dos componentes do texto que estabelecem relações semânticas entre orações, períodos ou parágrafos à medida que o texto progride.

   De maneira geral, as flexões de tempo e de modo dos verbos e as conjunções são os mecanismos responsáveis pela coesão sequencial nos textos.

   Observe o exemplo a seguir:

Quero encontrar João e pedir um favor. Mas não sei se ele vai aceitar, ainda que seja muito meu amigo. Se ele aceitar, ganhará minha confiança para sempre. 

   O primeiro conectivo (E), apresenta uma ideia de adição à sequência apresentada. O conectivo MAS insere ideia de adversidade ao texto; o SE é uma conjunção integrante e sua continuidade insere um complemento para o verbo “saber”. O uso do AINDA QUE apresenta sentido de concessão ao período; o SE, logo na sequência, introduz ideia de condição. 

   Nesse pequeno trecho, podemos perceber a importância desses conectivos para a coesão sequencial do trecho. A ausência desses marcadores discursivos pode prejudicar a coerência e dificultar a compreensão adequada da ideia pretendida. 

   Assim, fica evidente que para a construção de textos dissertativos ou para questões de compreensão e interpretação, conhecer e dominar o uso desses elementos será um diferencial. 

Fique ligado!

   Para estabelecer essas relações, é necessário utilizar recursos linguísticos chamados elementos coesivos. Alguns dos elementos coesivos mais utilizados são os conectores. Mas, entretanto, porém, assim, portanto, então, dessa forma são exemplos de conectores

   Abaixo, você encontrará alguns termos responsáveis (conectores) pela coesão sequencial nos textos:

Adição/inclusão - Além disso; também; vale lembrar; pois; outrossim; agora; de modo geral; por iguais razões; inclusive; até; é certo que; é inegável; em outras palavras; além desse fator...

Oposição - Embora; não obstante; entretanto; mas; no entanto; porém; ao contrário; diferentemente; por outro lado...

Afirmação/igualdade - Felizmente; infelizmente; obviamente; na verdade; realmente; de igual forma; do mesmo modo que; nesse sentido; semelhantemente...

Exclusão - Somente; só; sequer; senão; exceto; excluindo; tão somente; apenas...

Enumeração - Em primeiro lugar; a princípio...

Explicação - Como se nota; com efeito; como vimos; portanto; pois; é óbvio que; isto é; por exemplo; a saber; de fato; aliás...

Conclusão - Em suma; por conseguinte; em última análise; por fim; concluindo; finalmente; por tudo isso; em síntese, posto isso; assim; consequentemente...

Continuação - Em seguida; depois; no geral; em termos gerais; por sua vez; outrossim...

Outros recursos coesivos

a) e, além de, além disso, ademais, ainda, mas também, bem como, também - servem para acrescentar ideias, argumentos.

b) embora, não obstante, apesar de, a despeito de, contudo - estabelecem relação de concessão, de resignação.

c) mas, porém, entretanto, no entanto, sob outro ponto de vista, de outro modo, por outro lado, em desacordo com - estabelecem oposição entre ideias

d) assim, dessa forma, portanto, desse modo, enfim, ora, em resumo, em síntese - servem para complementar e concluir ideias

e) assim como, da mesma forma que, como, tal que - estabelecem relação de comparação de semelhança.

f) de fato, realmente, é verdade que, evidentemente, obviamente, está claro que - são usadas para fazer constatações ou para se admitir um fato.

g) porque, devido a, em virtude de, tendo em vista isso, face a isto - servem para introduzir explicações.

h) sobretudo, principalmente, essencialmente - são usados para dar ênfase ou destaque a algum fato ou ideia

i) antes que, enquanto, depois que, quando, no momento em que - estabelecem relação de temporalidade.




sexta-feira, 12 de março de 2021

O resumo

 




    Resumir um texto é reproduzir com poucas palavras aquilo que o autor disse. Um resumo nada mais é do que um texto reduzido às suas ideias principais, sem a presença de comentários ou julgamentos.

  Para Platão e Fiorin (1995), resumir um texto significa condensá-lo à sua estrutura essencial sem perder de vista três elementos:

1. as partes essenciais do texto;

2. a progressão em que elas aparecem no texto;

3. a correlação entre cada uma das partes.

   Para se realizar um bom resumo, são necessárias algumas técnicas:

1. Ler todo o texto para descobrir o tema (assunto). →Leitura geral exploratória.

2. Reler uma ou mais vezes, sublinhando frases ou palavras importantes. Isto ajuda a identificar as ideias e a esclarecer possíveis dúvidas de vocabulário. → Leitura específica exploratória.

3. Distinguir e separar os exemplos ou detalhes, das idéias principais.

4. Destacar as frases-núcleo (partes indispensáveis à interpretação) de cada parágrafo.

5. Observar as palavras que fazem a ligação entre as diferentes idéias do texto, também hamadas de conectivos: "por causa de", "assim sendo", "além do mais", "pois", "em decorrência de", "por outro lado", "da mesma forma". Estas palavras trazem diferentes significados como: conclusão, finalidade, explicação, oposição de ideias etc.

6. Fazer o resumo de cada parágrafo, porque cada um deles encerra uma idéia diferente no texto. 

7. Ler os parágrafos resumidos e observar se há uma estrutura coerente entre eles, isto é, se todas as partes estão bem encadeadas e se formam um todo significativo que represente perfeitamente o tema do texto original. Observe que você estará produzindo um novo texto a partir do anterior, que será seu resumo.

8. Em um resumo, não se devem comentar as idéias do autor. Deve-se registrar apenas o que ele escreveu, sem usar expressões como "segundo o autor", "o autor afirmou que" etc.

9. O tamanho do resumo pode variar conforme o tipo de assunto abordado. É recomendável que nunca ultrapasse vinte por cento da extensão do texto original.

   Ainda, segundo van Dijk & Kintsch (apud FONTANA, 1995, p.89), há basicamente 3 técnicas que podem ser úteis ao escrevermos um resumo. São elas: o apagamento, a generalização e a construção (já estudados anteriormente). Além dessas três, ainda existe uma quarta dica que pode ajudar muito a resumir um texto. É a técnica de sublinhar.


        

Leia o texto a seguir.


              MPF quer tirar de circulação o dicionário ‘Houaiss’



           Publicação conteria expressões ‘pejorativas e preconceituosas’ contra ciganos e              não atendeu recomendações de alterar texto


  O Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação absurda, sob todos os aspectos, na justiça federal em Uberlândia (MG): o órgão pretende tirar de circulação o dicionário Houaiss, um dos mais conceituados do mercado. Segundo o MPF, a publicação contém expressões “pejorativas preconceituosas”, pratica racismo contra ciganos e não atendeu a recomendações de alterar o texto, como fizeram outras duas editoras com seus dicionários.

  Trata-se de uma ação, no mínimo, desastrada. Há séculos dicionaristas respeitados de todo o mundo se esforçam em reunir nesses livros o maior número de acepções possível das palavras. Assim, o Houaiss explica que o termo cigano é “relativo ao ou próprio do povo cigano; zíngaro”, mas também define “aquele que faz barganha, que é apegado ao dinheiro; agiota, sovina” – esta acepção é, como bem destaca o próprio Houaiss, pejorativa. A razão de apresentar as duas (entre outras) versões é registrar o uso da palavra em um determinado momento histórico e explicar-lhe o significado. É para isso que servem os dicionários: eles não fazem apologia do preconceito, apenas o registram.

  A guiar-se pela proposta do MPF, os dicionários prestariam um duplo desserviço. Em primeiro lugar, deixariam de cumprir seu principal papel: registrar o uso da língua em um dado momento. O segundo desserviço é fruto do primeiro. Se os livros deixassem de registrar que, pejorativamente, o adjetivo judeu é empregado com sinônimo de “pessoa usuária, avarenta”, não ensinariam ao leitor que, em determinadas situações, isso (infelizmente) pode acontecer. Não se defende aqui, de maneira alguma, o emprego pejorativo do termo. Mas não é apagando o registro de um dicionário que se muda a realidade. Trata-se de mais um exemplo de ação desastrada em que a ideologia atropela a ciência, o serviço ao leitor e o bom-senso em troca de nada.

  O caso teve início em 2009, quando a Procuradoria da República recebeu representação de uma pessoa de origem cigana afirmando que havia preconceito por parte dos dicionários brasileiros em relação ao grupo. No Brasil, há aproximadamente 600.000 ciganos. Desde então, segundo o MPF, foram enviados “diversos ofícios e recomendações” às editoras para que mudassem o verbete. As editoras Globo e Melhoramentos, de acordo com o órgão, atenderam às recomendações.

  No entanto, o MPF afirma que não foi feita alteração no caso do Houaiss. A Editora Objetiva alegou que não poderia fazer a mudança porque a publicação é editada pelo Instituto Antônio Houaiss e que ela é apenas detentora dos direitos relativos à publicação. Diante disso, o procurador Cléber Eustáquio Neves entrou com ação solicitando que a justiça determine a imediata retirada de circulação, suspensão de tiragem, venda e distribuição do dicionário.

  “Ao ler em um dicionário, por sinal extremamente bem conceituado, que a nomenclatura cigano significa aquele que trapaceia, velhaco, entre outras coisas do gênero, ainda que se deixe expresso que é uma linguagem pejorativa, ou que se trata de acepções carregadas de preconceito ou xenofobia, fica claro o caráter discriminatório assumido pela publicação”, afirmou. “Trata-se de um dicionário. Ninguém duvida da veracidade do que ali encontra. Sequer questiona. Aquele sentido, extremamente pejorativo, será internalizado, levando à formação de uma postura interna pré-concebida em relação a uma etnia que deveria, por força de lei, ser respeitada”, acrescentou o procurador.

  Para Neves, o texto afronta a Constituição Federal e pode ser considerado racismo. Ele lembrou que o Supremo Tribunal federal já se pronunciou a respeito desse tipo de situação e ressaltou que “o direito à liberdade de expressão não pode albergar posturas preconceituosas e discriminatórias, sobretudo quando caracterizadas como infração penal”.

  Além da retirada da publicação do mercado, o MPF também pediu que a editora e o instituto sejam condenados a pagar 200.000 reais de indenização por danos morais coletivos. [...] 


Revista Veja -08/03/2018



    Veja, a seguir, como o texto lido poderia ser resumido:

A revista Veja chamou de “absurda” e “desastrada” uma ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF) para tirar de circulação o dicionário Houaiss.

O MPF tomou tal iniciativa porque julgou que a publicação contém expressões pejorativas e preconceituosas e pratica racismo ao registrar como uma definição para o termo cigano “aquele que faz barganha, que é apegado a dinheiro; agiota, sovina”.

Segundo a revista, a função dos dicionários é registrar o uso das palavras na sociedade em determinado momento histórico e, portanto, os lexicógrafos prestariam um desserviço se omitissem qualquer uso de um termo da língua, preconceituoso ou não. O periódico afirma ainda que não se muda a realidade apagando um registro de dicionário.

A revista também informa que, segundo o MPF, no caso de dicionário de outras editoras, houve atendimento às recomendações de modificação nos verbetes, o que não ocorreu com o dicionário Houaiss, fato que levou à solicitação de sua retirada de circulação.

Para o procurador que entrou com a ação, um dicionário é uma referência importante e as pessoas tendem a atribuir veracidade às informações ali apresentadas. Dessa forma, o sentido pejorativo da palavra cigano pode influenciar a postura da sociedade em relação às pessoas dessa etnia.

Segundo o procurador, o texto do dicionário é uma afronta à Constituição Federal e, ainda que haja o direito à liberdade de expressão, este não pode prevalecer sobre posturas preconceituosas e discriminatórias.

Conforme a revista, além da retirada da publicação do mercado, o MPF pediu ainda que os responsáveis pelo dicionário Houaiss paguem uma indenização de 200.000 reais por damos morais coletivos. 






quinta-feira, 11 de março de 2021

A técnica do resumo

 







O resumo de fatos

    Para você resumir qualquer texto, é fundamental que, antes de fazê-lo, observe a diferença entre uma informação central e os detalhes referentes a ela. Para tanto, partiremos de um fato central, ao qual acrescentaremos informações adicionais.

      Observe o seguinte fato:

                  Os amigos de Maria fizeram uma grande festa.

    Nela existe uma referência a um fato específico: uma festa realizada pelos amigos de Maria.

    Veja agora como é possível aumentar essa frase com dados adicionais. Inicialmente forneceremos uma característica de Maria

            Os amigos de Maria, funcionária de uma importante firma, fizeram uma grande festa.

    Agora podemos acrescentar uma referência de lugar a essa frase:

           Os amigos de Maria, funcionária de uma importante firma, fizeram, na sala do gerente de vendas, ima grande festa.

    Somamos a todas essas informações uma referência de tempo:

         Os amigos de Maria, funcionária de uma importante firma, fizeram, na sala do gerente de vendas, uma grande festa durante a tarde de ontem.

    A respeito do fato acontecido (a festa), vamos agora explicar a causa:

         Os amigos de Maria, funcionária de uma importante firma, fizeram, na sala do gerente de vendas, uma grande festa durante a tarde de ontem, em comemoração a seu aniversário.

    Informamos agora a frequência com que esse fato ocorre:

        Como acontece todos os anos, os amigos de Maria, funcionária de uma importante firma, fizeram, na sala do gerente de vendas, uma grande festa durante a tarde de ontem, em comemoração a seu aniversário.

    Veja como você deve fazer para resumir esse parágrafo: basta que exclua as informações adicionais que podem ser dadas acerca do fato e deixa apenas os elementos essenciais, para transmitir a informação central. Entendemos por informações adicionais referências ao tempo, ao lugar, à frequência com que o fato ocorre , às características das pessoas envolvidas, à causa do fato, a indicações de instrumentos utilizados para sua realização, etc.

   Observe também que o resumo pode ter o tamanho que você desejar. Por exemplo, no caso do parágrafo acima, você pode resumi-lo de modo a dar somente as informações estritamente essenciais:

        Os amigos de Maria fizeram uma grande festa.

    Você também pode fazer o resumo de modo a incluir somente as referências de tempo e lugar:


         Os amigos de Maria fizeram uma grande festa , na sala do gerente de vendas, durante a tarde de ontem.

    É bom, porém, em seu resumo, eliminar detalhes de menor significação.





    

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Processos de formação das palavras

 

Uma língua não se conserva invariável: há palavras que caem de uso, outras que mudam de significado e outras ainda que são criadas. O vocabulário de uma comunidade está sujeito a um constante processo evolutivo, porque a língua evolui com o homem.

A formação de palavras em língua portuguesa obedece, principalmente, a dois processos: derivação e composição. Os demais processos são o hibridismo, a onomatopeia, a redução de palavras e os estrangeirismos.

A - Derivação

O processo de derivação consiste em formar uma palavra nova (derivada) a partir de outra existente (primitiva). Pode ocorrer das seguintes maneiras:

1. Derivação prefixal (ou por prefixação)

O processo de derivação prefixal consiste em formar uma nova palavra através do uso de prefixo. Observe que a significação do novo vocábulo está normalmente em estreita relação com aquela do radical que lhe serviu de base. Exemplos

a-     +   moral    = amoral
des-  +   leal       = desleal
in-     +  feliz      = infeliz
im-    +  pedir     = impedir
per-    + correr    = percorrer

2. Derivação sufixal (ou por sufixação)

A derivação sufixal ocorre quando acrescentamos um sufixo ao radical. Exemplos:

amor   +   -oso         = amoroso
feliz    `+  -mente    = felizmente
dent     +  - ista        = dentista
livr      +   -aria        =  livraria
suav     +  - izar       = suavizar 
leal       +  -dade      = lealdade

3. Derivação por prefixação e sufixação

Quando se agregam  um prefixo e um sufixo a um radical. Exemplos:

in     +   feliz    + mente      → infelizmente
des    + leal       + dade        → deslealdade

Observação: Note que a presença de apenas um desses afixos é suficiente para formar uma nova palavra, pois em nossa língua existem as palavras "desleal", "lealdade" e "infeliz", "felizmente".

4. Derivação parassintética

Na derivação parassintética ocorre simultaneamente a aglutinação de um prefixo e de um sufixo a um radical. A parassíntese é, em geral, um processo formador de verbos, pois sua incidência é bem menor na geração de vocábulos que pertencem a outras classes de palavras. Exemplos:


    + mud  (o)      +  ecer  = emudecer

des   + alm  (a)       +  ado   = desalmado

Observação: É importante notar que os afixos (prefixos e sufixos) foram aglutinados aos radicais a um só tempo, visto que não há no léxico português as palavras  emudo ou mudecer,  desalma ou almado.

5. Derivação regressiva 

A derivação regressiva consiste na supressão de elementos finais de uma palavra primitiva através da eliminação de sufixos ou terminações confundidas com sufixos. As derivações regressivas podem ser nominais ou verbais. Exemplos: boteco (de botequim), china (de chinês), espora (de esporão), gajo (de gajão), galé (de galera), japa (de japonês), malandro (de malandrim) etc;  ameaça (de ameaçar), grito (de gritar), compra (de comprar), busca (de buscar), choro (de chorar), perda (de perder), venda (de vender)

Os substantivos originários de verbos que passam pela derivação regressiva são chamados substantivos adverbiais ou pós-verbais.

Conforme Barreto (1980), os substantivos que indicam ação são palavras derivadas de verbos que passam pela derivação regressiva. Aqueles que não não indicam ação, mas apenas denotam algum objeto ou substância, são palavras primitivas. Assim, busca, compra e choro são formas derivadas dos verbos buscar, comprar e chorar, enquanto as formas telefone, azeite e escova, que não denotam ação, são formas primitivas que deram origem aos verbos telefonar, azeitar  e escovar.

6. Derivação imprópria

Derivação imprópria é o processo que consiste na mudança da classe de palavras sem que haja alteração no vocábulo primitivo. Exemplos:

Os maus pagarão pelos seus erros
  (adjetivo substantivado)

Todos buscam o saber das coisas.
            (verbo substantivado)

É um homem criança.
                      (substantivo adjetivado)
Ele falou claro.
               (adjetivo adverbializado)

Exemplos práticos:
Como meu pai está velho.
                               (adjetivo)

O velho acabou de sair.
    (substantivo)

Não lhe darei a resposta.
(advérbio)

O não é uma palavra difícil de dizer.
(substantivo)

B - Composição

Composição é o processo pelo qual a formação de palavras se dá pela união de dois ou mais radicais. Pode ocorrer:

1. Por justaposição

Quando não há alteração  fonética nos radicais ( a palavra composta  conserva  a mesma pronúncia que as palavras primitivas possuíam separadamente).

ponta   +     pé    →       pontapé

Outros exemplos:
girassol, malmequer, mandachuva, hidroelétrica, passatempo, bancarrota, madressilva, e etc.

2. Por aglutinação

Quando há alteração fonética nos radicais (os compostos por aglutinação são aquelas palavras nas quais o primeiro elemento perde acento e fonema ao unir-se intimamente ao segundo constituinte).

plano      +        alto             →       planalto
água        +       ardente        →       aguardente
petra       +       óleo             →        petróleo
vinho      +       agre             →       vinagre
em          +       boa  + hora  → embora

Além desses dois processos básicos (derivação e composição), são registrados outros tipos  de formação de palavras.

3. Abreviação ou redução

É  a forma reduzida que algumas palavras apresentam:

auto (automóvel)
cine (cinema)
quilo (quilograma)
extra (extraordinário)
moto (motocicleta)
pneu (pneumático)
foto (fotografia)tevê (televisão)
apê (apartamento)
pólio (poliomielite)
pornô (pornográfico)
metrô (metropolitano)

4. Onomatopeia

É a palavra que procura imitar certas vozes ou ruídos:
tique-taque
zunzum
pife-pafe
fonfom
reco-reco
plaft!
cocorocó
pingue-pongue
catapimba!

5. Hibridismo

É a formação de palavras de línguas diferentes.
sócio/logia     ( árabe + grego)
decí/metro      (latim +grego)
buro/cracia     (francês + grego)
mono/cultura  (grego + latim)
zinco/grafia    (alemão  + grego)
caipor/ismo     (tupi + grego)

6. Abreviatura / sigla

Abreviação (redução) e abreviatura não se confundem. Abreviatura é a redução na grafia de certas palavras, limitando-a à letra inicial ou às letras iniciais e, às vezes, à letra inicial com a final.

Exemplos: p ou pág. (página), AV (Avenida), Sr. (Senhor). Também não se confundam tais noções com a de sigla, caso especial de abreviatura, na qual se reduzem locuções  substantivas próprias as suas letras ou sílabas iniciais.
Exemplo: ONU, VARIG, SUDENE, DETRAN, SUDAM, PMDB.





quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Estrutura das palavras



1) Palavra

A palavra é um elemento da frase que se compõe de uma unidade sonora ou de um grupo de unidades sonoras com significação. Além do elemento sonoro, a palavra possui elementos morfológicos ou morfemas.

2) Morfema

O morfema é uma unidade significativa mínima que constitui o elemento ou os elementos da palavra.

Os morfemas podem ser livres, os que ocorrem sozinhos como palavras (belo, pêssego, rua), ou presos, os que não ocorrem isoladamente, isto é, não possuem autonomia lexical (belíssimo, pêssegos, ruazinha).

Os morfemas classificam-se também como lexicais e gramaticais, levando-se em conta a natureza da significação. O morfema lexical refere-se à realidade do ser humano e apresenta uma significação que está relacionada ao universo extralinguístico. O morfema gramatical refere-se ao sistema linguístico em si e revela gênero, número, grau, tempo, modo e pessoa.

3) Alomorfe

Alomorfe é a variante de um morfema. O morfema in-, por exemplo, apresenta alomorfes im- e i-, dependendo do contexto fonológico em que aparecem. Observe os exemplos abaixo:

incomum          imberbe          ilegal

indecente          imbatível       imaturo

infeliz               impessoal       irregular

Do ponto de vista semântico, o morfema in- e seus alomorfes significam negação ou privação. Do ponto de vista distribucional, o alomorfe im- ocorre sempre antes das consoantes bilabiais, o alomorfe i- antes das consoantes laterais, nasais e vibrantes e o in- ocorre nos demais contextos fonológicos.

O morfema -aria, que indica principalmente estabelecimento comercial ou atividade, possui o alomorfe -eria. Este se aglutina , geralmente, a alguns nomes que terminam com a vogal e: leite/leiteria, sorvete/sorveteria, chope/choperia, mas peixe/peixaria.

4) Radical

O morfema lexical é também chamado de radical ou semantema. Radicais ou semantemas são elementos que encerram o significado das palavras. Nos vocábulos filhos e garota, os radicais são filh- e garot- e os morfemas gramaticais são -os e -a. 

Ao  analisarmos os vocábulos terra, terreno, terrestre, terraço, enterrar, desenterrar e aterrar, observamos que todos eles possuem um elemento comum que é terr-, o radical (parte invariável de um grupo de palavras). Portanto, radical é o morfema que contém a significação lexical da palavra. Outros exemplos:

pedra – pedreiro – pedrinha – apedrejar

perder – perdido – perdedor - imperdível

livr- o

livr- inho

livr- eiro

livr- eco


5) Vogal temática

É a que vem logo após o radical, preparando-o, assim, para receber outros elementos:

falar           →     fal        →                                 →               r

                      (radical)              (vogal temática)


amar         →    am        →                      a               →               r

                    (radical)                (vogal temática)


cantor      →   cant       →                       o              →                r

                   (radical)                (vogal temática)

Observação:

A vogal temática caracteriza a conjugação dos verbos. São três as vogais temáticas verbais:

fal →     a        → r                          vend  →   → r                                  part →  →    r 

   (1.ª conjugação)                                (2.ª conjugação)                               (3.ª conjugação)


6) Tema

É o radical acrescido  da vogal temática:

rost       +              o       →                 rosto                         

(radical)     (vogal temática)              (tema)                    

fal         +               a       →                fala                           

(radical)     (vogal temática)             (tema)

part      +                i         →              parti

(radical)     (vogal temática)             (tema)                    

vend     +               e       →               vende

(radical)     (vogal temática)             (tema)


7) Desinência

É o elemento indicativo de gênero e número dos nomes e de modo, tempo, número e pessoa dos verbos.

Pode ser, portanto:

a) nominal: quando indica o gênero e número  dos nomes (substantivos, adjetivos, numerais e pronomes).

gatas              →            gat →                                 a                  →                                s

                                   (radical)             (desinência de gênero)                (desinência de número)


b) verbal: quando indica o modo, o tempo, o número e a pessoa dos verbos.

fal        →                      à          →                     va                           →                 mos 

(radical)         (vogal temática)     (desinência modo temporal)     (desinência número-pessoal)

                                                                   ( DMT)                                         (DNP)


Observações

1°) Quando um nome está no masculino singular (gato, por exemplo), possui desinência zero de gênero e de número; de gênero porque o masculino é uma forma não-marcada, e de número porque a ausência  da desinência de plural é que indica a forma singular.

2°) Consideradas as desinências como elementos usados na flexão dos nomes (em gênero e número) e na flexão dos verbos  (em modo, tempo, número e pessoa), tem-se que, a rigor, , o grau não é flexão, porque o elemento que o exprime não é desinência mas sufixo. O sufixo  é que pode sofrer flexão:

ga               →           inh                  →                   a                           →                     s

(radical)                (sufixo)                       (desinência de gênero)            (desinência de número)

3°) A vogal átona final" a" será desinência de gênero quando opuser o masculino ao feminino.

gato   →  gata; lindo   linda; menino   → menina

4°) Em palavras como mesa, leite e fogo, as vogais átonas finais a, e, o são vogais temáticas nominais, porque não opõem o masculino ao feminino. Essas vogais desaparecem quando é acrescentado à palavra um sufixo.

Exemplos: mes  → inha;                         leit  → eiro;                fog  → aréu

5°) Os nomes terminados em consoante ou vogal tônica possuem apenas o radical, não apresentam vogal temática.

Exemplos: animal, dor, raiz, lápis, café, sofá, tatu

6°) Os nomes terminados pelas consoantes r, z ou l apresentam vogal temática apenas no plural:

dor   → dores;                                         raiz  → raízes;                animal  → animais

Em animais a vogal temática é a semivogal i.

8) Afixo

É o elemento que se junta ao radical para a formação de novas palavras. Pode ser, portanto:

a) prefixo: elemento colocado antes do radical.

in                    +        feliz     →                  infeliz

(prefixo)                  (radical)

b) sufixo: elemento colocado depois do radical.

feliz                 +       mente   →                 felizmente

(radical)                    (sufixo)

9) vogais e consoantes de ligação

São elementos que se intercalam a certos elementos mórficos a fim de facilitar a pronúncia da palavra.

café                +     cultura          →                       café     -           i   -                    cultura

(radical)              (radical)                                              (vogal de ligação)


chá                  +     eira             →                         cha     -           l   -                    eira

(radical)               (sufixo)                                                  (consoante de ligação)









quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Uso dos porquês: porque, porquê, por que ou por quê

Por que, Por quê, Porque ou Porquê? Uso dos porquês - Brasil Escola

Come, meu filho

— O mundo parece chato mas eu sei que não é.

—  . . .

— Sabe por que parece chato? Porque, sempre que a gente olha, o céu está em cima, nunca está embaixo, nunca está de lado. Eu sei que o mundo é redondo porque disseram, mas só ia parecer redondo se a gente olhasse e às vezes o céu estivesse lá embaixo. Eu sei que é redondo, mas para mim é chato, mas Ronaldo só sabe que o mundo é redondo, para ele não parece chato.

 —  . . .

 — Porque eu estive em muitos países e vi que nos Estados Unidos o céu também é em cima, por isso o mundo parecia todo reto para mim. Mas Ronaldo nunca saiu do Brasil e pode pensar que só aqui é que o céu é lá em cima, que nos outros lugares não é chato, que só é chato no Brasil, que nos outros lugares que ele não viu vai arredondando. Quando dizem para ele, é só acreditar, pra ele nada precisa parecer. Você prefere prato fundo ou prato chato, mamãe?

 — Chat… — raso, quer dizer.

 — Eu também. No fundo, parece que cabe mais, mas é só para o fundo, no chato cabe para os lados e a gente vê logo tudo o que tem. Pepino não parece inreal?

 — Irreal.

 — Por que você acha?

— Se diz assim. 

 Não, por que é que você também achou que pepino parece inreal? Eu também. A gente olha e vê um pouco do outro lado, é cheio de desenho bem igual, é frio na boca, faz barulho de um pouco de vidro quando se mastiga. Você não acha que pepino parece inventado?

 — Parece.

 — Onde foi inventado feijão com arroz?

 — Aqui.

 — Ou no árabe, igual que Pedrinho disse de outra coisa?

 — Aqui.

— Na Sorveteria Gatão o sorvete é bom porque tem gosto igual da cor. Para você carne tem gosto de carne?

 — Às vezes.

 — Duvido! Só quero ver: da carne pendurada no açougue?!

 — Não.

 — E nem da carne que a gente fala. Não tem gosto de quando você diz que carne tem vitamina.

 — Não fala tanto, come.

 — Mas você está olhando desse jeito para mim, mas não é para eu comer, é porque você está gostando muito de mim, adivinhei ou errei?

 — Adivinhou. Come, Paulinho.

 — Você só pensa nisso. Eu falei muito para você não pensar só em comida, mas você vai e não esquece.

 

(LISPECTOR, Clarice.Para não esquecer. São Paulo, Círculo do livro, 1988. p.122-124)




Problemas gerais da língua culta

Por que, por quê, porque, porquê

No texto de abertura do estudo, surgem as formas "por que" e "porque":

"Sabe por que parece chato? Porque, sempre que a gente olha, o céu está em cima..."

A forma por que é, no caso, a sequencia  de uma preposição (por) e um pronome interrogativo (que). Em termos práticos, observe que é uma expressão equivalente a por qual razão, por qual motivo.

Veja outros casos  em que ela ocorre:

Por que você acha?"

— Não, por que é que você achou que pepino parece inreal?"

Não é fácil saber por que a situação persiste em não melhorar.

Não sei por que você acha isso.

— Não deixe de ler a matéria intitulada:" Por que os corruptos não vão para a cadeia". É impressionante!

Caso surja no final de uma frase, imediatamente antes de um ponto (final, de interrogação, de exclamação) ou reticências, a sequencia  deve ser grafada por quê , pois , devido à posição na frase, o monossílabo que passa a ser tônico, devendo ser acentuado:

— Ainda não terminou? Por quê?
— Você tem coragem de perguntar  por quê?
—  Claro. Por quê?
—  Não sei por quê!

Há casos em que por que representa a sequência preposição + pronome relativo, equivalendo a pelo qual  (ou alguma de suas flexões pela qual, pelos quais, pelas quais). Em outros contextos por que equivale a para que. Observe:

Estas são as reivindicações por que estamos lutando.
O túnel  por que deveríamos passar desabou ontem.
Lutamos por que um dia este país seja melhor.

Já a forma porque que surge em "Porque, sempre que a gente olha, o céu está em cima, ..."é uma conjunção, equivalendo a pois, já que, uma vez que, como. Observe o seu emprego em outros exemplos:

"— Porque eu estive em muitos países e vi que nos Estados Unidos o céu também é em cima, por isso o mundo parecia todo reto para mim."

"— Na Sorveteria Gatão o sorvete é bom porque tem gosto igual da cor."

A situação agravou-se porque muita gente se omitiu.

— Sei que há algo errado porque ninguém apareceu até agora.

— Você continua implicando comigo! É porque  eu não abro mão das minhas ideias.

Porque também pode indicar finalidade, equivalendo a para que, a fim de.Trata-se de um uso pouco frequente na língua atual:
 
—Não julgues porque não te julguem.

A forma porquê representa um substantivo. Significa causa, razão, motivo e normalmente surge acompanhada de palavra determinante (artigo, por exemplo). Como é um substantivo, pode ser pluralizado sem nenhum problema:

— Dê-me ao menos um porquê para sua atitude.

Não é fácil encontrar o porquê de toda essa confusão.

— Creio que os verdadeiros porquês mais uma vez não vieram à luz.
 






















quinta-feira, 9 de julho de 2020

Cinco Horas - Mário de Sá-Carneiro

Cinco Horas - Poema de Mário de Sá-Carneiro


Minha mesa no Café,
Quero-lhe tanto... A garrida
Toda de pedra brunida
Que linda e fresca é!

Um sifão verde no meio
E, ao seu lado, a fosforeira
Diante ao meu copo cheio
Duma bebida ligeira.

(Eu bani sempre os licores
Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais.)

Sobre ela posso escrever
Os meu versos prateados,
Com estranheza dos criados
Que me olham sem perceber...

Sobre ela descanso os braços
Numa atitude alheada,
Buscando pelo ar os traços
Da minha vida passada.

Ou acendendo cigarros,
— Pois há um ano que fumo —
Imaginário presumo
Os meus enredos bizarros.

(E se acaso em minha frente
Uma linda mulher brilha,
O fumo da cigarrilha
Vai beijá-la, claramente)

Um novo freguês que entra
É novo actor no tablado,
Que o meu olhar fatigado
Nele outro enredo concentra.

É o carmim daquela boca
Que ao fundo descubro, triste,
Na minha idéia persiste
E nunca mais se desloca.

Cinge tais futilidades
A minha recordação,
E destes vislumbres são
As minhas maiores saudades...

(Que história de Oiro tão bela
Na minha vida abortou:
Eu fui herói de novela
Que autor nenhum empregou...)

Nos cafés espero a vida
Que nunca vem ter comigo:
— Não me faz nenhum castigo,
Que o tempo passa em corrida.

Passar tempo é o meu fito,
Ideal que só me resta:
Pra mim não há melhor festa,
Nem mais nada acho bonito.

— Cafés da minha preguiça,
Sois hoje — que galardão! —
Todo o meu campo de acção
E toda minha cobiça.


Mário de Sá-Carneiro (Lisboa, 1890 — Paris, 1916)

Estudou em Paris, onde se matriculou na Faculdade de Direito. Foi muito amigo de Fernando Pessoa e com este fundou a revista Orpheu (1915). Espírito neurótico, profundamente sensível, suicidou-se  em um dos quartos do Hotel Nice, na França. Poderia ter produzido mais. O que deixou dá a dimensão de um dos grandes poetas da literatura de Portugal.

 Considerações gerais

Sua poesia contém as inovações formais do futurismo, porém mescladas harmoniosamente com o clima terno das velhas redondilhas lusitanas, à maneira dos poemas de "saudade", sentimento tão fundamental na cultura portuguesa. Mário de Sá-Carneiro não tem o impulso intelectual que caracteriza a inteligência de seu colega Fernando Pessoa, mas nem por isso deixa de ser um poeta de magnífica autoconsciência, especialmente autoconsciência carregada de certo humor triste, de quem se perdeu dentro de si mesmo. Na prosa, mais precisamente nos contos, Mário de Sá-Carneiro cria situações de absurdo com a identidade dos personagens, aproximando-se bastante da representação surrealista de investigação mágica do mundo.

Obras

Poesia: Dispersão (1912), Indícios de Ouro (1937, publicação póstuma);
Novelas: Princípio (1912), A Confissão de Lúcio (1914), Céu em Fogo (1915),
Teatro: A Amizade (1912);
Correspondência: Carta a Fernando Pessoa (1958-59, publicação póstuma).

Atividade proposta

1) 

Aponte o aspecto mais evidente do modernismo que constatamos ao longo do poema. Em outros termos, que aspecto temático é obviamente uma novidade modernista, dentro do poema?

2)  

Partamos da hipótese de que o poema lido tenha traços passadistas, além de modernistas. Quais seriam esses traços e a que outra escola literária estariam vinculados?