Claudio Manuel da Costa nasceu em Minas Gerais,
em 1729. Com apenas 20 anos embarcou para Portugal com a finalidade de
completar seus estudos na Universidade de Coimbra. Retornou ao Brasil entre
1753 e 1754. Dedicou-se ao Direito, exercendo a função de advogado jurista,
procurador da Coroa portuguesa, desembargador e secretário de governo, o que
lhe permitiu acumular grande fortuna.
Promovia saraus em que, além de declamar seus poemas, ouvia
textos escritos por poetas com os quais compartilhava amizade. Em 1789, foi
acusado como um dos conspiradores na Inconfidência Mineira. Morreu de maneira
enigmática, em uma das celas onde ficara preso, nesse mesmo ano. Seu pseudônimo
como poeta era Glauceste Satúrnio.
A obra poética de Cláudio Manuel da Costa procura adequar à
paisagem local aos padrões do Arcadismo. Sua obra, no entanto, também mostra
uma expressão nacionalista. É o que se pode notar em uma passagem (fragmento)
de um de seus textos mais famosos: Vila Rica.
Cantemos, Musa, a fundação primeira
Da Capital das Minas; onde inteira
Se guarda ainda, e vive inda a memória,
Que enche de aplauso de Albuquerque a história.
Tu, pátrio ribeirão, que em outra idade
Deste assunto a meu verso, na igualdade
De um épico transporte, hoje me inspira
Mais digno influxo; por que entoe a lira;
Porque leve o meu canto ao clima estranho
O claro herói, que sigo, e que acompanho:
Faze vizinho ao Tejo, enfim que eu veja
Cheias de Ninfas de amorosa inveja.
[...]
Essa passagem trata da fundação de Vila Rica, primeira
capital de Minas Gerais. A inspiração vem do “pátrio Ribeirão”, que faz que o
eu do poema sinta-se transportado para um sentimento épico, ainda que se encontrasse
em um “clima estranho”, isto é, em um local que não seria próprio para esse
tipo de “canto” (poema).
Em resumo, há na poesia de Cláudio Manuel da Costa um
desajuste entre o desejo de fazer um poema nos moldes neoclássicos, com
cenários pastoris e tomado de um clima épico ou lírico, e aquilo que a paisagem
brasileira de Minas Gerais, composta de montanhas e florestas virgens, permite.
Ou seja, o poeta compõe uma obra dividida entre as regras da poesia árcade e a
realidade brasileira.
Dica
A poesia de Cláudio Manuel da Costa quase sempre apresenta
uma tensão interna, muitas vezes uma contradição. O eu do texto expressa uma
divisão entre o modelo neoclássico-europeu, inspirado na cultura grega e romana
– e a necessidade de falar de sua terra, de seu povo e das circunstâncias em
que vive. Quer falar, portanto, de algo próximo, e não de uma realidade
artificial, como a criada em muitos poemas do período.
Para saber mais...
Ótima leitura sobre o poema. Ajudou-me bastante a entende-lo um pouco melhor.
ResponderExcluirObrigada.