Merci d'etre parmis nous*Thank you for being among us* Gracias por estar entre nosotros*Obrigado por estar entre nós* Grazie per essere in mezzo a noi* Danke, dass Sie bei uns* Спасибо за то, что среди нас*Terima kasih kerana menjadi antara kita*私たちの間にいてくれてありがとう* شكرا لك لأنك بيننا

terça-feira, 1 de junho de 2010

O Uruguai - Basílio da Gama


´´Serás lido, Uruguai. Cubra os meus olhos

Embora um dia a escura noite eterna.

Tu vive e goza a luz serena e pura.``

(Basílio da Gama)



O principal poema épico do Arcadismo foi O Uruguai (1769), de Basílio da Gama, cujo assunto é a guerra movida pelos portugueses e espanhóis contra os índios, instigados pelos jesuítas, na região dos Sete Povos das Missões. Ele inovou a poesia de seu tempo, por não utilizar a mitologia convencional. Não se orientou, além disso, pelo bucolismo, também convencional em sua época. Conseguiu criar uma obra de fôlego e certa elegância poética, apesar de residir seu maior feito na quebra da estrutura camoniana. Foi diferente, inclusive, na escolha da temática, ao cantar um assunto de sua contemporaneidade. Além do nativismo e da liberdade formal em relação aos modelos da epopéia clássica e além da presença pela primeira vez da mitologia indígena ao invés da clássica, o tom trágico desta epopéia faz com que seja considerada uma obra pré-romântica.


O poema narra o que foi a luta pela posse da terra, travada em princípios de 1757. A situação envolvida era mais ou menos esta: a noroeste do atual Rio Grande do Sul, havia sete povoados dominados por jesuítas espanhóis e índios guaranis. Em contrapartida, ao sul do Uruguai, perto de Montevidéu, havia uma colônia portuguesa, Sacramento. Portanto: em terra portuguesa, possessão espanhola; em terra espanhola, possessão portuguesa. Para resolver esta improbidade territorial, fez-se, em 1750, o chamado Tratado de Madri. De acordo com seus dispositivos, Portugal deveria entregar a Colônia do Sacramento aos espanhóis e deles receber os Sete Povos das Missões. Havia lá, no entanto, 30.000 índios e 72 jesuítas. E quando Gomes Freire de Andrade, comissário português encarregado da demarcação de limites, se aproxima da localidade, os índios, sob orientação jesuítica, atacam-no. O chefe português recua e se comunica com Espanha. De lá vêm reforços e, sob o comando de Gomes Freire, o exército luso-espanhol dizima os índios.


Basílio da Gama nasceu em Tiradentes, Minas Gerais, em 1740 e faleceu em Lisboa, Portugal, em 1795. Estudou em colégio jesuíta, no Rio de Janeiro, e tinha intenção de ingressar na carreira eclesiástica. Completou os estudos em Portugal e na Itália, no período em que os jesuítas foram expulsos dos domínios portugueses. Na Itália, Basílio construiu uma carreira literária, tendo conseguido uma façanha única entre os brasileiros da época: ingressar na Arcádia Romana, na qual assumiu o pseudônimo de Termindo Sipílio.


Em 1767 voltou ao Rio de Janeiro, onde foi preso no ano seguinte, acusado de ter amizade com os jesuítas. De acordo com um decreto então em vigor, qualquer pessoa que mantivesse comunicação com os jesuítas, oral ou escrita, deveria ficar exilada durante oito anos, em Angola. Preso, Basílio da Gama foi levado a Lisboa. Lá, livrou-se da prisão por dedicar um Epitalâmio (poema que celebra o casamento de alguém) em homenagem à filha do Marquês de Pombal, primeiro-ministro de D. José I.


Epitalâmio (fragmento)


Eu não verei passar teus doces anos,

Alma de amor e de piedade cheia;

Esperam-me os desertos africanos,

Áspera, inculta a monstruosa areia.

..........................................................

Que siga os passos e o paterno exemplo,

E se deixe guiar da sua estrela,

Que de fortes leões leões se geram,

Nem os filhos das águas degeneram.


Está mais que claro o objetivo de elogiar filha (Maria Amália) e pai poderoso para se ver livre da punição que lhe impusera. A primeira estrofe do poema acima faz referência ao exílio na África, a que seria submetido se Pombal não o perdoasse. Essa amizade lhe abriu novos contatos com os árcades portugueses e um belo emprego público na Secretaria dos Negócios Estrangeiros.


O Uruguai foi escrito em decassílabos brancos (isto é, sem rimas), com estrofação livre, e é composto de cinco cantos (ao invés dos dez cantos de Os Lusíadas); percebe-se nele claramente uma crítica do autor à atuação dos jesuítas, que são caricaturados na figura do padre Balda. Obra feita para agradar ao Marquês de Pombal (ministro do rei D. José I, defensor de ideias iluministas, responsável pela expulsão dos jesuítas não só do Brasil, mas também de todo reino português), este poema coloca os jesuítas como vilões e os índios como heróis ingênuos, isto é, manipulados pelos padres, mas cheios de grandeza.


A narrativa é entremeada pelas visões de Lindóia: grandes feitos de Pombal reconstruindo Lisboa destruída por um terremoto e expulsando o reino os jesuítas. Embora o tema fosse um capítulo da longa resistência indígena em nosso território, ele foi explorado com objetivo laudatório (que encerra louvor) e político. Culpando os jesuítas por incitar os índios à guerra, ele se punha ao lado dos colonizadores. Tem, contudo, momentos brilhantes, descrevendo o índio como grande guerreiro e apresentando nossa exuberante paisagem.


Embora apresente a divisão tradicional em preposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo, quebra essa estrutura ao iniciar o poema pela narração:


´´Fumam ainda nas desertas praias

Lagos de sangue tépidos, e impuros,

Em que ondeiam cadáveres despidos,

Pasto de corvos. Dura inda nos vales

O rouco som da irada artilharia.``


Diferentemente do que ocorre nas epopéias tradicionais, a invocação e a proposição (assunto do poema) eclodir-se-ão somente a partir do sexto verso:


´´MUSA, honremos o Herói que o povo rude

Subjugou do Uraguai, e no seu sangue

Dos decretos reais lavou a afronta

Ai tanto custas, ambição de império!``


E a dedicatória do décimo ao vigésimo verso:


´´E Vós, por quem O Maranhão pendura

Rotas cadeias e grilhões pesados.

Herói e irmão de heróis, saudosa e triste

Se ao longe a vossa América vos lembra,

Protegei os meus versos. Possa entanto

Acostumar ao vôo as novas asas

Em que um dia vos leve. Desta sorte

Medrosa deixa o ninho a vez primeira

Águia, que depois foge à humilde terra

E vai ver de mais perto no ar vazio

O espaço azul, onde não chega o raio.``


O Uruguai foi dedicado ao “Ilmo. e Exmo. Sr.Francisco Xavier de Mendonça Furtado”, mas o livro curiosamente se inicia com um soneto dedicado ao seu irmão, o Marquês de Pombal.


As principais personagens de "O Uraguai" são: o padre Balda (administrador de Sete Povos das Missões), o vilão, jesuíta devidamente caricaturado, que tem um filho sacrílego, Baldeta; a heroína Lindóia; o português Gomes Freire de Andrade (chefe das tropas portuguesas) e os indígenas Cepé, Cacambo e Tatu-Guaçu, Caitutu (irmão de Lindóia) e Tanajura (indígena feiticeira), a vidente. Esse poema levou Basílio da Gama a ser membro da Academia Real das Ciências de Lisboa.


A luta travada por portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas é narrada por Basílio da Gama desde os preparativos até a conclusão. Os cantos apresentam esta sequência de fatos:


Canto I: descrição da formação das tropas aliadas e da resistência dos padres.


Canto II: As tropas aliadas avançam contra o inimigo. Diálogo entre os caciques Cepé e Cacambo e o herói Gomes Freire de Andrade, à margem do rio Uruguai, tornando-se nítida a diferença de cultura entre o indígena e o civilizado. O acordo é impossível porque os jesuítas portugueses se negavam a aceitar a nacionalidade espanhola. Ocorre então o combate entre os índios e as tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas armas de fogo dos europeus. Cepé morre em combate. Cacambo comanda a retirada.


Canto III: O General acampa às margens de um rio. Do outro lado, Cacambo descansa e sonha com o espírito de Cepê. Este o incita a incendiar o acampamento inimigo. Cacambo atravessa o rio e provoca o incêndio. Depois, regressa para a sede. Surge Lindóia. A mando de Balda, prendem Cacambo e o matam por envenenamento. Balda é o vilão da história, que deseja tornar seu filho Baldeta, cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte crítica aos jesuítas. Tanajura propicia visões a Lindóia: a índia “vê” o terremoto de Lisboa, a reconstituição da cidade pelo Marquês de Pombal e a expulsão dos jesuítas. Também lhe é revelada a morte de Cacambo, o que causa profunda comoção.


Canto IV: Descreve o avanço das tropas aliadas e a preparação do casamento de Baldeta e Lindóia. A índia prefere a morte. Suicida-se, deixando-se picar por uma serpente venenosa pela fidelidade amorosa a Cacambo e para fugir da desonra. Sabendo da aproximação das forças aliadas, os indígenas abandonaram o aldeamento, ateando-lhe fogo. O exército entra no templo.


Canto V: Descrição do Templo. Perseguição aos índios. Prisão de Balda. O poeta dá por encerrada a tarefa e despede-se. Expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas, colocando-os como responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso-espanholas. Eram opiniões que agradavam ao Marquês de Pombal, o todo-poderoso ministro de D. José I. Nesse mesmo canto ainda aparece a homenagem ao general Gomes Freire de Andrade que respeita e protege os índios sobreviventes.


O trecho mais famoso desse poema é A morte da índia Lindóia, no Canto IV, uma espécie de pausa lírica no movimento narrativo da epopéia. . De todas as heroínas épicas, que foram mortas por amor, na linha de Inês de Castro, só a ela, por antecipação, a morte lhe roubara o ser amado. Em função disso, a indígena preferiu morrer, deixando-se picar por uma serpente, a casar-se com o inimigo:


´´Parte de antigo bosque, escuro, e negro,

Onde ao pé de uma lapa cavernosa

Cobre uma rouca fonte, que murmura,

Curva latada de jasmins, e rosas.

Este lugar delicioso, e triste,

Cansada de viver, tinha escolhido

Para morrer a mísera Lindóia.

Lá reclinada, como que dormia,

Na branda relva, e nas mimosas flores,

Tinha a face na mão, e a mão no tronco

De um fúnebre cipreste, que espalhava

Melancólica sombra. Mais de perto

Descobrem que se enrola no seu corpo

Verde serpente, e lhe passeia, e cinge

Pescoço, e braços, e lhe lambe o seio.``


Há, nos versos acima apresentados, ao lado da adjetivação elegíaca (observar a anteposição do adjetivo: hipérbato), a sugerir sempre a presença da morte (escuro, negro, cavernoso, triste, fúnebre, melancólico), antíteses, harmoniosas e sugestivas (morrer, contrastando com cansada de viver).A impressão de horror diante do trágico pelos polissíndetos com efeito acumulativo confere dignidade e beleza a esse texto de grandeza comovedora. Embora haja o envolvimento de Lindóia com a natureza, é preciso observar que esta difere do ambiente bucólico árcade. No fragmento em estudo, percebe-se a existência de uma natureza sombria, triste e escura; para os árcades a natureza é campestre, simples e pastoril.


´´Fogem de a ver assim, sobressaltados,

E param cheios de temor ao longe;

E nem se atrevem a chamá-la, e temem

Que desperte assustada, e irrite o monstro,

E fuja, e quem apresse no fugir a mortes

Porém o destro Caitutu, que treme

Do perigo da irmã, sem mais demora

Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes

Soltar o tiro, e vacilou três vezes

Entre a ira e o temor. Enfim sacode

O arco faz voar a aguda seta,

Que toca o peito da Lindóia, e fere

A serpente na testa, e a boca e os dentes

Deixou cravados no vizinho tronco.

Açouta o campo côa ligeira cauda

O irado monstro, e em tortuosos giros

Se enrosca no cipreste, e verte envolto

Em negro sangue o lívido veneno.``


E tão nobre é a sua condição humana, que o irmão dela (Caitutu, chefe guerreiro), numa figura clássica, três vezes vacila entre a ira e o temor, para afinal vibrar a seta que vai deixar no tronco vizinho a boca e os dentes da serpente, sem tocar o peito da irmã. Mas ela já estava morta, sendo esta a novidade surpreendente do episódio.


´´Leva nos braços a infeliz Lindóia

O desgraçado irmão, que ao despertá-la

Conhece, com que dor! no frio rosto

Os sinais do veneno, e vê ferido

Pelo dente sutil o brando peito.

Os olhos, em que Amor reinava, um dia,

Cheios de morte; e muda aquela língua,

Que ao surdo vento, aos ecos tantas vezes

Cotou a larga história de seus males.

Nos olhos Caitutú não sofre o pranto,

E rompe em profundíssimos suspiros,

Lendo na testa da fronteira gruta

De sua mão já trêmula gravado

O alheio crime, e a voluntária morte.

E por todas as partes repetido

O suspirado nome de Cacambo.

Inda conserva o pálido semblante

Um não sei quê de magoado, e triste,

Que os corações mais duros enternece.

Tanto era bela no seu rosto a morte!``


O trecho dado é o segmento final do episódio do suicídio de Lindóia. Como se vê, há a ideologia subjacente do ´´bom selvagem`` (´´O homem nasce bom. A sociedade o corrompe``, de Rousseau) e a idealização da mulher e da pureza de seu amor. Os jesuítas são os vilões em O Uruguai. Essa exaltação do amor, que leva a atitudes extremas como a morte, o morrer de e por amor, pode ser considerada uma característica pré-romântica no poema de Basílio da Gama. . O verso final: ´´Tanto era bela no seu rosto a morte``, exprimindo a beleza da heroína, mesmo depois de morta, é um dos mais expressivos do poema.


Um comentário:

  1. basilio da gama é um otimo poeta seu trabalho é conhecido por geraçoes suas poesias dao criatibilidades e ispiraçoes para os nossos trabalho
    Me siga no twitter lá tem muitas poesias de basilio da gama
    LETICIAP@HOTMAIL.COM
    OBRIGADA

    ResponderExcluir