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quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Processos de formação das palavras

 

Uma língua não se conserva invariável: há palavras que caem de uso, outras que mudam de significado e outras ainda que são criadas. O vocabulário de uma comunidade está sujeito a um constante processo evolutivo, porque a língua evolui com o homem.

A formação de palavras em língua portuguesa obedece, principalmente, a dois processos: derivação e composição. Os demais processos são o hibridismo, a onomatopeia, a redução de palavras e os estrangeirismos.

A - Derivação

O processo de derivação consiste em formar uma palavra nova (derivada) a partir de outra existente (primitiva). Pode ocorrer das seguintes maneiras:

1. Derivação prefixal (ou por prefixação)

O processo de derivação prefixal consiste em formar uma nova palavra através do uso de prefixo. Observe que a significação do novo vocábulo está normalmente em estreita relação com aquela do radical que lhe serviu de base. Exemplos

a-     +   moral    = amoral
des-  +   leal       = desleal
in-     +  feliz      = infeliz
im-    +  pedir     = impedir
per-    + correr    = percorrer

2. Derivação sufixal (ou por sufixação)

A derivação sufixal ocorre quando acrescentamos um sufixo ao radical. Exemplos:

amor   +   -oso         = amoroso
feliz    `+  -mente    = felizmente
dent     +  - ista        = dentista
livr      +   -aria        =  livraria
suav     +  - izar       = suavizar 
leal       +  -dade      = lealdade

3. Derivação por prefixação e sufixação

Quando se agregam  um prefixo e um sufixo a um radical. Exemplos:

in     +   feliz    + mente      → infelizmente
des    + leal       + dade        → deslealdade

Observação: Note que a presença de apenas um desses afixos é suficiente para formar uma nova palavra, pois em nossa língua existem as palavras "desleal", "lealdade" e "infeliz", "felizmente".

4. Derivação parassintética

Na derivação parassintética ocorre simultaneamente a aglutinação de um prefixo e de um sufixo a um radical. A parassíntese é, em geral, um processo formador de verbos, pois sua incidência é bem menor na geração de vocábulos que pertencem a outras classes de palavras. Exemplos:


    + mud  (o)      +  ecer  = emudecer

des   + alm  (a)       +  ado   = desalmado

Observação: É importante notar que os afixos (prefixos e sufixos) foram aglutinados aos radicais a um só tempo, visto que não há no léxico português as palavras  emudo ou mudecer,  desalma ou almado.

5. Derivação regressiva 

A derivação regressiva consiste na supressão de elementos finais de uma palavra primitiva através da eliminação de sufixos ou terminações confundidas com sufixos. As derivações regressivas podem ser nominais ou verbais. Exemplos: boteco (de botequim), china (de chinês), espora (de esporão), gajo (de gajão), galé (de galera), japa (de japonês), malandro (de malandrim) etc;  ameaça (de ameaçar), grito (de gritar), compra (de comprar), busca (de buscar), choro (de chorar), perda (de perder), venda (de vender)

Os substantivos originários de verbos que passam pela derivação regressiva são chamados substantivos adverbiais ou pós-verbais.

Conforme Barreto (1980), os substantivos que indicam ação são palavras derivadas de verbos que passam pela derivação regressiva. Aqueles que não não indicam ação, mas apenas denotam algum objeto ou substância, são palavras primitivas. Assim, busca, compra e choro são formas derivadas dos verbos buscar, comprar e chorar, enquanto as formas telefone, azeite e escova, que não denotam ação, são formas primitivas que deram origem aos verbos telefonar, azeitar  e escovar.

6. Derivação imprópria

Derivação imprópria é o processo que consiste na mudança da classe de palavras sem que haja alteração no vocábulo primitivo. Exemplos:

Os maus pagarão pelos seus erros
  (adjetivo substantivado)

Todos buscam o saber das coisas.
            (verbo substantivado)

É um homem criança.
                      (substantivo adjetivado)
Ele falou claro.
               (adjetivo adverbializado)

Exemplos práticos:
Como meu pai está velho.
                               (adjetivo)

O velho acabou de sair.
    (substantivo)

Não lhe darei a resposta.
(advérbio)

O não é uma palavra difícil de dizer.
(substantivo)

B - Composição

Composição é o processo pelo qual a formação de palavras se dá pela união de dois ou mais radicais. Pode ocorrer:

1. Por justaposição

Quando não há alteração  fonética nos radicais ( a palavra composta  conserva  a mesma pronúncia que as palavras primitivas possuíam separadamente).

ponta   +     pé    →       pontapé

Outros exemplos:
girassol, malmequer, mandachuva, hidroelétrica, passatempo, bancarrota, madressilva, e etc.

2. Por aglutinação

Quando há alteração fonética nos radicais (os compostos por aglutinação são aquelas palavras nas quais o primeiro elemento perde acento e fonema ao unir-se intimamente ao segundo constituinte).

plano      +        alto             →       planalto
água        +       ardente        →       aguardente
petra       +       óleo             →        petróleo
vinho      +       agre             →       vinagre
em          +       boa  + hora  → embora

Além desses dois processos básicos (derivação e composição), são registrados outros tipos  de formação de palavras.

3. Abreviação ou redução

É  a forma reduzida que algumas palavras apresentam:

auto (automóvel)
cine (cinema)
quilo (quilograma)
extra (extraordinário)
moto (motocicleta)
pneu (pneumático)
foto (fotografia)tevê (televisão)
apê (apartamento)
pólio (poliomielite)
pornô (pornográfico)
metrô (metropolitano)

4. Onomatopeia

É a palavra que procura imitar certas vozes ou ruídos:
tique-taque
zunzum
pife-pafe
fonfom
reco-reco
plaft!
cocorocó
pingue-pongue
catapimba!

5. Hibridismo

É a formação de palavras de línguas diferentes.
sócio/logia     ( árabe + grego)
decí/metro      (latim +grego)
buro/cracia     (francês + grego)
mono/cultura  (grego + latim)
zinco/grafia    (alemão  + grego)
caipor/ismo     (tupi + grego)

6. Abreviatura / sigla

Abreviação (redução) e abreviatura não se confundem. Abreviatura é a redução na grafia de certas palavras, limitando-a à letra inicial ou às letras iniciais e, às vezes, à letra inicial com a final.

Exemplos: p ou pág. (página), AV (Avenida), Sr. (Senhor). Também não se confundam tais noções com a de sigla, caso especial de abreviatura, na qual se reduzem locuções  substantivas próprias as suas letras ou sílabas iniciais.
Exemplo: ONU, VARIG, SUDENE, DETRAN, SUDAM, PMDB.





quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Estrutura das palavras



1) Palavra

A palavra é um elemento da frase que se compõe de uma unidade sonora ou de um grupo de unidades sonoras com significação. Além do elemento sonoro, a palavra possui elementos morfológicos ou morfemas.

2) Morfema

O morfema é uma unidade significativa mínima que constitui o elemento ou os elementos da palavra.

Os morfemas podem ser livres, os que ocorrem sozinhos como palavras (belo, pêssego, rua), ou presos, os que não ocorrem isoladamente, isto é, não possuem autonomia lexical (belíssimo, pêssegos, ruazinha).

Os morfemas classificam-se também como lexicais e gramaticais, levando-se em conta a natureza da significação. O morfema lexical refere-se à realidade do ser humano e apresenta uma significação que está relacionada ao universo extralinguístico. O morfema gramatical refere-se ao sistema linguístico em si e revela gênero, número, grau, tempo, modo e pessoa.

3) Alomorfe

Alomorfe é a variante de um morfema. O morfema in-, por exemplo, apresenta alomorfes im- e i-, dependendo do contexto fonológico em que aparecem. Observe os exemplos abaixo:

incomum          imberbe          ilegal

indecente          imbatível       imaturo

infeliz               impessoal       irregular

Do ponto de vista semântico, o morfema in- e seus alomorfes significam negação ou privação. Do ponto de vista distribucional, o alomorfe im- ocorre sempre antes das consoantes bilabiais, o alomorfe i- antes das consoantes laterais, nasais e vibrantes e o in- ocorre nos demais contextos fonológicos.

O morfema -aria, que indica principalmente estabelecimento comercial ou atividade, possui o alomorfe -eria. Este se aglutina , geralmente, a alguns nomes que terminam com a vogal e: leite/leiteria, sorvete/sorveteria, chope/choperia, mas peixe/peixaria.

4) Radical

O morfema lexical é também chamado de radical ou semantema. Radicais ou semantemas são elementos que encerram o significado das palavras. Nos vocábulos filhos e garota, os radicais são filh- e garot- e os morfemas gramaticais são -os e -a. 

Ao  analisarmos os vocábulos terra, terreno, terrestre, terraço, enterrar, desenterrar e aterrar, observamos que todos eles possuem um elemento comum que é terr-, o radical (parte invariável de um grupo de palavras). Portanto, radical é o morfema que contém a significação lexical da palavra. Outros exemplos:

pedra – pedreiro – pedrinha – apedrejar

perder – perdido – perdedor - imperdível

livr- o

livr- inho

livr- eiro

livr- eco


5) Vogal temática

É a que vem logo após o radical, preparando-o, assim, para receber outros elementos:

falar           →     fal        →                                 →               r

                      (radical)              (vogal temática)


amar         →    am        →                      a               →               r

                    (radical)                (vogal temática)


cantor      →   cant       →                       o              →                r

                   (radical)                (vogal temática)

Observação:

A vogal temática caracteriza a conjugação dos verbos. São três as vogais temáticas verbais:

fal →     a        → r                          vend  →   → r                                  part →  →    r 

   (1.ª conjugação)                                (2.ª conjugação)                               (3.ª conjugação)


6) Tema

É o radical acrescido  da vogal temática:

rost       +              o       →                 rosto                         

(radical)     (vogal temática)              (tema)                    

fal         +               a       →                fala                           

(radical)     (vogal temática)             (tema)

part      +                i         →              parti

(radical)     (vogal temática)             (tema)                    

vend     +               e       →               vende

(radical)     (vogal temática)             (tema)


7) Desinência

É o elemento indicativo de gênero e número dos nomes e de modo, tempo, número e pessoa dos verbos.

Pode ser, portanto:

a) nominal: quando indica o gênero e número  dos nomes (substantivos, adjetivos, numerais e pronomes).

gatas              →            gat →                                 a                  →                                s

                                   (radical)             (desinência de gênero)                (desinência de número)


b) verbal: quando indica o modo, o tempo, o número e a pessoa dos verbos.

fal        →                      à          →                     va                           →                 mos 

(radical)         (vogal temática)     (desinência modo temporal)     (desinência número-pessoal)

                                                                   ( DMT)                                         (DNP)


Observações

1°) Quando um nome está no masculino singular (gato, por exemplo), possui desinência zero de gênero e de número; de gênero porque o masculino é uma forma não-marcada, e de número porque a ausência  da desinência de plural é que indica a forma singular.

2°) Consideradas as desinências como elementos usados na flexão dos nomes (em gênero e número) e na flexão dos verbos  (em modo, tempo, número e pessoa), tem-se que, a rigor, , o grau não é flexão, porque o elemento que o exprime não é desinência mas sufixo. O sufixo  é que pode sofrer flexão:

ga               →           inh                  →                   a                           →                     s

(radical)                (sufixo)                       (desinência de gênero)            (desinência de número)

3°) A vogal átona final" a" será desinência de gênero quando opuser o masculino ao feminino.

gato   →  gata; lindo   linda; menino   → menina

4°) Em palavras como mesa, leite e fogo, as vogais átonas finais a, e, o são vogais temáticas nominais, porque não opõem o masculino ao feminino. Essas vogais desaparecem quando é acrescentado à palavra um sufixo.

Exemplos: mes  → inha;                         leit  → eiro;                fog  → aréu

5°) Os nomes terminados em consoante ou vogal tônica possuem apenas o radical, não apresentam vogal temática.

Exemplos: animal, dor, raiz, lápis, café, sofá, tatu

6°) Os nomes terminados pelas consoantes r, z ou l apresentam vogal temática apenas no plural:

dor   → dores;                                         raiz  → raízes;                animal  → animais

Em animais a vogal temática é a semivogal i.

8) Afixo

É o elemento que se junta ao radical para a formação de novas palavras. Pode ser, portanto:

a) prefixo: elemento colocado antes do radical.

in                    +        feliz     →                  infeliz

(prefixo)                  (radical)

b) sufixo: elemento colocado depois do radical.

feliz                 +       mente   →                 felizmente

(radical)                    (sufixo)

9) vogais e consoantes de ligação

São elementos que se intercalam a certos elementos mórficos a fim de facilitar a pronúncia da palavra.

café                +     cultura          →                       café     -           i   -                    cultura

(radical)              (radical)                                              (vogal de ligação)


chá                  +     eira             →                         cha     -           l   -                    eira

(radical)               (sufixo)                                                  (consoante de ligação)